“Na era digital, o perigo não é que os computadores comecem a pensar como seres humanos,
mas sim que os seres humanos passem a pensar como computadores.“
Sydney J. Harris (1917 – 1986)
Evidente que estou pessimista!
A vida e seus resultados dependem da ação humana e as circunstâncias não são nada boas. São ciclos e, nesta direção, mantenho a esperança de que mais adiante eu possa ser surpreendido positivamente.
Vive-se na era da rejeição da verdade, das narrativas falaciosas, dos gatilhos, das emoções e dos estímulos curto-prazistas. Uma época de abissal sentimentalismo grosseiro.
Sou dos anos 60. Não me apego ao saudosismo, o mundo se transforma, porém, os nossos princípios-chave cerebrais levam séculos para serem alterados.
Acho que sou de um tempo em que prevalecia o pensar reflexivo, a razão. Claro, os estímulos e os incentivos no seio familiar e nas instituições nos impeliam com “sangue, suor e lágrimas” para a construção individual – e portanto, no todo – de um futuro mais saudável e promissor.
A ignorância – na correta acepção da palavra – e o emburrecimento, parecem-me transparentes.
Penso que uns 70% da população brasileira atua no piloto automático do sistema 1, dos sentimentos, tomando decisões baseadas nos comportamentos puramente instintivos.
No dia a dia, somos bombardeados de estímulos e informações, e nosso cérebro busca economizar esforços e maximizar a eficiência. Na verdade, esse gosta mesmo da “vida boa”, sendo necessário fazê-lo se exercitar de fato.
Os nossos “modernos” homens, mulheres e LGBTQIA+, por meio das transformações na família, e em razão dos incentivos tupiniquins de cabeça para baixo, desejam a “vida boa”, procrastinando com relação ao futuro, focados no curto-prazo, e nas falsas recompensas que lhe são apresentadas.
A vida é dura! Exige esforço, compromisso, sacrifício, constância de propósito e foco nos objetivos de longo prazo. O sucesso não chega por decreto, é uma jornada que precisa ser construída para se alcançar um “final feliz”.
Não é o que se vê — e o que não se vê — na atual Pindorama.
As gratificações e as recompensas de curto prazo são finalidades de desejos e de necessidades enganadoras, momentâneas e emocionais. Os grupos de pertencimento, por afinidades – as ideológicas são perversas -, que parecem enaltecer nossa identidade social, são muitas vezes singelas miragens de facilitadores do sucesso. Quando analisadas sobre as lentes do sistema 2, lógico, do pensamento racional, torna-se possível compreender e perceber a irracionalidade de muitos pensamentos, do agir meramente instintivo e, talvez, das escolhas de trilhas equivocadas.
Não somente a verdade se tornou desimportante, o conhecimento, além de ser parco em Macunaíma, passou a ser rejeitado.
A decadência é gritante, tanto no escasso nível de conhecimento exposto, como na questão moral.
Embora muita gente negligencie, os valores importam, e muito, em especial, sobre os resultados na educação e no ensino. Não se constrói caráter como antigamente…
Ligue a TV e constatarás o grau de baixeza de conteúdo, de pautas, de discussões e, de forma assustadora, da mentira escrachada e dos viesses ideológicos. Uma genuína celebração da ignorância, da hipocrisia e da ruína moral.
A grande maioria dos brasileiros enxerga com os olhos enevoados, e a razão da ignorância é singela.
O Estado grande pensa e decide por todos e, pior, a escassez de conhecimento e de discernimento, faz com que muitos aceitem essa nefasta circunstância.
Não há mais o essencial ser individual, pensante e crítico, definindo e trabalhando duro pelos seus próprios objetivos e planos de vida. Esse foi substituído pelo abstrato coletivo, sujeito às ordens e aos desejos espúrios ao qual esse “coletivo” está submetido.
Não há mais lei, liberdades individuais, e a capacidade de se pensar e dizer o que se quer.
Não se distingue mais o que é digno, verdadeiro e positivo, e tal incapacidade é gratificada por meio dos enganadores e “modernos” prazeres imediatos.
Sem querer ser saudosista, mas o meu tempo juvenil não era de tamanha ignorância, burrice, farsa e escuridão.
Escrito por Alex Pipkin, PhD.
Publicado originalmente no website de Percival Puggina, em 14 de julho de 2023.
Notas da editoria:
Imagem de capa “Tatlin at home” (1920), por Raoul Hausmann (1886 – 1971).