Excerto do segundo capítulo da obra intitulada:
“A última noite do mundo”, escrita por C. S. Lewis.
Publicada pela Editora Thomas Nelson Brasil, sob ISBN: 9788578607593.
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Vale salientar: este pequeno trecho contém uma acepção completa,
mas não demonstra o objetivo da obra ou mesmo do capítulo. Para tal finalidade, assista ao vídeo disponível no término desta postagem.
Ao tirar um cachorro de uma armadilha, ao tirar um espinho do dedo de uma criança, ao ensinar um menino a nadar ou ao resgatar alguém que não sabe nadar, ao ajudar um alpinista novo assustado a ultrapassar um lugar desagradável em uma montanha, o único obstáculo fatal pode ser a desconfiança deles. Estamos pedindo a eles que confiem em nós em franca oposição a seus sentidos, a sua imaginação e a sua inteligência. Pedimos a eles que creiam que o que é doloroso aliviará sua dor e que aquilo que parece perigoso é sua única segurança. Pedimos a eles que aceitem aparentes impossibilidades: que mover a pata mais para dentro da armadilha é a maneira de sair dela; que machucar muito mais o dedo vai fazer o dedo parar de doer; que a água, que é obviamente permeável, possui sua resistência e apoiará o corpo; que segurar o único apoio ao alcance não é a melhor maneira de não afundar; que subir ainda mais e ir para uma borda mais exposta ajuda a não cair. Para apoiar toda essa incredibilia, podemos contar apenas com a confiança em nós da outra parte — uma confiança certamente não baseada em demonstração, reconhecidamente, atingida pela emoção e, talvez, se formos desconhecidos, repousando em nada além da segurança que a aparência de nosso rosto e o tom de nossa voz possa dar, ou mesmo, para o cachorro, do nosso cheiro. Às vezes, por causa da incredulidade deles, não podemos fazer grandes obras. Mas, se formos bem-sucedidos, conseguiremos porque eles mantiveram fé em nós contra evidências aparentemente contrárias. Ninguém nos culpa por exigir tal fé. Ninguém os culpa por darem-nas. Ninguém diz depois que deve ter sido um cão, ou uma criança, ou um menino não inteligente por ter confiado em nós. Se o jovem alpinista fosse um cientista, não poderia ser dito contra ele, quando recebesse uma bolsa de estudos para virar pesquisador, que ele havia se afastado da regra de evidência de Clifford [1] por escolher uma crença com maior força do que a evidência logicamente o obrigava a fazer.
Agora, aceitar as proposições cristãs é, ispu facto, crer que somos para Deus, sempre, como aquele cão, ou aquela criança, ou como o banhista, ou montanhista era para nós, só que muito mais do que isso. A partir desse fato é uma conclusão estritamente lógica que o comportamento adequado para eles será apropriado para nós apenas de uma forma muito mais adequada. Note: eu não estou dizendo que a força de nossa crença original deve, por necessidade psicológica, produzir tal comportamento. Estou dizendo que, por necessidade lógica, o conteúdo de nossa crença original implica a proposição de que tal comportamento é apropriado. Se a vida humana é, de fato, ordenada por um ser beneficente cujo conhecimento de nossas necessidades reais e do mundo pelo qual elas podem ser satisfeitas excede infinitamente o nosso, devemos esperar a priori que suas operações frequentemente nos parecerão distantes de serem benéficas distantes de serem sábias, e que será a nossa mais alta prudência dar a ele nossa confiança apesar disso.
Extraído da obra: “A última noite do mundo”, escrita por: C. S. Lewis (1898 – 1963).
Traduzido por Francisco Nunes. Tradução de The world’s last night and other essays.
Publicado pela editora Thomas Nelson Brasil, sob ISBN: 9788578607593.
Notas:
- Ela diz que “está errado sempre, em todo lugar e para qualquer um, crer em qualquer coisa com insuficiente evidência”. Foi descrita por William Kingdon Clifford (1845 – 1879), matemático e filósofo inglês, em seu livro The ethics of belief and other essays [A ética da crença e outros ensaios]. [N. T.].
Por meio do vídeo anexo, compreenda as diretrizes da obra descrita por esta postagem: