“A natureza é a arte de Deus.”
Dante Alighieri (1265 – 1321)
Falar contra a desigualdade soa bem em todos os ambientes de esquerda. A desigualdade brutal entre a direção do PCCh e o povo, entre a Nomenklatura e o povo, entre tantos líderes petistas e o povo é silenciada.
Falar em desigualdade é o mesmo que falar em variedade. A desigualdade é uma consequência da variedade.
A insistência das esquerdas em torno da igualdade ou do crescimento da desigualdade (colocam o foco sempre no aspecto monetário) traz à tona uma questão de ordem metafísica e teológica: igualdade é sempre um bem? Desigualdade é sempre um mal?
Comecemos pela variedade.
Unidade na variedade é um requisito da perfeição da Criação
1. Variedade horizontal
Variedade inexaurível – Mesmo em seres da mesma espécie, Deus colocou uma variedade inexaurível.
Por exemplo, as impressões digitais, de agora e do futuro; elas não se repetem.
No mundo das flores, vejamos as orquídeas, das quais não foi possível fazer o catálogo. No imenso universo das flores, o que são as orquídeas? Pois, nelas há esse luxo de variedade; a intenção de Deus foi manifestar nessa variedade o seu poder.
No universo das pedras, que variedade. Sejam pedras comuns, semipreciosas ou preciosas: cada uma dessas categorias comporta uma variedade inimaginável. Essa variedade não é um bem? Nela não se manifesta o poder de Deus?
2. Variedade vertical
A variedade vertical incomoda especialmente as esquerdas. Deus, não apenas criou muitos seres (variedade) mas os criou desiguais e em escalonamentos.
Na Criação notamos os seres puros espíritos (Anjos), aqueles constituídos de espírito e matéria (homens) e, por fim, os seres puramente materiais desprovidos de alma racional.
Os anjos: Nos três primeiros coros há predominância da função cognoscitiva; nos outros, predomínio da função operativa. Nos três primeiros coros, desigualdade de cognição; nos outros, desigualdade de operação. No último coro, desigualdade de funções diretoras.
Os homens: Assim como há uma desigualdade no mundo angélico, há também entre os homens. Desigualdade de talento, de força, de inteligência. O que seria das Nações se todos os homens fossem iguais, por exemplo, em talento, em força, em inteligência, em habilidades, em aptidões?
Quanto mais alta a categoria do ser, maior é a desigualdade; quanto mais baixa, menores as diferenças. Nos anjos há mais diferenças; no homem há menos desigualdades do que no mundo angélico, e nos seres inanimados menor ainda é a distância entre eles.
O ensinamento de São Tomás
Como se justifica essa desigualdade?
“Santo Tomás ensina que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador. E diz que tanto entre os Anjos quanto entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio, a Providência instituiu a desigualdade. Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador.
Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus.” 1
A variedade, a desigualdade são poderosos elementos que o Criador colocou à disposição dos homens a fim de facilitar-lhes a compreensão das perfeições de Deus. Por isso, concluímos, os comunistas, as esquerdas, os progressistas procuram por todos os meios nivelar tudo e por baixo.
O progressismo é, em matéria de religião, profundamente nivelador. Estamos vendo, a toda hora, as tentativas de nivelar padres e leigos. A consagrada distinção em Igreja docente (Clero) e Igreja discente (Leigos) vai sendo a todo momento corroída pelo progressismo.
A desigualdade é sempre um bem? Limites
“Os limites da desigualdade: claro está que de toda esta explanação doutrinária não se pode concluir que a desigualdade é sempre e necessariamente um bem. Os homens são todos iguais por natureza, e diversos apenas em seus acidentes. Os direitos que lhes vêm do simples fato de serem homens são iguais para todos: direito à vida, à honra, a condições de existência suficientes, ao trabalho, pois, e à propriedade, à constituição de família, e sobretudo ao conhecimento e prática da verdadeira Religião. E as desigualdades que atentem contra estes direitos são contrárias à ordem da Providência. Porém, dentro destes limites, as desigualdades provenientes de acidentes como a virtude, o talento, a beleza, a força, a família, a tradição, etc., são justas e conformes à ordem do universo.”
Conclusão: por que os homens não seriam desiguais?
A variedade que se expressa nas pedras preciosas é um bem e nos ajuda a compreender a imensidade do Poder do Criador.
As flores, em suas cores, formas espelham, por sua vez, perfeições do Criador: Olhai os lírios do campo, que não tecem nem fiam. Entretanto, nem Salomão em toda a sua riqueza jamais se vestiu como um deles… (S.Mateus 6:24-33).
Nós temos as colinas, os montes, as serras, as cordilheiras: essa variedade nos ajuda a compreender a grandeza de Deus.
A variedade nas águas: lagos, rios, mares e oceanos.
Por que razão não deveria haver desigualdade entre os homens? Por que os homens seriam exceção, contrariando a regra da unidade na variedade que é, por sua vez, um critério de perfeição na Criação?
Dotado de inteligência, vontade e sensibilidade o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Três raças, muitos povos, regionalismos, famílias, indivíduos; o gênero humano é a maior fonte de desigualdades, inferior apenas à que existe entre os Anjos.
Há inúmeros comentários do Prof. Plinio sobre a diversidade dos povos. Sirva essa introdução para nos ajudar a contemplar as perfeições do Criador que se manifestam no homem, dotado de inteligência, vontade e sensibilidade.
Por Machado Costa.
Publicado originalmente no website do IPCO em 29 de junho de 2022.
Nota:
- Transcrito de Revolução e Contra Revolução — Cfr. Contra os Gentios, II, 45; Suma Teológica, I, q. 47, a. 2; Cfr. Suma Teológica, I, q. 50, a. 4; Cfr. op. cit., I, q. 96, a. 3 e 4; Cfr. Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. VI, p. 239.
Notas da editoria:
- Imagem da capa: “Bright colors autumn” (2019), por Olha Darchuk.
- Foto do tópico de conclusão: Ao lado esquerdo Santa Josefina Bakhita (1869 – 1947), e ao lado direito Santa Bernadete Soubirous (1844 – 1879).
E dizer que toda essa imensidão de variedades e beleza natural, foi criada por Ele por amor a nós. E contemplar a criação é comovente; é emocionante. :’) Lindo texto.