“E esse é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer.”,
trecho do romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
Recentemente vi uma amiga postar, orgulhosa e sorridente, pomposa edição da magnífica distopia (?) “1984”, de George Orwell. Muito bom! Neste momento, porém, eu recomendaria fortemente outra distopia: o romance “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
Incrédulo, penso que o cenário mais real e provável para o qual estamos nos direcionado, é o da “doce” promessa coletivista, que tão bem descreveu Huxley.
Orwell retratou de maneira brilhante as mazelas do totalitarismo, e a luta de uma população para escapar do jugo autoritário, nefasto, violento e imoral do Grande Irmão.
No entanto, “1984” reflete ainda uma visão mais otimista do homem, ou seja, um ser autônomo, pensante, capaz de reconhecer a própria servidão, e baseado em princípios, lutar por sua liberdade individual num ambiente de ampla repressão e de profusão do medo.
Huxley, por outro lado, apresentou uma sociedade em que as massas eram manipuladas pelos prazeres modernos, pelas facilidades existentes, seduzidas por privilégios, tornando-se presas fáceis para o controle estatista.
A massa que não pensa foi “domesticada”, acabando por ser cúmplice de sua própria perda de liberdade. Como Huxley advertiu em seu livro, os homens viriam a “amar sua servidão”.
Orwell temia a escassez e a distorção de informações. Já Huxley, temia que os prazeres conduzissem a irrelevância das informações, à passividade e ao egoísmo.
Devo dizer que o nosso presente se assemelha muito com a promessa coletivista “bondosa” profetizada por Huxley.
Neste contexto, os indivíduos pouco se importam com suas individualidades; preocupam-se com as “dádivas” que devem vir do Estado responsável por suas vidas, distraídos da umbilical relação entre coletivismo e totalitarismo.
As pessoas ficam inebriadas pelo pão dado, por supostos direitos sem contrapartidas com responsabilidades e por privilégios, perdendo o interesse pela vigilância e pelas liberdades que são esmagadas pelas autoridades estatais.
Oh, liberdade! Basta analisar o ambiente atual para se assombrar com a retirada de liberdades com a COVID-19, com o cerceamento de opiniões nas redes sociais, e com o descaso com a ética na política, em que comprovados ladrões ou se candidatam à presidência ou mandam prender homens, até prova em contrário, honestos.
Numa sociedade coletivista inexiste liberdade, pois ninguém pode falar e agir em nome de um indivíduo único, que pensa e que age de acordo com seus planos individuais.
No coletivismo há, de fato, a morte da soberania individual, uma vez que o pequeno corpo de elite de governantes e de intelectuais no poder, odeia a individualidade e a competição.
A ideia do coletivo pressupõe o apagamento do ser individual racional e pensante, visto que são os líderes que pensam no projeto de poder e manipulam a massa que não pensa.
O ser individual pensante, por sua vez, é avesso ao controle, já que a individualidade sempre foi uma afronta ao projeto de cima para baixo. É kafkiano, mas as pessoas não se dão conta da perda das liberdades individuais. A liberdade não cresce como uma árvore, ela foi e é conquistada.
Triste, muito triste que as pessoas estejam sacrificando suas próprias individualidades, como apontou Huxley, enquanto muitas esperam as migalhas de um coletivismo farsante.
Huxley e Orwell convergem num ponto: o coletivismo tem como destino certo a pobreza e o totalitarismo.
Escrito por Alex Pipkin, PhD.
Publicado originalmente no website de Percival Puggina, em 2 de junho 2021.
Puggina é membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor.