“Tendo olhos, não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis?”
Mc 8,18
Não, eu não acredito em conselhos.
Eu somente acredito em olhos, nos meus olhos,
os olhos que Deus me deu e, ao dá-los, disse: “Olha!”.
“Olha e vê, que Eu sou perfeito,
e não duvide, não tem jeito…
não há modo de duvidar,
porque tudo que foi feito, Eu pretendo lhe mostrar.
A cada manhã que acordares, abertos como janelas,
feito um par de sentinelas, infalíveis a lembrar
que não importa tua idade, se já foi a mocidade,
ainda é tempo de acordar.
Não falta sinceridade Àquele que te faz olhar.
Olha
para a realidade. Nada pode te escapar.
Se o mundo perde a razão, muda o sentido da verdade,
ainda lhe resta a visão que preserva a sanidade.
Olha.
Se a árvore lhe diz que é poste,
ou a doença se disfarça em morte,
não há por que se enganar.
Tu ainda tens a sorte de poder olhar pra vida
e realmente a enxergar.
Olha.
Entre o ‘ver’ e o ‘ouvir dizer’, é tão fácil de escolher;
como podes rejeitar o natural do próprio ser?
Olha!”
Eu, que nunca fui pagão, me sinto na obrigação de fazer por merecer.
Pelo dom que me foi dado, por tudo que é mais sagrado,
eu rejeito este pecado de ter olhos e não ver.
Por Douglas Alfini Jr.
Douglas é escritor, tendo como principais influências os clássicos do
romance e da literatura fantástica, bem como o cinema western.
A obra Crônicas do Invisível (2021) é seu livro de estreia.
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Closed Eyes” (1895), por Odilon Redon (1840 – 1916).