Cultura de massas e perda das identidades!

“Quanto mais longe você conseguir olhar para trás, mais longe você verá para frente.”,
Winston Churchill (1874 – 1965).



Vou falar de “gente moderna”. Meu objetivo, com esse incômodo e direto texto, não é criticar, mas dar subsídios para que façamos uma profunda reflexão sobre como lidamos com esses novos tempos, como nos relacionamos e o que passamos para as futuras gerações. Sempre observo a Sociedade pelo meu prisma de Comunicólogo.

O mais lamentável é ver como a Comunicação Moderna, ao invés de informar claramente sobre os fatos do mundo, se tornou partícipe de um processo de “formação social”. Podem considerar um tipo de lavagem cerebral, anulando a identidade das pessoas que, por não saberem mais quem são, assumem uma persona proposta nas novelas. O problema, é que não conseguem mais distinguir vida real de ficção, incorporando atitudes, comportamentos, copiados de meros personagens.

É assim que a nossa Sociedade foi produzindo uma geração de pessoas alienadas que desconhecem seu papel na Sociedade a qual pertencem, logo, não se respeitam e não tem discernimento para respeitar o mundo ao seu redor.

Sem Educação, não questionam, porque não tem como compreender a profundidade dos fatos apresentados nos noticiários, cada vez mais tendenciosos e com retóricas viciadas. Gente educada, tem discernimento, contesta, analisa e vota com clareza. População sem Educação é ignorante, vota sem pensar, e as pessoas, que perderam suas identidades, aceitam uma nova, com um padrão de vida sugerido nas novelas e nos programas de TV.

A chave é a Educação. Essa coisa maravilhosa que todos esses governos vêm negando para gerações. Deu nisso. Um povo que não sabe quem é. A experiência dos mais velhos se torna obsoleta, pois a “sabedoria dos antigos” é absurda e dispensável.

O prolongamento biológico e social da infância e da juventude – com todas as suas marcas, como o caráter lúdico e a criatividade – até idades avançadas e às vezes até o final da vida – diferencia o homem dos outros primatas mais próximos. A oposição das gerações se torna uma oposição da vida social num dado momento. A imprensa moderna ilustrada, o rádio, cinema, televisão e a Internet estão implantados em todos os cantos do mundo.

A sociedade está sofrendo mudanças profundas na sua estrutura, as comunicações estão evoluindo de uma forma alucinante e a globalização veio para ficar. A Sociedade de Consumo deu primazia ao homem consumidor e todas as classes sociais foram chamadas a consumir, acreditando adquirir “ascensão social”. Os produtos ficaram mais baratos, pois são feitos em larga escala, atendendo a uma enorme variedade de consumidores com diversos status e poder aquisitivo.

O sistema de comunicação de massa é mundial e os temas culturais que tomaram forma no Brasil invadem os mais diversos tipos de lares. Apesar das diferenças étnicas, o modelo de beleza sugerido se impõe em todas as camadas sociais, que mudam a cor do cabelo e seu modo de falar e vestir.

Infelizmente, o que se tornou importante é o aqui e o agora. O agora é definitivamente agora. Nós tentamos viver o que está disponível ali, no momento. Não faz sentido pensar que existe um passado que poderíamos ter agora. Isto é agora, este simples momento. É a diferença entre “Ambição”, onde o indivíduo aguarda os resultados de seu esforço, e a “Ganância”, onde ele quer tudo já e agora, não importando que o resultado seja menor ou pior. Desde que seja agora.

Nada místico, apenas “agora”, muito simples e direto. E desse “agora”, contudo, emerge sempre um sentido de inteligência de que estamos constantemente em interação com a realidade um por um. Lugar por lugar. Constantemente. Nós na realidade vivemos uma fantástica precisão, constantemente. Uma vida de ilusão. O que constitui a originalidade, a especifidade da Cultura de Massas é a direção de uma parte do consumo imaginário, pela orientação dos processos de identificação, para as realizações.

Mas a vida não pode consumir tudo e a Sociedade consumidora não poderá dar tudo. Ela retira mesmo quando dá. Proporciona segurança, mas não retira o risco e torna fictícia uma parte da vida projetando os espíritos dos espectadores em universos figurados ou imaginários, o que faz com sua alma migre para os inúmeros sósias que vivem para ele. A Cultura de Massas adapta essa projeção de identidade para se integrar a vida social e tomar partido dos cheios e dos ocos da civilização pela qual foi produzida.

Tudo o que vem de dentro da mídia controlada são coisas que levam todos os incautos e influenciáveis a caminhos errados e pouco morais. Veja o que ocorre com nossa juventude que, na sua ânsia de ser aceita socialmente, abre mão da própria personalidade num período tão importante para sua formação, surgindo então, um tipo de “individualismo coletivo”, ou seja, para você ser aceito num grupo, você pode ter sua personalidade, desde que seja igual aos outros do grupo, caso contrário, será traumaticamente excluído.

Os jovens tornam-se disformes e inexpressivos, como rabiscos que não foram passados a limpo, sem interação profunda, de preferência através do celular. Isso é terrível. Não há um esforço para garantir a unidade, apenas a individualidade importa. A moral é cínica, o egoísmo é legal, faz mais sentido ser racional, pois o temperamental será banido para o nada. A filantropia, praticada como “pilantropia” reforça o consenso de que não existe altruísmo. Certamente, técnica, indústria, capitalismo levam em si uma civilização pouco realista, que inscreve os grandes ímpetos subjetivos na busca por aceitação social. Mas esse realismo orienta o afluxo subjetivo sobre o indivíduo vivo e mortal.

Pessoa utilizando óculos de "Realidade Virtual".Curioso que uma sociedade que prega o individualismo, promova a perda de identidade como um meio de controle. Então como todo mundo, o indivíduo comete tantos clichês que acaba repetindo tudo o que já disseram, acaba escrevendo em blogs, não consegue passar um dia sem acessar seu e-mail e não imagina ficar sem celular. Podemos presenciar uma nova classe de pessoas, com novos traumas e outros tantos vícios, que foram criados para massificar, para tornar o mundo um comercial e assim, devorar qualquer indicio de individualidade cultural. Nós não nos damos conta de que vamos a algum lado e consideramos isso um incômodo.

Desde que Lacan cunhou o termo “sintoma social”, vinculando sua leitura ao trabalho empreendido por Marx, as interpretações psicanalíticas do mal-estar na Cultura têm tomado preferencialmente a via do “destino trágico”. Por um lado, encontram-se análises dirigidas pela crítica, de cunho “sociológico”, ao “individualismo narcisista” dos tempos modernos. As pessoas se tornaram previsíveis, à cada dia que passa, menos qualidade, menos caráter, apenas egoísmo, mesquinhez, ego, vaidade e poder!

Efeito Pigmalião (também efeito Rosenthal), é nome dado em psicologia ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela.

Em apenas duas décadas depois tudo ficou muito pior. Primeiro por que nosso ávido mercado de consumo transformou a ideia de identidade em produto rotativo. Você facilmente adquire uma nova identidade pagando seu design em 24 prestações em seu cartão de crédito. Técnicas de condicionamento, figurino, e manuais de autoajuda podem auxiliar na busca de tentativa de sucesso na adequação para a perda de sua identidade o ajustando ao ideal do mercado de consumo.

Esse efeito, chamado também de profecia autorrealizável, porque quem faz a profecia é na verdade quem a faz acontecer, afeta as relações em todos os campos da vida, e quando se espera coisas positivas das pessoas, essas tendem a vir; quando espera coisas negativas, elas provavelmente serão confirmadas.

Gente que pensa pequeno, faz pequeno e colhe resultados pequenos. E, por pensar pequeno, sempre busca um culpado pela sua pequenez. Espero que, nesse pequeno ensaio, desperte algum alerta que faça os leitores refletirem sobre suas atitudes. Precisamos de uma Sociedade mais saudável e consciente. A vida pode ser muito mais simples.

A busca por ter tudo, trocar o velho pelo novo, traz desconforto. Mas a Sociedade nunca está satisfeita. Uma vida com simplicidade é um dos valores que ainda serão percebidos como essenciais.


Escrito por Sérgio Avellar.
Artigo originalmente escrito para para Sala de Protheus.


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