Muito além da cretinice digital

Obra: "Cell phone addiction", de Kevin Miller.

Se você, leitor, quiser maximizar a exposição de seus filhos aos dispositivos digitais, dê a eles um smartphone e um tablet e certifique-se de que sua sala esteja equipada com uma televisão e um videogame. Lembre-se de que isso vai arruinar o sono, a saúde e o desempenho escolar deles, mas pelo menos eles ficarão calmos e o deixarão em paz.
Michel Desmurget



Desconfio sempre de pessoas muito entusiasmadas, da mesma forma que não levo a sério os alarmistas, que fazem uma canja rançosa com qualquer pé de galinha.

Bem, esse não é o caso de Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”. Aliás, um baita livro.

No meu entender, essa deveria ser uma leitura obrigatória para pais, professores e, principalmente, para os burocratas e políticos que não se cansam de inventar traquitanas que, hipoteticamente, melhorariam a qualidade da educação.

Obra: "A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças", de Michel Desmurget.Não duvido que políticos e burocratas, que se empolgam com toda ordem modismos, estejam cheios de boníssimas intenções, não mesmo. O problema, como todos nós sabemos, é que o inferno está cheio delas.

Enfim, em resumidas contas, a obra de Desmurget nos apresenta estudos, dados, fatos e evidências que demonstram o quão lesivo é para a formação das nossas crianças a exposição precoce e desmedida às telas, da mesma forma que desmitifica inúmeras crendices a respeito dos supostos benefícios que essas aratacas digitais trariam para o desenvolvimento cognitivo da gurizada.

Sem dúvida alguma, celulares e computadores podem ser úteis como ferramentas auxiliares nos estudos, jamais como o centro da aprendizagem. De mais a mais, quanto do tempo despendido com telas realmente é voltado para o aprendizado zeloso de algo? E com entretenimento vazio? Pois é.

O tempo com os olhos pregados nas telas, segundo o autor, varia de acordo com a faixa etária e com a classe social, mas, de um modo geral, um adolescente usa 7h22 por dia, o que representa 45% do tempo de vigília (acordado). No correr de 1 ano são 2680 horas; tempo equivalente a quase 3 anos letivos do Ensino Médio. Um tempo perdido para todo o sempre no deserto digital.

E, como todos nós sabemos, a superexposição a telas, além de reduzir o poder de atenção dos indivíduos (em média, 8 segundos), também diminui a capacidade de concentração, tornando-os impacientes, ansiosos e apáticos.

Enfim, essa é uma leitura urgente para aqueles que realmente estão preocupados com o futuro das tenras gerações o que, com o perdão da palavra, não tem nada que ver com essa conversa surrada de melhor educação da Via-Láctea, que só existe na cabeça de políticos e burocratas, que pensam em tudo, menos no futuro da criançada.


Por Dartagnan Zanela.

Pulicado originalmente em 17 de março de 2025 no website
do arquiteto, empresário, escritor Percival Puggina.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Cell phone addiction”, de Kevin Miller.


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