“Quer fazer algo para promover a paz mundial? Vá para casa e ame sua família.”
Madre Tereza de Calcutá (1910 – 1997)
Guarda a ordem e a ordem te guardará (“Serva ordinem et ordo servabit te”). Um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar. A ordem traz tranquilidade. A “tranquilidade da ordem” é a paz.
Para que haja paz, deve haver ordem. Para que haja ordem na sociedade, é preciso que haja um ordenador, uma autoridade à qual todos prestem obediência. Como a sociedade é feita de famílias, convém que na esfera pública (o Estado) e na esfera privada (a família) haja alguém que imite nosso Pai Celeste, que alimenta as aves do céu, veste os lírios do campo (Mt 6,26-30), faz brilhar o sol sobre bons e maus e faz cair a chuva sobre justos e injustos (Mt 5,45). São Paulo dobra os joelhos diante do Pai “de quem toma o nome toda paternidade no céu e na terra” (Ef 3,14). Sobre a figura do pai, a quem cabe a função de governo na família e na sociedade, transcrevo parte de uma conferência proferida por Dra. Liliana Bittencourt no II Congresso da União Brasileira de Juristas Católicos (julho de 2022) intitulada: “Direito Natural e os problemas políticos no Brasil e no mundo”.
A política se faz no público e, no entanto, tem a contraparte na esfera privada. Tem-se nas famílias a fonte da sociedade, e para o pleno desenvolvimento dos indivíduos nelas integrados se desenrola o governo da sociedade.
À mesma figura, o pai de família, compete o zelo pelo lar e o zelo pela coisa pública. Pode-se dizer que o pai é o engate entre as duas ordens: privada e pública. Vindo a faltar sua figura, a ordem rui.
A paternidade comunica àqueles que tem sob seus cuidados o que é preciso para ler bem a realidade. É um seu atributo; para conduzir-se e aos seus, o pai precisa reconhecer a realidade; para educar os demais membros da família nas virtudes naturais é preciso que as tenha em si.
Os pensadores que professaram fórmulas de bloqueio à realidade também abriram outra frente e lançaram um ataque à paternidade. O homem que se encapsula em suas vontades é dirigido quase como um autômato por outros homens, ou por sistemas; teme perder os mimos com que está habituado: não tem em si as virtudes para ser o engate entre as ordens privada e pública. Na verdade, sem a figura paterna a ordem privada se dissolve, perde sua causa formal; desaparecem, em seguida, os chamados “grupos intermediários” e a ordem pública coalesce em um bloco único, totalitário.
Já para que haja lar, no entanto, é necessário também o elemento que inclina os membros à união; uma força centrípeta, que é a mãe.
A presença da mulher no lar é como o catalisador de uma reação que, na família, causa a união entre seus membros. Se ela se retira para o campo público, más consequências decorrem: a casa esfria e os rebentos encruam.
Então, como a casa construída em alvenaria, o lar tem no pai a estrutura sólida da arquitetura concretizada, e na mãe, o fogo que atrai todos ao seu redor.
Assim como o fogo participa da proteção dada pelo teto e pelas paredes, e nestas projeta imagens que encantam, e aquece o ar a sua volta, a mulher participa da segurança dada pela figura paterna, e irradia uma luminosidade própria para ensinar as coisas mais íntimas e inefáveis do serviço amoroso.
Quando os porta-estandartes da revolução avançaram contra a família, atacaram o seu coração, o centro do lar, e arrancaram-no do seu lugar natural. O homem, a essa altura, já estava atacado pela cegueira para o real a ponto de não conseguir opor resistência. Então já tinha estado mergulhado tempo demais na escuridão que chamava de luz: o racionalismo moderno.
E assim se extinguiram a vista do homem e a luz da mulher.
Ambos, homem e mulher, ao se retirarem dos seus afazeres próprios, violaram a lei divina positiva, e ficaram cegos ao Direito Natural. Por motivos mesquinhos, retiraram-se da vida prática, o que os põe ao nível das bestas-feras, como afirmou Aristóteles.
A inteligência humana é fecundada pelo real. Rompida essa união, o próprio homem fica à deriva.
No âmbito privado, e no âmbito público, é sentida a falta das entwives1 que foram se afastando, se afastando, e desapareceram.
Para se restaurar o sentido da vida política, somente há o caminho da restauração da família no lar, com observância da lei natural. É um drift back2, como sugere também Chesterton ao dizer que Quando homens chegam à beira de um precipício, é aquele que ama a vida que tem a presença de espírito de dar um salto para trás, e apenas o pessimista continua a acreditar no progresso.
Por Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz.
O autor é presidente da Associação Pró-Vida de Anápolis.
Notas:
- Na obra O Senhor dos Anéis, de Tolkien, há os “pastores de árvores”, seres inteligentes mas mais parecidos com árvores, embora se movam: são os Ents. As “mulheres” deles são as Entwives, mas elas desapareceram enquanto estavam longe de casa colhendo alguma coisa. E é um mistério. Por isso, os Ents são melancólicos e retirados.
- Deslizar de volta para algum ponto anterior.
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Outono” (1860 – 1862), por Anthony Frederick Augustus Sandys (1829 – 1904).