“Talvez a preocupação com o progresso tecnológico tenha eclipsado nossa preocupação com o progresso humano.”
Wynton Marsalis: trompetista e compositor estadunidense.
O poder de um governo, que precisa necessariamente fazer cumprir suas determinações, está alicerçado na coação e na ameaça de punição.
No exercício do seu poder, o governo gera resistência daqueles que tentam escapar de suas ações, configurando, cada ato de resistência bem sucedido, uma amostra de fraqueza governamental.
Para, então, diminuir a resistência e, consequentemente, mostrar-se mais forte, o governo precisa que seus atos sejam cada vez mais eficazes, dedicando-se quase inteiramente a buscar instrumentos que lhe auxiliem nessa missão.
Se um instrumento que lhe permite atuar com mais eficácia estiver disponível, o governo não utilizá-lo seria como abrir mão de seu próprio poder, como que negando sua própria natureza.
Por isso, toda tecnologia torna-se automaticamente, no momento que está disponível, uma virtual arma na mão do governo, que apenas não a utilizará se isso, de alguma maneira, lhe for inconveniente.
Um governo democrático tem de obedecer a lei e depende de votos e isso pode fazer com que não lhe seja conveniente usar de toda a tecnologia disponível, já um governo ditatorial, que não depende de votos, nem precisa seguir a lei, não tem essa limitação. Não por acaso, o governo comunista chinês é o mais adiantado no uso da tecnologia contra o seu próprio povo.
Entendem por que tecnologia e poder estão intrinsecamente conectados? Toda tecnologia insinua-se para o governo, como que pedindo para ser usada por ele.
Por isso, apesar de gostar de tecnologia, não me empolgo com ela. Pelo contrário, toda vez que me deparo com uma invenção, logo me pergunto como o governo vai usá-la para suprimir, ainda mais, minha liberdade. E, cedo ou tarde, ele acaba fazendo exatamente isso.
Por Fabio Blanco.
Publicado no website do autor em 26 de dezembro de 2021.
Nota da editoria:
Imagem de capa: “Man and Computer” (2011), por Paulus Hoffman.