Margaret Sanger: doente sexual e ícone do feminismo

Obra "Les Demoiselles d'Avignon" (1907), por Pablo Ruiz Picasso (1881 - 1973);

O mais misericordioso que uma família numerosa pode fazer com um de seus membros pequenos é matá-lo.
Margaret Sanger (1879 — 1966), eugenista, abortista e ídolo do movimento feminista.



Nada do que acontece nestes tempos distópicos é casual. No tema do gênero – um dos pilares da NOM – e suas diversas ramificações, que se fundamentam no ódio ao homem, na inversão dos valores, na aversão à família, aos não nascidos e ao que quer que se relacione à tradição e ao humanismo cristão da sociedade ocidental, tudo foi cuidadosamente programado, louvando-se personagens mentalmente instáveis para criar a corrente contranatura que haveria de impor-se – por lei – nas duas primeiras décadas deste século pelas mãos de políticos desmiolados e amorais, a fim de se estabelecer um paradigma involutivo e trans-humanista.

Os personagens aos quais me refiro foram elevados e financiados pelos predecessores dos que hoje ditam todo tipo de normas para sustentar suas estratégias, baseadas em falácias científicas como a do gênero, já citada, das pandemias ou das mudanças climáticas. Entre as figuras que influenciaram o novo paradigma moral que daria lugar à atual Cultura da Morte há que se destacar Margaret Sanger, Margaret Mead, Alfred Kinsey e David Gamble. Estes foram criando o caldo de cultivo propício a que ideias extravagantes, devidamente adornadas, fossem aceitas pelo grande público. Do ponto de vista pessoal, todos eles protagonizaram vidas desastrosas. No entanto, são ícones dos ideólogos da nova sociedade que se está impondo, e se buscarmos no Google, aparecerão posicionados nos primeiros lugares como heróis e heroínas criadores de paraísos.

Conhecer a personalidade de Margaret Sanger é fundamental para compreender a situação de atual legalidade do aborto no mundo, dado que a implantação da mal chamada “saúde reprodutiva”, que tanto a ONU – assessorada pela International Planned Parenthood (IPPF) – como quase todos os governos pautaram como objetivo, teve seu germe nas projeções e na amargura desta mulher norte-americana nascida em 1879.

Capa da obra “Déjame nacer. El aborto no es un derecho”, de Magdalena del Amo. Editora La Regla de Oro Ediciones. Madri, 2009.Os traços de inconformismo patológico de sua personalidade deixam ver seus traumas de infância e adolescência, que, mais do que à falta de fartura econômica, que ela culpava, se deviam a carências afetivas. Para ela, seus nove irmãos haviam sido um grande obstáculo e os culpados de que lhe faltasse o necessário. Via outras famílias, com menos filhos, que viviam melhor e lhe pareciam rir mais e ser mais felizes. Sua mente de criança começou, então, a formar dois arquétipos: família com muitos filhos é igual a família pobre, infeliz e triste; família com poucos filhos é igual a família que vive sem privações, feliz e alegre. A própria Sanger declararia que, para ela, a distinção entre felicidade e infelicidade apoiava-se, mais do que em pobreza e riqueza, em famílias grandes ou pequenas. Alguns anos depois, essa dedução seria por ela elevada a nível de axioma, com a implantação das políticas de planejamento familiar.

Seu pai era inimigo de todo tipo de religião e havia proibido que seus filhos recebessem ensino religioso. Essa influência contribuiu ao seu posterior materialismo, que haveria de aprofundar-se quando se casou com seu primeiro marido, William Sanger, um arquiteto anarquista e ainda mais anti-religioso do que seu pai.

Deste matrimônio nasceram três bebês. Desconhecemos se realizou algum aborto, ainda que conste em sua biografia que manteve relações sexuais durante seu tempo de estudos secundários. Fazemos alusão a isto porque seu comportamento com as crianças deixa ver uma das consequências da síndrome pós-aborto: a negligência no cuidado dos filhos. Sua biografia diz que a vida doméstica e os filhos lhe aborreciam, e que ainda que gostasse de beijá-los e abraçá-los, quando tinha que se ocupar deles “afirmava sofrer um ataque de uma misteriosa ‘enfermidade nervosa’ e se agarrava à primeira oportunidade de sair de casa”. “Mamãe raramente se encontrava em casa. Se limitava a deixar-nos com qualquer um que estivesse por perto e ia correndo não sabemos para onde”, diria, anos depois, seu filho Grant1.

Sanger participava de reuniões sobre socialismo radical, eugenia e “sexo livre”. Este último não era apenas matéria de discussão, mas ela também o praticava. Sanger tornou-se uma de suas grandes defensoras – na teoria e na prática –, o que levou à ruptura de seu casamento.

As informações que sua biografia nos fornece delineiam um problema de adição sexual grave, talvez buscando essa afetividade que nunca teve, na infância. Sua voracidade sexual era tal que se viu obrigada a elaborar a “teoria evolutiva da criação do gênio” para justificar seu desajuste. A implantação do “sexo em liberdade” como meio para se obter o paraíso na terra se transformou no esforço de sua vida. Seus ícones foram seu amante Havellock Ellis, a quem chamava “Rei”, e Emma Goldman, ambos promotores do sexo livre.

Era partidária da eugenia para eliminar o que ela chamava “o mais débil da sociedade”. Trechos como este revelam, sem subterfúgios, o seu pensamento:

“Na história primitiva da raça, a chamada ‘lei natural’ reinava sem interferência. Sob sua cruel regra de ferro, apenas os mais fortes e valentes podiam viver e converter-se em progenitores da raça. Os débeis ou morriam prematuramente ou se os eliminava. Hoje, porém, a civilização oferece compaixão, pena, ternura e outros sentimentos elevados e dignos que interferem na lei da seleção natural. Nos encontramos em uma situação em que nossas instituições beneficentes, nossos atos de compensação, nossas pensões, nossos hospitais, inclusive nossas infraestruturas básicas, tendem a manter vivos os doentes e os débeis, aos quais é permitido que se propaguem e, assim, produzam uma raça de degenerados”2.

Quando foi visitar Hitler para lhe propor suas ideias de criar a super-raça, premiando os casais selecionados que tivessem muitos filhos, este ficou encantado.

Margaret Sanger proclamava a superioridade da raça anglo-saxã, à qual pertencia. Considerava inferiores aos latinos, negros e judeus. Um de seus lemas era “controle de natalidade: criar uma raça de puros-sangues”, que depois foi substituído por algo menos forte: “Bebês por opção, não por azar”. Essas teorias que Margaret Sanger começou a publicar no início do século XIX não apenas tomaram corpo, mas foram já superadas. Hoje, a manipulação de embriões para trazer ao mundo filhos sem defeitos, sacrificando o resto dos embriões fecundados, é um fato.

Todavia, para os pobres, negros e hispanos havia reservado outras medidas. Sugeriu a políticos que os governos esterilizassem as mulheres, em troca de donativos. Em seu tempo, isso não foi aceito, mas, atualmente, essas políticas estão sendo aplicadas em vários países da América Espanhola, Ásia e África, através da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O objetivo de dizimar essas raças sempre esteve na agenda dos populacionistas.

Para Sanger, a sociedade estava abarrotada de imbecis, cuja excessiva fertilidade fazia com que se perpetuassem os defeituosos, delinquentes e dependentes. Margaret Sanger não ocultava seu racismo. Era favorável a que se utilizasse métodos espartanos e quaisquer outros que levassem à esterilização dos indivíduos “idiotas”, de modo a evitar que procriassem.

Estátua de DarwinAo falar de eugenia, nos vem à mente a Alemanha do Terceiro Reich, mas a eliminação dos débeis foi sempre um velho sonho dos eugenistas anteriores a Sanger, como Galton ou o próprio Darwin, todos sob grande influência de Malthus. Por outro lado, a eugenia era aceita, antes da Segunda Guerra Mundial, como necessária à saúde racial.

A obsessão de Sanger pelo controle de natalidade a levou a fundar, em 1916, em Nova York, a primeira clínica para o controle de nascimentos, e a criar a National Birth Control League (Liga Nacional para o Controle de Natalidade), que após mudar de nome por diversas vezes, aterrissou na atual Planned Parenthood Federation of America (Federação Americana de Planejamento Familiar), que deu lugar, em 1942, à IPPF, a maior promotora do aborto no mundo, que também vê com muito bons olhos a eugenia. De fato, foi a mais firme defensora do diagnóstico pré-natal para as grávidas com risco de ter bebês com deficiência. A IPPF foi criada com fundos da “Fundação Brush” e estabeleceu sua sede principal em Londres.

Antes da Segunda Guerra Mundial, vários conselheiros da Planned Parenthood eram também conselheiros da American Eugenics Society (Associação Americana de Eugenia); por isso, após a guerra se viram obrigados a mudar de nome, para que não fossem relacionados aos nazistas.

Sanger viajou à Índia e tentou convencer Mahatma Gandhi a apoiá-la. Este lhe respondeu que “as ajudas artificiais [anticoncepcionais] conduzem à satisfação imoderada dos desejos e são, portanto, desmoralizadoras e debilitantes”. A ideia do libertador sobre o autocontrole nada tinha que ver com a prática do sexo descontrolado de Sanger. Hitler, porém, havia se deslumbrado com a ideia de premiar aos melhores da raça para que procriassem, criando assim uma raça de super-homens.

Em seu livro Women and the New Race (“As mulheres e a nova raça”), Sanger escreveu: “O mais misericordioso que uma família numerosa pode fazer com um de seus membros pequenos é matá-lo”3.

Definitivamente, o aborto é hoje promovido no mundo pela IPPF, organização resultante das propostas delirantes de um ser que não é exemplo de nada para ninguém. Sua voracidade sexual esteve incluída até pouco tempo no manual de patologias DSM-IV como ninfomania (até a chegada da imundície decadente e vermelha que tem invadido e apodrecido as instituições)..

Margaret Sanger se casou várias vezes e teve dezenas de amantes. Quando deixou de ser atrativa para o sexo oposto, passou a comprar a companhia de garotos jovens. Ia de festa em festa para aliviar sua solidão, mas como já ninguém lhe fazia caso, recorreu ao álcool. Vagava bêbada durante a noite e teve que ser internada em uma clínica até o fim de seus dias, em setembro de 1966, aos 87 anos.

Enquanto escrevemos tudo isso, move-nos um sentimento ambivalente de pena e raiva. Pena porque a pobre mulher era uma doente e, portanto, digna de lástima e de ser tratada por profissionais. Raiva porque as ideias que fizeram desta mulher um trapo humano são o paradigma da liberalização feminista e estão se impondo em todo o mundo sob as ditaduras progressistas.


Por Magdalena del Amo.
Traduzido por Daniel Marcondes.

Excerto da obra Déjame nacer. El aborto no es un derecho, de Magdalena del Amo.
Editora La Regla de Oro Ediciones. Madri, 2009.


Notas:

  1. Margaret Sanger. The Pivot of Civilization. Nova York: Maxwell Reprint Company, 1969, p. 237, citado em Donald de Marco e Benjamin D. Wiker, Arquitectos de la cultura de la muerte, p. 264. Subir
  2. Margaret Sanger. Birth Control and Women’s Health, em “Birth Control Review”, I, n. 12, dezembro de 1917, 7. Subir
  3. Margaret Sanger. Women and the New Race. Nova York: Brentano’s, 1920. Reimpr.: Geo. W. Halter, 1928, p. 67. Subir

Nota da editoria:

Imagem da capa: “Les Demoiselles d’Avignon” (1907), por Pablo Picasso (1881 – 1973).


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Lindalva Teixeira da Silva

Texto excelente. Completo e objetivo.

Milena

Excelente!

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