Encapsulando o analfabetismo e a soberba, mas com muita ironia

Recorte da obra: "Reading Boy", criada em 1863 pelo pintor estadunidense Eastman Johnson (1824 - 1906).

No Brasil é preciso explicar, desenhar, depois explicar o desenho e desenhar a explicação.”,
Olavo de Carvalho.



Estamos vendo uma horda de pessoas escrevendo “contém ironia” ao final de uma publicação, para deixar bem claro que estão sendo irônicas.

A deterioração dos cérebros leva o irônico a, antecipadamente, desejar explicar sua ironia, pois sabe que seu leitor provavelmente não a compreenderá.

Isso é amputar a língua portuguesa, retirando um de seus recursos linguísticos, empobrecendo e rebaixando o idioma à incapacidade de compreensão do interlocutor deficiente.

O prof. Olavo de Carvalho explica que a incapacidade de entender ironia é sintoma seguro de analfabetismo funcional.

Uma das coisas que diferenciam o homem de um bicho é a capacidade de inteligir. Daí, a palavra inteligência.

O hábito de ter que explicar ironias parte do pressuposto de que seu interlocutor é intelectualmente incapaz, reduzindo-o a um animal sem racionalidade.

Com o tempo, as inteligências vão sendo gradativamente rebaixadas a um padrão animalesco.

Em breve, não se poderá mais contar com as sutilezas, as nuances e as gradações que formam o arcabouço sensorial e o universo de percepções que diferenciam o homem de um animal.

Ter a ilusão de poder ser compreendido por todo mundo o tempo inteiro demonstra o desejo de ser querido o tempo inteiro.

Portanto, a pressa em rebaixar a inteligência de seu interlocutor, explicando a ironia previamente, é manifestação bruta e primária de necessidade de aceitação e, ao fim e ao cabo, de soberba.

Por isso, recuso-me a utilizar hashtag indicando “contém ironia” (#ContemIronia).

Isso significa não apenas respeito à inteligência de meu interlocutor. Significa, antes de tudo, respeito ao idioma, instalação na realidade de que jamais serei querida por todos, e, por fim, recusa a participar desse processo acelerado de rebaixamento da inteligência nacional.


Escrito por Ludmila Lins Grilo, em 26 de abril de 2021.
Este texto foi extraído de uma postagem realizada pela autora em canal do Telegram.


Notas da editoria:

A imagem associada a esta postagem ilustra recorte da obra: “Reading Boy”, criada em 1863 pelo pintor estadunidense Eastman Johnson (1824 – 1906).

O título desta postagem (“Encapsulando o analfabetismo e a soberba, mas com muita ironia”) foi atribuído por nossa editoria.


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