“Todo aquele que me declarar diante das pessoas, também eu o declararei diante de meu Pai que está nos céus.”
Mateus 10:32
O conceito de representatividade no século XXI foi usurpado pelos movimentos identitários. Resumidamente, eles procuram unir pessoas em torno de uma característica periférica, como a cor da pele, a conduta sexual, o género, etc., ao invés de uni-las pelo carácter, pelas virtudes ou por valores. E é essa característica periférica que eles pretendem ver representada na esfera política e cultural.
Desse modo, a característica escolhida é elevada a traço identitário, fazendo com que a pessoa desloque a consciência de si do centro para a periferia. Ela deixa, então, de estar centrada na própria alma — sua substância eterna — e passa a apostar a sua identidade em algo tão supérfluo como a cor da pele. Quando vier a morte e a decomposição física, perguntar-se-á para onde foi a cor?
Não se nega que é preciso representatividade dos interesses das variadas classes de pessoas na política e na cultura; a questão é: quais interesses? É aqui que nos é exigido um discernimento mais apurado. Por exemplo, que haja alguém que represente as necessidades de inclusão de pessoas com deficiências é muito importante, mas não exige que o representante tenha uma deficiência; já não é tão importante que um representante seja negro ou homossexual simplesmente para que o representado se sinta bem consigo mesmo ao ver-se espelhado nele.
A pessoa considera a sua subjectividade tão importante (mas é apenas o seu ego que é enorme) que pensa que tem o direito de ter a sua imagem plasmada no altar da ágora. Essa é a armadilha de Narciso, o corolário do amor próprio.
Richard M. Weaver, na sua obra “Ideias têm consequências”, mostra o movimento de degeneração que o Ocidente vem fazendo. Um dos acontecimentos centrais foi a alteração da concepção da vida que o homem tinha, desde uma visão metafísica para uma materialista, desde o universal para o particular, do centro para a periferia, enfim, da caridade para o egoísmo.
Realmente o egoísmo foi entronizado e a exigência de representatividade, no contexto dos movimentos identitários, não é mais do que o egoísmo elevado à categoria de direito político.
Vale notar uma outra dimensão do problema: este egoísmo tem algo de trágico, pois ele revela o vazio espiritual que permeia a nossa era. Por isso se busca desenfreadamente a aceitação do mundo, enquanto se ignora a representatividade mais elevada que deveríamos buscar, que é esta:
“Todo aquele que me declarar diante das pessoas, também eu o declararei diante de meu Pai que está nos céus.” Mateus 10:32.
Por Francisca Irina.
Pulicado originalmente pelo portal Tribuna Diária, em 01 de março de 2023.
Notas da editoria:
Imagem de capa “Alter-Ego” (2012), por Silvia Rea.