A definição do mal

Árvore em formato de rosto contendo um lado seco e outro saudável.

Excerto do tópico: “A definição do mal”, disponível na primeira parte da obra: “O mal e o sofrimento”,
escrita por Louis Lavelle (1883 – 1951). Publicado por É Realizações, sob ISBN: 978-85-8033-180-6.



É notável que jamais possamos definir o mal de maneira positiva. Não apenas ele entra num par de que o bem é o outro termo, como é impossível nomeá-lo sem evocar o bem de que ele é, precisamente, a privação. Há mais. Existem, ao que parece, formas muito numerosas de mal, e pode-se perder o bem de muitas maneiras, às quais se dá, no entanto, o mesmo nome.

Capa da obra: "O Mal e o Sofrimento", escrita por: Louis Lavelle (1883-1951). Publicado por É Realizações, sob ISBN: 978-85-8033-180-6.Segundo as palavras de um pensador da antiguidade, o bem tem caráter finito, ao passo que o mal tem caráter infinito. Reconhece-se aqui a concepção comum a todos os gregos de que o finito é o rematado e o perfeito, aquilo a que nada falta, ao passo que o infinito é o indeterminado, a desordem, o caos, aquilo que carece de tudo o que podia conferir-lhe um sentido e um valor, isto é, o ato de pensamento que permitiria organizá-lo, circunscrevê-lo e apropriar-se dele. Deixemos de lado essa oposição, que poderia ser contestada: ao menos é preciso reconhecer que todas as formas de bem convergem umas com as outras. Podemos multiplicar as virtudes e até opô-las entre elas, insistir na diversidade das vocações morais: no entanto, é próprio das virtudes produzir um acordo entre as diferentes potencias da consciência, enquanto o mal sempre se define como uma separação, como a ruptura de uma harmonia, seja no mesmo ser, seja entre todos os seres. É que toda a vontade malévola persegue fins isolados que, ao sacrificar o todo à parte, atentam contra a integridade do todo e ameaçam aniquilá-lo. Compreende-se, portanto, que existem inúmeras formas de mal, embora todas possuam o caráter comum de dividir e destruir, o que se pode observar no próprio interior de uma consciência, onde o mal provoca um dilaceramento interior, onde a própria perversidade nos concede um prazer amargo, e também nas relações mutuas entre as consciências que só buscam atacar e prejudicar umas às outras. O entendimento entre criminosos não é uma exceção a essa lei, se é verdade que ele é sempre precário se dirige contra o restante da humanidade. Na medida em que o entendimento é verdadeiro, ele emite o bem e constitui um esboço de uma sociedade moral. Sendo assim, se a solidariedade no bem não para de tornar, a um só tempo, mais complexa e mais estreita a unidade de cada ser ou a união entre diferente seres, a solidariedade no mal não pode perpetua-se indefinitivamente sem provocar muito arrependimento um desacordo, uma dissonância, que não deixa de nos opor tanto a nós mesmos como ao universo.


Extraído da obra: “O mal e o sofrimento”, escrita por: Louis Lavelle (1883-1951).
Publicado por É Realizações, sob ISBN: 978-85-8033-180-6.


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