“É preciso ter espirito para falar bem; para ouvir bem basta a inteligência.”,
André Gide (1869 – 1951): escritor francês.
Se alguém lhe dissesse: “Tenho uma ideia que vai simplesmente revolucionar a sua capacidade de identificar de maneira rápida e segura as afirmações e filosofias falsas que permeiam a nossa cultura”, você ficaria interessado? É isso o que estamos prestes a fazer aqui. De fato, se tivéssemos de eleger uma habilidade mental como a mais valiosa que tivéssemos aprendido em nossos muitos anos de comparecimento a seminários e cursos de pós-graduação, seria esta: como identificar e refutar afirmações que são falsas em si mesmas. Um incidente ocorrido recentemente num programa de entrevistas de rádio vai demonstrar o que queremos dizer com afirmações falsas em si mesmas.
Jerry, o liberal apresentador daquele programa, estava recebendo chamadas telefônicas sobre o assunto da moralidade. Depois de ouvir vários participantes pelo telefone afirmarem ousadamente que determinada posição moral era correta, um dos participantes interrompeu: “Jerry! Jerry! Não existe esse negócio de verdade!“.
Eu [Frank] corri para o telefone e comecei a discar freneticamente. Ocupado.
Ocupado. Ocupado. Queria entrar e dizer: “Jerry! E quanto àquele cara que disse ‘Não existe esse negócio de verdade‘ — isso é verdade?”.
Não consegui completar a ligação. É claro que Jerry concordou com o ouvinte, sem jamais perceber que sua afirmação não poderia ser verdadeira — porque era uma afirmação falsa em si mesma.
Uma afirmação falsa em si mesma é aquela que não satisfaz o seu próprio padrão. Como temos certeza que você sabe, a afirmação do ouvinte — “Não existe verdade” — pretende ser verdadeira e, portanto, derrota a si mesma. É como se um estrangeiro dissesse: “Eu não consigo falar uma palavra sequer em português”. Se alguém dissesse isso, você obviamente responderia: “Espere um minuto! Sua afirmação é falsa porque você acabou de falar em português!”.
Afirmações falsas em si mesmas são feitas rotineiramente em nossa cultura pós-moderna, e, uma vez que você tenha uma capacidade aguçada de detectá-las, se tornará um defensor absolutamente intrépido da verdade. Sem dúvida, você já ouviu pessoas dizerem coisas como “Toda verdade é relativa!” e “Não existem absolutos!”. Agora você estará armado para refutar tais afirmações tolas simplesmente revelando que elas não satisfazem os seus próprios critérios. Em outras palavras, ao lançar uma afirmação falsa em si mesma contra ela própria, você pode expô-la pela falta de sentido que demonstra.
Ao processo de confrontar uma afirmação falsa em si mesma com ela própria, damos o nome de “tática do Papa-léguas”, porque ela nos lembra os personagens de desenho animado Papa-léguas e Coiote. Como você deve se lembrar das sessões de desenhos animados da TV; o único objetivo do Coiote é caçar o veloz Papa-léguas para transformá-lo em sua refeição. Mas o Papa-léguas é simplesmente rápido e esperto demais. Quando o Coiote está prestes a agarrá-lo, o Papa-léguas simplesmente para instantaneamente na beira do abismo, deixando que o Coiote passe de lado e fique temporariamente suspenso no ar, apoiado em nada. Tão logo o Coiote percebe que não tem um chão no qual se firmar, cai verticalmente rumo ao fundo do vale e arrebenta-se todo.
Bem, é exatamente isso o que a tática do Papa-léguas pode fazer com os relativistas e os pós-modernistas de nossos dias. Ela nos ajuda a perceber que seus argumentos não podem sustentar seu próprio peso. Consequentemente, eles se estatelam no chão. Isso faz você parecer um supergênio! Vamos levar a tática do Papa-léguas à universidade para mostrar-lhe o que queremos dizer com tudo isso.
O Papa-léguas vai à universidade
A tática do Papa-léguas é especialmente necessária aos estudantes universitários de hoje. Por quê? Porque muitos de nossos professores universitários vão dizer que não existe verdade. O que nos surpreende é que os pais ao redor do mundo estão literalmente pagando muito dinheiro em educação universitária para que seus filhos aprendam que a “verdade” é que não existe verdade, isso sem falar de outras afirmações pós-modernas falsas em si mesmas, como “Toda a verdade é relativa’ (essa verdade é relativa?); “Não existem absolutos” (você está absolutamente certo disso?) e “É verdade para você, mas não é verdade para mim!” (essa afirmação é verdadeira apenas para você ou para todo o mundo?). “É verdade para você, mas não é para mim” pode ser o mantra de nossos dias, mas o mundo não funciona realmente assim. Tente dizer isso ao caixa do banco, à polícia ou à Receita Federal e você verá até onde vai!
Naturalmente esses mantras modernos são mentirosos porque são afirmações falsas em si mesmas. Mas temos algumas perguntas para aqueles que ainda acreditam cegamente neles: se realmente não existe verdade, então por que tentar aprender alguma coisa? Por que um aluno deveria dar ouvidos a um professor? Afinal, o professor não tem a verdade. Qual é o objetivo de ir à escola, quanto mais de pagar por ela? Qual é o objetivo de obedecer às proibições morais de um professor quanto a colar nas provas ou plagiar trabalhos de outras pessoas?
As ideias têm consequências. Boas ideias têm boas consequências e más ideias têm más consequências. O fato é que muitos alunos percebem as implicações dessas más ideias pós-modernas e comportam-se de acordo com elas. Se ensinarmos aos alunos que não, existe certo ou errado, por que deveríamos nos surpreender com o fato de um grupo de alunos atirar em seus colegas de classe ou de ver uma mãe adolescente abandonando o filho numa lata de lixo? Por que eles deveriam agir da maneira “certa” quando nós ensinamos que não existe essa coisa de “certo”?
C. S. Lewis revelou o absurdo de se esperar virtude de pessoas a quem foi ensinado que não existe virtude:
Num tipo de simplicidade assustadora, removemos o órgão e exigimos a função. Fazemos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Rimos da verdade e ficamos chocados ao encontrarmos traidores em nosso meio. Castramos e esperamos que o castrado seja reprodutor.
A verdade disso tudo é a seguinte: ideias falsas sobre a verdade levam a falsas ideias sobre a vida. Em muitos casos, essas falsas ideias dão aparente justificativa para aquilo que é, na verdade, um comportamento imoral. Se você puder matar o conceito de verdade, então poderá matar o conceito de qualquer religião ou moralidade verdadeiras. Muitas pessoas de nossa cultura têm tentado fazer isso, e os últimos 40 anos de declínio moral e religioso demonstram seu sucesso. Infelizmente, as devastadoras consequências de seus esforços não são apenas verdade para eles, mas também para todos nós .
Portanto, a verdade existe. Ela não pode ser negada. Aqueles que negam a verdade fazem a afirmação falsa em si mesma de que não existe verdade. Nesse aspecto, eles são muito semelhantes ao Ursinho Puff: respondem a uma batida na porta dizendo “não há ninguém em casa!“.
Extraído do livro “Não tenho fé suficiente para ser ateu”. Publicado pela Editora Vida, sob ISBN: 978-8573679281.
Escrito por: Norman L. Geisler (1932 – 2019) e Frank Turek. Traduzido por Emirson Justino.