“Mais ainda: virá a hora em que aquele que vos matar julgará realizar ato de culto a Deus.
E isso farão porque não reconheceram o Pai nem a mim.” Jo 16,2-3.
Os católicos e Olavo de Carvalho – por Léa Nilse Mesquita
Há dias, alguns amigos reproduziram em suas páginas uma postagem de gente católica a combinar a morte de Olavo de Carvalho. Lendo a matéria, vi logo que a tosqueira dessa gente ia muito além de dar ares de defesa da instituição católica à sua repulsa pessoal ao nosso amado filósofo. Vejam só, um dos mandantes do assassinato, em resposta à reação contrária despertada pela publicação nos meios católicos, defendeu-se apelando para a Inquisição. Pois é, o cara propõe a morte de alguém que considera infiel à Igreja. Ao justificar seu ato, apela a um fato histórico, a Inquisição, só que apresenta esse fato pelos olhos dos inimigos da Igreja, aqueles que espalharam que a Inquisição promovia um verdadeiro morticínio de adversários da Igreja sem que a esses fosse dada a chance de um processo com acusação e defesa, do qual a maioria saía absolvida. Só que, por fatal ironia para essa gente tosca, Olavo de Carvalho, entre nós, é a pessoa que mais vi dedicar-se a provar o quanto não passa de calúnia e difamação a história dos que apresentam a Inquisição sob as tintas da “lenda negra”, toda ela construída por invencionices de protestantes, das quais os bobos dos acusadores de Olavo, em nome da Igreja, agora se aproveitavam para condená-lo sumariamente, no exato instante em que ele pisava o solo brasileiro ao qual voltava depois de quinze anos para tratar-se.
Mas não estou aqui com intuito de polemizar com essa gente que, vira e mexe, em tudo que apresenta, diz falar em nome da Igreja, em defesa dela. Estou aqui porque, no mesmo instante que a postagem referida apareceu em meu feed, recebi inbox o testemunho de uma jovem católica, Fernanda Marques Lisboa, sobre a importância de Olavo de Carvalho em sua vida, inclusive para a sua redescoberta da Igreja Católica. Já vi dezenas de testemunhos semelhantes a esse nas redes, o que me deixa certa de que, para cada católico que faz de sua vida uma incessante denúncia contra Olavo, existem pelo menos uns dez que atestam sua dívida a ele em seu reencontro profundo com a Igreja.
Abaixo, transcrevo o texto da Fernanda que recebi. Faço-o na esperança de que outros testemunhos apareçam. Neste momento em que nosso filósofo volta ao Brasil, essa manifestação de reconhecimento a ele significaria a expressão de quem prefere, de coração, amar aos fortes de alma nobre a feri-los nos calcanhares, como fazem os anões de que fala Olavo Bilac no soneto “Os Goiasis” que aqui transcrevi dias atrás.
Testemunho de Fernanda Marques Lisboa
No início do inverno de 2016, eu havia comprado numa livraria o livro do poeta Adrilles Jorge e reparei no elogio a ele escrito pelo Olavo de Carvalho, sobre quem eu sabia quase nada. Saí de uma formação acadêmica em Letras cheia de dúvidas e com uma insatisfação enorme com as ideias que nos foram passadas de alguns teóricos, com as quais eu não conseguia concordar.
Fui pesquisar sobre o Olavo de Carvalho, descobri o Seminário Online de Filosofia e imediatamente fiz a minha inscrição. Acordava às cinco da manhã, descia com o meu pontual cachorro e parava para assistir às aulas com fone de ouvido por algumas horas, com total concentração e tomando notas num caderno de capa marrom. A clareza com a qual o Professor Olavo transmitia os seus ensinamentos logo me cativou! Eu desde criança pensava em questões existenciais, mas não havia quem me orientasse, além do meu falecido pai, que também foi importantíssimo para a minha vida. Com o Professor Olavo, eu realmente quis conhecer a verdade sobre a Igreja Católica. Descobri que o que haviam me contado sobre Ela na escola, na rua, através de filmes, livros, jornais e programas de televisão eram engodos. Ele despertou em mim uma vontade imensa que me abrasou e me fez ver um belo clarão. Sinto-me muito grata por Deus ter sido piedoso comigo e ter posto na minha vida essa oportunidade de ser uma pessoa melhor e que busca o céu para mim e para todas as almas que cruzaram o meu caminho.
O meu coração fica apertado quando o Professor fica doente porque eu tenho uma profunda ligação com ele, mesmo sem que ele saiba da minha existência. Estou em oração por ele e pela Dona Roxane.
Um grande abraço,
Fernanda Marques Lisboa
Os Goiasis (II) – Olavo Bilac
Ainda viveis, espíritos obscenos,
Como nos dias do Brasil inculto,
Na inteligência anãos, como no vulto;
Como no corpo, no moral pequenos.
Espremeis a impotência do ódio estulto
Em pérfidos esguichos de venenos.
Tendes baixeza em tudo: nem, ao menos,
Força na inveja e elevação no insulto!
Répteis humanos, no coleio dobre
De rastos babujais templos e lares;
Contra os bons, contra os fortes de alma nobre,
Línguas e dentes dardejais nos ares:
Mas só podeis ferir, na raiva pobre,
Em vez dos corações, os calcanhares.
Nota do editor:
A imagem de capa retrata uma gárgula da Catedral de Notre-Dame (Paris, França). O termo gárgula é originário da palavra francesa gargouille, que significa “garganta” ou “gargalo”. Na arquitetura gótica, são as partes mais salientes das calhas, servindo como desaguadouros e possibilitando o escoamento das águas pluviais a certa distância das paredes. Acredita-se que as gárgulas em formatos monstruosos eram colocadas nas catedrais medievais para indicar que o demônio nunca dorme, exigindo a vigilância contínua das pessoas, mesmo nos locais sagrados.