A brevíssima historia que compõe esta postagem foi extraída de um panfleto encontrado no interior da Matriz Paroquial Imaculado Coração de Maria (situada na capital paulista). Propositalmente reproduzimos o texto sem nenhuma alteração.
Eu tinha dezoito anos e fazia amor com meu namorado. Uma noite fiz uma coisa que nunca tinha feito antes. Fiquei fora de casa a noite toda e disse a meu pai que ia dormir na casa de uma amiga. Era a primeira vez que meu namorado não tomava precauções e na manhã seguinte, enquanto tomava banho, senti que estava grávida. Não posso explicar como, mas senti que estava estranha.
Nos cinco meses seguintes, procurei convencer-me constantemente que não estava grávida. Inventava todas as espécies de desculpas. Mas o fato é que eu não podia encarar a realidade. Sentia terríveis enjoos pela manhã, ia ao banheiro e abria todas as torneiras para que o meu pai não pudesse me ouvir. Vivia terrivelmente cansada. Cochilava no ônibus e depois que chegava em casa, ia deitar às seis horas e na manhã seguinte ainda estava cansada. Mesmo assim, não falava nada a ninguém. Papai já tinha bastante preocupações e problemas. Minha mãe nos tinha abandonado há alguns meses e ele estava muito nervoso. Finalmente, entrei numa grande loja em que meu irmão trabalhava e lhe contei tudo. Ele disse que tínhamos de contar tudo a papai e voltamos os dois para casa.
A reação imediata do papai foi fazer o aborto, e ninguém pensou em mais nada além disso. Entrou em contato com a minha mãe e ela voltou para casa. É terrível pensar que este fato causou a reconciliação dos dois. Assim, depois de uma semana eu abortei. Fui arrastada, não houve tempo para pensar e ninguém nos ajudou nem a mim, nem a meus pais a parar para pensar. Ninguém sugeriu alternativa, nem falou em adoção.
O único conselho que me deram foi o de como abortar. Eu precisava era de conselho de alguém que me dissesse o que era uma criança, um ser humano e o que eu poderia fazer de melhor para ele. Pode estar certo de que em nenhuma ocasião alguém me falou do bebê que eu estava esperando como uma criança mesmo. Todos eles procuraram me convencer de que não era nada, de que era algo do que a gente deveria se livrar o mais rápido possível. Eram pessoas malvadas, só queriam dinheiro, não se preocupavam comigo, nem com a criança que eu trazia dentro de mim.
Durante toda a semana tive que falar com um mundo de gente e ninguém me disse que parasse um pouco para pensar. Foi a coisa mais simples combinar o aborto e arranjar tudo para levá-lo a cabo.
Fui com meu irmão e meu namorado. O meu irmão disse que não aprovava o aborto, mas ele não iria contrariar papai, e o meu namorado simplesmente o seguia passivamente.
Quando chegamos à clínica, levaram-me para uma sala em que havia umas vinte moças. Disseram-me que sentasse na cama e esperasse por uma enfermeira que viria apanhar os envelopes. Ela chegou, apanhou os envelopes e contou o dinheiro de cada uma de nós. Em seguida, disse para tirar a roupa, e me fizeram subir três lances de escada para a sala de operação. Não fizeram nenhuma pergunta. Não fizeram exame de sangue.
Quando voltei para casa, durante muito tempo, fiquei num estado de nervos lamentável. Tudo parecia um problema para mim, quando estava grávida. Eu tinha apenas dezoito anos e naquela idade não se pensa em todos os aspectos do problema. A gente quer somente se livrar da coisa. Mas eu não queria matá-lo. Apesar de meu horror em estar grávida, uma parte de mim gostava daquele enjoo matinal e de sentir a criança se mexendo como borboletas esvoaçando dentro de mim. Depois não havia mais nada. Perguntava a mim mesma se teria sido menino ou menina. Qual era a cor de seu cabelo. Deitava-me na cama em casa e depois sonhava que isto nunca tivesse acontecido e que eu tinha tido uma criança viva e que estava choramingando no quarto ao lado. Eram estes os pensamentos que tinha sobre o meu filho, que ele estava vivo! Mas acordava e encarava a terrível realidade. Eu fantasiava mil coisas. Olhava as crianças nos carrinhos. Entrava nas lojas de artigos para bebês, pegava nas roupinhas que fingia escolher. Mas nunca comprei nada.
Se pelo menos alguém me tivesse dito que a criança que eu trazia comigo era uma vida, que talvez não fosse o momento certo de pô-la no mundo, mas que eu não tinha o direito de matá-la. Só tinha necessidade de compreensão e de bons conselhos. Era pedir muito?
Entretanto, olha o que aconteceu. O aborto é praticado mais do que nunca. Sabe que naquela clínica encontrei uma menina de apenas quinze anos? Ela tinha ido com o namorado. Seus pais nem sequer sabiam. Deus sabe onde arranjaram o dinheiro. As moças não sabem realmente o que fazem. É tudo tão fácil! No meu trabalho, duas moças começaram a falar de ter crianças. Ambas são recém-casadas, têm muitas contas a pagar, usam pílula e nenhuma delas planeja ter filhos durante muitos anos. Perguntei a uma delas o que faria se ficasse grávida e ela respondeu-me simplesmente que não ficaria. Então, a outra disse: “Mas suponhamos que aconteça, o que você faria?” Ela respondeu: “Faria o aborto. Sei onde se faz”. Perguntei-lhe se sabia mesmo o que estava fazendo e se sabia das reações emocionais que seguem a um aborto. Ela respondeu: “Bobagem. Todas fazem aborto. Eu nem duvido”. Então eu lhe disse que o aborto era uma coisa má, que era um assassinato, e ela respondeu: ”Os jornais estão cheios de casos. Naturalmente, não é um assassinato!”.
O senhor está vendo! Nenhuma mulher que não fez aborto sabe realmente o que ele significa. A jovem que sai de um daqueles lugares pode pensar que não é nada. Pode não sentir nada imediatamente ou nos dias que se seguem, mas os efeitos aparecerão. Não se pode escapar do remorso ou da convicção de que o aborto é um assassinato. É certo. Os efeitos aparecerão, mesmo anos mais tarde. No meu caso, os efeitos e as consequências do aborto se fizeram sentir em ondas, algumas vezes me batiam levemente na consciência, outras vezes me afogavam. É algo que não dá para esquecer. O peso da culpa na consciência não desaparece nunca.
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Nota do editor:
A imagem associada a esta postagem ilustra o “Monumento às Crianças que não Nasceram”, criado em 2015 pelo escultor tcheco Martin Hudáček. Esta escultura encontra-se em um dos cemitérios da cidade polonesa de Breslávia.