“Um pouco de filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia leva-a para a religião.”,
Francis Bacon (1561 – 1626): filósofo, escritor e político inglês.
“Ei, eu tenho uma pergunta!”, gritou um aluno no fundo da sala. Eu estava falando sobre as reinvindicações de Cristo na residência da fraternidade da Universidade de Massachusetts, quando ele me interrompeu. “Sim, o que é?”, perguntei. “Eu acho que Jesus é ótimo pra você, mas eu conheço budistas e muçulmanos e eles são tão sinceros quanto você. E eles pensam que suas visões são verdadeiras, tanto quanto você. Não é possível alguém saber se sua religião é a ‘correta’, então o melhor a fazer é apenas acreditar que as religiões de todas as pessoas são verdadeiras para elas e não julgar ninguém”.
Já ouviu algo desse tipo? É difícil acreditar que não. O que pensar disso? Como devemos responder? Eu acho que existe uma boa resposta a esse ponto-de-vista e espero fornecê-la a seguir. Mas antes disso, devemos observar atenciosamente o que parece estar por trás de tal alegação. O aluno estava supondo que não existem princípios objetivos que, se aplicados à busca religiosa de alguém, poderiam ajudá-lo a fazer a melhor e mais racional escolha dentre as opções religiosas. Na ausência de tais princípios, qualquer escolha é puramente arbitrária ou totalmente baseada em emoção ou na educação. Em qualquer um dos casos, tal escolha não colocaria, de forma alguma, alguém em posição de julgar errada a escolha de outra pessoa.
Existem princípios objetivos que podem servir como guia na escolha de uma religião? Na verdade, existem. Eu acredito que os quatro princípios a seguir devem ser utilizados para guiar alguém a escolher qual religião ele ou ela seguirá e, se aplicados corretamente, acredito que eles apontarão para o cristianismo como a escolha mais racional.
Fatos sobre a criação
Princípio 1: O conceito de Deus de uma religião deve ser compatível com o que podemos conhecer de Deus a partir da criação.
Primeiramente, alguns leitores dirão que tudo o que podemos conhecer sobre Deus é o que ele nos revelou através da Bíblia. Porém, a Bíblia deixa claro que, através da criação apenas, mesmo aqueles que nunca leram a Bíblia devem conhecer algumas coisas sobre Deus (Salmos 19:1-4; Romanos 1:18-23). Isso significa que quando alguém começa a buscar a Deus lendo os vários “Livros Sagrados” das diferentes tradições religiosas, ele não inicia com uma folha em branco. As pessoas tiveram a oportunidade de “ler um livro” – o livro da criação – todos os dias de suas vidas antes de pegarem a Bíblia, o Corão ou o que quer que seja.
Além disso, apesar de eu não desenvolver o argumento aqui – quero que você examine a questão por si mesmo –, existe uma defesa intelectual poderosa, a partir dos fatos sobre a criação, de que um Deus pessoal e único existe (um bom ponto de partida para aprender a como fazer essa defesa é a obra “Ensaios Apologéticos”, editada por Francis J. Beckwith, William Lane Craig e J. P. Moreland). Ela afirma que a existência de um Deus pessoal é a melhor explicação para (1) a existência e o início de um universo finito, (2) a beleza e ordem do universo, incluindo a existência de informação biológica, (3) a existência de mentes finitas como as nossas, e (4) a existência da lei moral objetiva e da igualdade dos direitos humanos.
Perceba que o princípio 1 aponta para o monoteísmo, não porque a Bíblia o exige, mas porque o monoteísmo é a melhor explicação para estes fatos sobre a criação. O princípio 1 coloca o judaísmo, o cristianismo e o islamismo no páreo.
Milagres
Princípio 2: Um explicação adequada da origem e sucesso de uma religião deve apelar à atividade divina.
Não é possível explicar a origem e sucesso de uma religião simplesmente como resultado de um insight brilhante ou sabedoria filosófica humana. Ainda que esses fatores sejam importantes, por si sós não nos dizem se a religião é uma invenção humana ou uma revelação divinamente autorizada. Por exemplo, Maomé alegou que recebeu a maior parte do Corão em uma caverna. Claramente, não há nada neste aspecto das origens do islamismo que escape à explicação naturalista.
Em contrapartida, pelo menos dois fatores indicam que o cristianismo possui origens sobrenaturais. Primeiro, temos o cumprimento de profecias. Jesus cumpriu numerosas profecias centenárias e este fato não pode ser apenas o resultado de sabedoria humana. Esse fato desafia a explicação naturalista. Novamente, não desenvolverei o argumento aqui, mas as pessoas deveriam se familiarizar com algumas das profecias do Antigo Testamento cumpridas por Jesus e com as evidências de que ele realmente as cumpriu (veja o capítulo 10 do livro “Em defesa de Cristo”, de Lee Strobel). Em segundo lugar, baseado na evidência histórica de que os documentos do Novo Testamento são confiáveis, pode-se afirmar que o cristianismo é baseado em milagres reais operados por Jesus e seus discípulos, incluindo sua ressurreição.
Se Jesus realmente cumpriu inúmeras profecias, operou milagres e ressuscitou – como declara o Novo Testamento -, então precisamos de explicações sobrenaturais para as origens e o contínuo sucesso da fé cristã de uma maneira que não precisamos delas para explicar as origens do islamismo e das outras religiões mundiais.
Acredito que o princípio 2 deixe apenas o cristianismo e o judaísmo no páreo.
A condição humana
Princípio 3: O diagnóstico e solução acerca da condição humana apresentados por uma religião devem ser mais profundos do que de suas concorrentes.
Um aluno meu veio da Índia para estudar na Talbot School of Theology. Tendo sido criado como hindu, ele iniciou uma busca intensa pela verdade religiosa quando adolescente. Sua busca o levou a estudar os textos religiosos das principais religiões mundiais. Sua busca também o conduziu a Jesus Cristo. Por quê? Ele disse que, por comparação, os ensinamentos de Jesus Cristo e do Novo Testamento ofuscam os demais por sua profundidade, sabedoria e poder. Embora todas as religiões possuam algumas verdades, devemos escolher uma religião que faça o melhor diagnóstico do que está errado com os seres humanos e de como essa condição pode ser sanada.
Quando fazemos um estudo intercultural da condição humana, descobrem-se as seguintes experiências e desejos humanos universais: todos os seres humanos (1) experimentam uma tríplice alienação – sentem-se alienados de Deus, das outras pessoas (inclusive daqueles que amam) e de si mesmos; (2) experimentam vergonha e culpa profundas e duradouras; (3) desejam uma vida pessoal após a morte na qual seus amores e ideais continuem a fazer parte de sua experiência; (4) desejam que suas vidas individuais tenham significado e propósito; (5) desejam uma vida bela e dramática, ser parte de algo grande e importante, parte da luta entre o bem e o mal; e (6) experimentam a necessidade de ajuda e fortalecimento para viverem uma vida de virtude e caráter.
Eu acredito que se alguém comparar cuidadosamente o Novo Testamento com outras abordagens religiosas (incluindo o ateísmo), como fez meu aluno, descobrirá que a religião de Jesus de Nazaré fornece a análise mais profunda e perspicaz destes seis fatores, bem como a solução mais próspera para estes anseios do coração humano.
O princípio 3 aponta diretamente para o cristianismo.
Jesus
Princípio 4: Escolha uma religião em que a pessoa obtenha tudo de Jesus e não apenas uma porção distorcida e diluída dele.
Esse princípio parece puxar a sardinha para o lado do cristianismo, então deixe-me explicar. Você já percebeu que todas as religiões, inclusive algumas seitas do judaísmo, querem que Jesus seja um deles? Para os adeptos da nova era ele é um canalizador, para os muçulmanos ele é o maior profeta, e por aí vai. Mas por que isso? Creio que é porque Jesus é facilmente reconhecido como a maior personalidade da história humana. Já que a maior parte das pessoas não quer se posicionar contra Jesus, por que não escolher uma religião que tenha a maior chance de apresentar um relato preciso do que ele realmente foi, o que ele realmente fez e o que ele realmente ensinou?
Descubra você mesmo
Relembrando, acredito que o princípio 1 limita as opções ao judaísmo, cristianismo e islamismo. O princípio 2 limita as opções ao judaísmo e ao cristianismo, e os princípios 3 e 4 apontam diretamente para o próprio cristianismo. Mas não acredite na minha palavra. Eu me abstive de inserir os argumentos aqui para que você mesmo descubra aonde esses princípios o levarão.
Se você concorda que eles são bons princípios para escolher uma religião – e o que os torna bons é, por si só, uma pergunta interessante – então comece a ler e estudar para que você consiga preencher as lacunas que eu deixei aqui. Se você fizer isso, você não apenas obterá uma compreensão maior da sua própria fé, como será ainda capaz de ajudar as pessoas a verem que escolher uma religião não é um arbitrário salto no escuro.
Escrito por J. P. Moreland. Traduzido por Victor Terra.
Artigo original disponível em http://www.jpmoreland.com/articles/religionchoice/.
Sobre o autor:
J. P. Moreland é professor de filosofia na Talbot School of Theology, da Biola University, em La Mirada, Califórnia. É mestre em filosofia pela University of California-Riverside e doutor em filosofia pela University of Southern California. É autor e coautor de 30 livros, incluindo O Triângulo do Reino, Scaling the Secular City, Consciousness and the Existence of God, The Recalcitrant Imago Dei, Love Your God With All Your Mind, The God Question, e Body and Soul.
Leituras recomendadas:
- Racionalidade da Fé Cristã, por J. P. Moreland.
- Filosofia e Cosmovisão, por J. P. Moreland.
- O Triângulo do Reino, por J. P. Moreland.
- Scientism and Secularism, por J. P. Moreland.
- Ensaios Apologéticos, por J. P. Moreland, Francis J. Beckwith e William Lane Craig.
- Cristianismo Puro e Simples, por C. S. Lewis (1898 – 1963).
- Em Defesa de Cristo, por Lee Strobel.
- Jesus entre outros deuses, por Ravi Zacharias.
- Merece Confiança o Novo Testamento?, por F. F. Bruce (1910 – 1990).
- Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, por Norman L. Geisler (1932 – 2019) e Frank Turek.
- Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã, por William Lane Craig.