“A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha
do passado, exemplo do presente, advertência do futuro.”,
Miguel de Cervantes (1547 – 1616)
Pesquisei sobre as origens do Carnaval no pai dos burros – doutor Google -, no livro de Leandro Narloch e em fontes alternativas. Interessei-me pelo lado, propositalmente esquecido, das folias de Momo.
Existem pesquisadores que acham possível enterrar uma história. É fascinante a procura de uma segunda opinião, como se faz diante de um caso complexo na medicina.
Diz o Narloch que “um traço comum no carnaval de diferentes épocas e países, é o de virar as regras pelo avesso. Escravos e seus senhores, na época da festa considerada pagã, invertiam os papéis: por um dia, eram os servos que mandavam.”
“As pessoas comuns faziam missas e procissões cômicas no lugar dos padres, onde guiavam as cerimônias religiosas e personagens bizarros, como o Rei Momo.
A ordem era tirar um sarro dos costumes da época dessas festas pagãs da Roma Antiga.”
Prossegue o pesquisador: “na maior parte da história do Brasil, o nosso carnaval foi uma algazarra deliciosamente sem noção.
Quem regulou a bagunça que era o carnaval europeu, com grandes repercussões aqui no Brasil, foram dois ditadores: Hitler e Mussolini!”
“O objetivo do nazi-fascismo era transformar essa festa em motivo de orgulho nacional. Aparece então o carnaval organizado, onde só eram permitidas músicas edificantes e patrióticas. A melodia só poderia ser executada por instrumentos considerados da cultura nacional.”
Se adicionarmos algumas celebridades seminuas ou nuas e muita plumagem, o cenário fica parecido com a Sapucaí.
Foi mais ou menos assim que nasceu o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, na narrativa de Narloch.
“Seu formato atual deve-se muito aos costumes e às ideologias de 1930. Já havia desfiles em sociedades carnavalescas no começo do século XX, é verdade, mas a maioria das regras da apresentação moderna nasceu em 1937, ano em que Vargas torna-se ditador, e instituiu que todos os sambas enredos deveriam homenagear a história do Brasil.”
Pedro Ernesto, na época Interventor Federal no Rio, começou a dar dinheiro para as escolas.
“A apresentação ocorria na Avenida Rio Branco, mesmo local onde os militares comemoravam com um desfile a Independência – todo dia 7 de setembro.”
“Os instrumentos de sopro foram proibidos e os grupos festeiros aderiram, espontaneamente, ao carnaval organizado pelo governo.”
“A Deixa Falar”, primeira escola de samba de que se tem notícia, desfilou em 1929, usando na comissão de frente cavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
“Não fosse a influência de Mussolini, o famoso desfile de carnaval brasileiro não existiria, afirmam estudiosos desse período.”
E sem ele o samba que conhecemos hoje seria também muito diferente.
“O mesmo patriotismo que deu um empurrão ao desfile de carnaval provocou a folclorização do samba.”
Por Gabriel Novis Neves.
Ex-reitor e fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, é médico em Cuiabá.
Publicado originalmente no website: Prosa & Política, em 18 de fevereiro de 2012.
Adendos:
Em fevereiro de 2012, Bruno Garschagen entrevistou o autor da obra “Guia politicamente incorreto da história do Brasil” (Leandro Narloch). Ouça a entrevista originalmente realizada para o Instituto Ludwig von Mises Brasil, nela Narloch menciona seu apreço por Ludwig von Mises e consequentemente sua visão do capitalismo.
Assista entrevista que Leandro Narloch concedeu ao jornalista Augusto Nunes, nela o entrevistado afirma que a feijoada e o samba possuem origem europeia, e que Santos Dumont não inventou o avião.
Nota da editoria:
Imagem da capa: “Carnaval no Rio Brasil” (2015), por Mali Santos.