Na cultura brasileira, antes de iniciar algum estudo o indivíduo questiona: “estudando isso irei ganhar o quê?”. Isso significa que não existe a noção de que, diferente de um “tubo digestivo”, a “coisa” não entra por um lado e sai por outro, mas incorpora-se. A educação não serve para dar instrumento para que o indivíduo faça alguma coisa. Serve para que o indivíduo seja alguma coisa; fornece personalidade, consciência, capacidade de fazer escolhas, traz autoconhecimento, posiciona a pessoa no mundo, etc. Para piorar, o objetivo de ir para uma universidade deixou de ser o de apreender alguma coisa e passou a ser um meio de evitar que o acesso ao emprego seja bloqueado; a escola não dá qualificação para o trabalho, mas, sem ela, a autorização ao serviço é retirada. Assim, não é um benefício, é a ameaça de um malefício.
Praticamente existem dois tipos de universidades: as caça-níquéis e as caça-votos. Pouco ou nada ensinam e confundem ensinar com educar. Educar? Atualmente seria impossível. Quando se fala em melhorias na educação, logo se faz associações com investimentos financeiros, mas tornar isso prioritário é um absurdo. O dinheiro não faz mágica, não produz esculturas, não gera quadros, não manipula a morte, não dá poder de concentração. Já que se fala em educação em vez de ensino, vamos pensar nas garantias que um pai rico tem em tornar seu filho uma ótima pessoa. Isso não se faz exclusivamente com seu dinheiro (que pode ser benéfico assim como prejudicial); seu filho será lúcido ou maconheiro, em grande parte conforme as artes que o pai aprecia (da mesma maneira que, se você é metaleiro e padre, uma das duas coisas você faz errado), o filho saberá lidar com a morte conforme as crenças passadas para ele, terá um bom ou um péssimo relacionamento, similar ao do pai – não confunda isso apenas com o período de adolescência. “Resumindo a ópera”: é a cultura que gera dinheiro, não o inverso.
Um diploma muitas vezes é a autorização para fazer o que não se sabe fazer, é a prova de que comprou a educação que não se tem. Não devemos estranhar quando encontramos um engenheiro taxista, ou um administrador de empresas vendedor. O pior é pensar que, em entrevistas que dei há vinte anos ou mais, minha preocupação era a de que as faculdades formavam peões, adestravam alunos a criar edificações como se adestra um cão a capturar a caça.
E é isso que nossos políticos desejam democratizar? Distribuir isso a todos não se deve. É como querer transmitir uma doença grave a todos.
Outro mito é o de que quanto mais cara uma escola, melhor ela será. O que faz voltar ao fato de que o brasileiro acha que dinheiro faz mágica.
Excertos da Palestra proferida por José Monir Nasser (1957 – 2013).
Conferência realizada em virtude do lançamento do livro “O Trivium”,
publicado por É Realizações, sob ISBN: 978-85-88062-60-3.
Com o objetivo de tornar este artigo mais conciso,
também utilizamos trechos de entrevista concedida por Olavo de Carvalho. Para assisti-la, clique aqui.
“O Trivium” é uma obra escrita pela Irmã Miriam Joseph (1898 – 1982),
prefaciada por José Monir Nasser (1957 – 2013), e traduzida por Henrique Paul Dmyterko.
Adaptado por Eric M. Rabello. Revisado por Fabio Rabello.
Em 2008, José Monir Nasser (1957 – 2013), palestrou em função da obra aqui descrita. Assista e compreenda o verdadeiro problema de nosso sistema atual de ensino, e sobretudo perceba a potencialidade das metodologias utilizadas na idade média, denominadas: “O Trivium” e “O Quadrivium”:
Se prefir, ouça a palestra onde José Monir Nasser (1957 – 2013) apresenta a obra “O Trivium”: