“Hollywood é um lugar onde te pagam mil dólares por um beijo e cinquenta centavos por sua alma.”
Marilyn Monroe (1926 – 1962)
As inúmeras pessoas a quem o capitalismo proporcionou rendimentos confortáveis e lazer vivem à busca de divertimento. Multidões frequentam os teatros. Há dinheiro no mundo do espetáculo. Atores populares e dramaturgos recebem somas compostas de, no mínimo, seis algarismos. Vivem em verdadeiros palácios com mordomos e piscinas. É evidente que não passam fome. Mesmo assim, Hollywood e Broadway, os famosos centros da indústria do espetáculo, são focos de comunismo. Autores e atores podem ser identificados entre os mais fanáticos defensores do regime soviético.
Tentou-se explicar esse fenômeno de vários modos. Há uma ponta de verdade na maioria dessas interpretações. No entanto, nenhuma leva em conta o principal motivo que conduz os campeões do palco e da tela às fileiras dos revolucionários.
No capitalismo, o sucesso material depende da apreciação das realizações da pessoa por parte do consumidor, que é soberano. Quanto a isto não existe diferença entre os serviços prestados por um fabricante e os prestados por um produtor, ator ou dramaturgo. Contudo, a consciência desta dependência faz com que quem trabalha no mundo do espetáculo fique muito mais preocupado do que quem fornece ao consumidor coisas tangíveis. Os fabricantes de mercadorias palpáveis sabem que seus produtos são comprados por suas propriedades físicas. Podem ter uma expectativa razoável de que o público continue solicitando esses artigos enquanto nada melhor ou mais barato não lhes for oferecido, pois é improvável que as necessidades satisfeitas por essas mercadorias venham a se alterar num futuro próximo. A situação do mercado para tais mercadorias pode, de certa forma, ser prevista por empresários inteligentes. om um certo grau de confiança, podem adivinhar o futuro.
Com as diversões é diferente. As pessoas procuram divertir-se porque estão entediadas. nada aborrece tanto as pessoas quanto o divertimento com o qual já estão acostumadas. A essência da indústria do espetáculo é a variedade. As pessoas aplaudem mais o que é novo e, por isso mesmo, inesperado e surpreendente. São extravagantes e volúveis. Desprezam hoje o que apreciaram ontem. Um magnata do palco ou da tela deve sempre temer os caprichos do público. ode acordar hoje rico e famoso e, no dia seguinte, ser esquecido. Sabe muito bem que depende totalmente da fantasia e da simpatia de uma multidão sequiosa por distração. Vive ele ansioso. Como o arquiteto na peça de Ibsen, teme os desconhecidos que acabam de chegar, os jovens dispostos que o suplantarão na opinião do público.
É óbvio que nada pode aliviar a ansiedade das pessoas do espetáculo. Por isso elas se agarram em qualquer ninharia. O comunismo, pensam alguns, lhes trará a libertação. Não é um sistema que torna todos felizes? Não há homens famosos que declaram que todos os males da humanidade são causados pelo capitalismo e que serão eliminados pelo comunismo? Não são também eles pessoas trabalhadoras, companheiros de todos os outros trabalhadores?
Pode-se supor que nenhum dos comunistas de Hollywood e da Broadway jamais tenha estudado as obras de qualquer autor socialista e menos ainda uma análise séria da economia de mercado. Mas é precisamente esse fato que, para estrelas, dançarinas e cantoras, para autores e produtores de comédias, filmes e canções, traz a estranha ilusão de que suas mágoas passadas desaparecerão tão logo os “despojadores” sejam despojados.
Há quem culpe o capitalismo pela estupidez e grosseria de muitos produtos da indústria do espetáculo. Não é preciso discutir esse assunto, Mas vale a pena lembrar que nenhum outro meio norte-americano apoiou com mais entusiasmo o comunismo do que as pessoas que trabalham para a produção dessas estúpidas peças e filmes. Quando um futuro historiador pesquisar os fatos pouco significativos, que Taine tanto apreciava e considerava fontes de estudo, não deve deixar de mencionar o papel que a mais famosa artista do mundo em strip-tease desempenhou no movimento radical norte-americano.1
Excerto da obra “A mentalidade anticapitalista”,
escrita por Escrito por Ludwig von Mises (1881 – 1973).
O livro está disponível para download no website do Instituto Mises Brasil.
Para descarregá-lo, clique aqui.
Notas:
- Cf. Eugene Lyons, .c., p. 293. Em “A mentalidade anticapitalista”.
Nota da Editoria:
Imagem da capa: “Hollywood Sign” (1919), de Christopher Arndt.