“É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida.”,
Abraham Lincoln (1809 – 1865): 16° Presidente dos Estados Unidos da América.
É fato. Há um Brasil que fala e fala muito. Fala nos microfones, diante das câmeras e nas redações dos jornais. Fala nas cátedras, nas salas de aula e em conferências. Fala nos púlpitos, nos tribunais e nos manifestos. Fala nas lives e nas redes sociais. Falam uns aos ouvidos dos outros. Mas se algo os caracteriza é o desconhecimento tátil, olho no olho, do Brasil que não fala, parte significativa do Brasil real. Para conhecê-lo, é preciso observação persistente e continuada e poucos, pouquíssimos vão até ele. Poucos se importam. Pouquíssimos se importam! Não se importam os que mantêm suas festas e superlotam seus points. E falam, uns para os outros.
É fato. Há um Brasil mudo, dos ônibus de subúrbio, dos brasileiros cuja única esperança é continuar sobrevivendo em meio às próprias carências, tendo a fome como companheira do desemprego.
Esse Brasil não veraneia nem festeja.
Esperneia e, com sorte, toma uma cerveja.
Também sou do Brasil falante. Também falo e sou ouvido pelos que igualmente falam. Faço conferência, escrevo, assino manifestos e gravo vídeos, que são ouvidos e assistidos por outros falantes como eu. Também eu não conheço o Brasil mudo. E vice-versa.
Outro dia, enquanto era atendido por um trabalhador no Brasil falante, indaguei-o sobre como ficaria sua situação a partir das novas regras impostas àquela atividade. Seu olhar foi um discurso. Um manifesto. Uma live inteira.
Não acredito que a paralisação de tantas atividades não possa ser substituída por outras medidas menos danosas a parcela tão significativa da sociedade! Não acredito! Assim como não me convencem os que acham que está tudo bem, mesmo que as UTIs estejam superlotadas, tampouco me convence esse Brasil alto-falante, que fala quase sozinho, hegemonicamente, dizendo sempre a mesma coisa. E deixando mudo – mudo! – o outro Brasil.
Não, não está tudo bem. E novamente não. A solução não pode ser, necessária e exclusivamente, essa que aumenta a miséria de dezenas de milhões. Ouçam menos a si mesmos, senhores. Ouçam menos a quem só fala.
Escrito por Percival Puggina.
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Nota do editor:
A imagem associada a esta postagem ilustra recorte da obra “Guarda-chuva na cidade de São Paulo”, criada por Carmem Arruda.