* Texto originalmente publicado no canal do Telegram do autor
Ainda persiste em nosso meio a ideia de que encontrar a vocação significa descobrir o que mais gostamos de fazer, ou o que demonstramos ser capazes de realizar com maior facilidade. Quase sempre, porém, a vocação está relacionada àquilo que enxergamos em uma profundidade e complexidade muito maiores do que o fazem as outras pessoas e, por isso mesmo, a algo que nos atinge com um peso e uma densidade enormes, em vez de uma colorida e despreocupada alegria infantil.
A vocação está relacionada às dificuldades e angústias específicas às quais temos uma estrutura própria para enfrentar e suportar, como que preparando e nivelando esses caminhos aos que não têm, para com eles, a mesma resistência que nós. É assim que um professor encurta a distância entre um aluno e o conhecimento, é assim que um médico aproxima a cura de um doente.
Descobrir e exercer a verdadeira vocação, portanto, torna-se uma obrigação de caridade para com o próximo e a sociedade inteira, pois o que está em jogo é este elo fundamental, esta “cola” que mantém unida a comunidade humana em sua profusão de personalidades, inclinações, virtudes e engenhos os mais diversos.
O estado atual da civilização é um flagrante exemplo do que acontece quando já ninguém mais encontra — nem quer encontrar — aquilo para o que foi chamado a realizar neste mundo. Já não há quem “encurte as distâncias”; o que se vê é tão somente um abismo cada vez maior entre aqueles que ainda se esforçam, aos trancos e barrancos, para viver mais próximos da verdade, e os que já abandonaram seus corpos e almas no altar sacrificial da escravidão espiritual moderna.
Por Daniel Marcondes
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Nota da editoria:
Imagem da capa: “The Passion of Creation”, de Leonid Pasternak (1862 – 1945).
Perfeito!