“Vós tendes por pai o demônio, e quereis satisfazer os desejos do vosso pai. (…) Quando ele diz a mentira, fala do que é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (Jo 8, 44)
Nos últimos dias, a atenção da população americana — e, agora, de todo o mundo — foi tomada por uma só notícia: David Grusch, identificado como ex-oficial da Força Aérea e envolvido na inteligência militar, declarou que o governo dos EUA não somente apoderou-se de OVNIs que teriam caído pelo país como concluiu, através de claras evidências, que a origem dos mesmos não é terrestre. Curiosamente, uma multidão de pessoas optou por acreditar, de súbito e sem a menor resistência ou questionamento, nas alegações de Grusch — inclusive o Sr. Tucker Carlson, ídolo da mídia conservadora americana, que afirmou que “ficou claro que ele [David Grusch] estava dizendo a verdade. Em outras palavras, os OVNIs são de fato reais e, aparentemente, a vida extraterrestre também. Agora nós sabemos”.
Carlson ainda questionou o fato de a notícia não ter recebido, por parte da grande mídia, a atenção que supostamente merece, vendo aí um indício da veracidade das afirmações do ex-oficial. Ao meu ver, a pergunta a ser feita é justamente a oposta: por que será que, de repente, uma notícia dessa natureza recebe, com tamanha facilidade, tão ampla e cega aceitação — inclusive por parte de figuras como o próprio Tucker Carlson? Afinal, as alegações do tal oficial sequer são minimamente originais: a ideia de que OVNIs caídos têm sido recuperados e estudados em segredo é basicamente a “acusação ufológica padrão” ao governo americano desde o Caso Roswell, ocorrido em 1947.
O fato é que independentemente das reais intenções por trás desse novo falatório, que podem incluir desde o costumeiro (e infalível) objetivo de desviar a atenção de algo mais sério até o de dirigir e preparar o rebanho para determinados eventos futuros, entre outras milhares de possibilidades, nunca esteve tão claro, nem jamais foi tão intenso o poder da mídia e da internet sobre a opinião pública e sobre as preferências, impressões e reações psicológicas mais íntimas de cada indivíduo — e isso vale para a mídia “conservadora” tanto quanto para a “de esquerda”.
Um é o problema do monopólio comunoglobalista da imprensa e dos grandes veículos de comunicação; outro bem diferente é o da postura pessoal do sujeito diante de qualquer fluxo midiático de informação, tenha ele o viés que tiver. Ultimamente temos visto o surgimento de cada vez mais canais de mídia independente de teor conservador e anticomunista, o que vem furando gradativamente as narrativas oficiais daqueles que, até então, falavam sem concorrência e de modo quase onipresente. Trata-se de um grande passo rumo à solução do primeiro problema citado, mas nada faz pelo segundo; este, por sua vez, exige de cada indivíduo o comprometimento pessoal de enxergar as atividades informativas, principalmente no campo da internet, em sua real dimensão e importância — que é grande, sem dúvida —, e de adquirir, a partir das fontes primárias, do esforço sincero dos estudos próprios e das instituições adequadas1, a necessária formação intelectual, moral e espiritual a partir da qual esse fluxo de informações será julgado, em vez de deixar que todas essas áreas sejam moldadas por ele — o que, em última análise, é impossível e apenas resultará em de-formação, uma vez que a atividade jornalística em geral, ainda que em sua mais alta expressão, não possui nem a vocação, nem os meios para fazê-lo. É claro que é possível termos uma imprensa que não só respeite a vida intelectual dos seus consumidores como também a cultive e promova, tal como já se viu em outras épocas, em outros lugares e também aqui mesmo, no Brasil; mas mesmo isso só pode acontecer graças ao brilhantismo individual de certos escritores e editores que a componham, e não por causa do sistema em si.
A partir desse recente rompimento com o discurso ideológico dominante, o Brasil testemunhou o nascimento de algo chamado “direita”. Acontece que esse Novo Mundo, ainda em processo de desbravamento, não é apenas a cristalização de um outro espectro político-ideológico, ou qualquer coisa do tipo, mas, principalmente — e os abutres de plantão o perceberam desde muito cedo —, um novo nicho de mercado. Deste modo, o “mundo conservador” brasileiro encontra-se atualmente repleto de aproveitadores e marqueteiros profissionais, principalmente pseudojornalistas e pseudointelectuais (a maioria posando de professor, vendendo conteúdos de coaching e autoajuda como se fosse filosofia e atuando os mais caricatos e grotescos personagens, do “limpinho imaculado” ao “influenciador de Tiktok”), de modo que simplesmente saltar da Rede Globo para um canal conservador qualquer na internet — mesmo um que escape a essas características e ofereça conteúdo da melhor qualidade — não irá resolver o problema da reforma intelectual e cultural, no sentido mais amplo do termo, que absolutamente todo brasileiro nascido ao menos nas últimas seis décadas, para dizer o mínimo, precisa enfrentar. Não se trata de optar entre deixar-se moldar por um conteúdo midiático “de esquerda” ou “de direita”, mas de entender que esse conteúdo não existe para isso, e que apenas uma educação sólida (na acepção da palavra, cujo sentido encontra-se infinitamente acima das instituições acadêmicas modernas) permitirá não apenas julgá-lo adequadamente — e, apenas então, aproveitá-lo naquilo que tem de melhor — como também criar um ambiente psicológico propício ao florescimento de uma atividade jornalística e informativa mais autêntica, intelectualmente mais competente e moralmente mais respeitável.
Quanto aos OVNIs, bem, não estou entre aqueles que acreditam que esta é a última das gerações e que o fim dos tempos é semana que vem (na verdade, não estou entre aqueles que tomam essa questão como objeto de especulação propriamente), mas não acho que seria prudente negar o fato de que os satanistas e demais agentes desta Nova Ordem Mundial — e não se enganem, todo esse tema dos extraterrestres e OVNIs nada tem a ver com outra coisa senão com o Pai da Mentira — nunca tiveram nas mãos, tanto quanto agora, as tecnologias e os corações dos iludidos, para fazer com que bilhões de pessoas passem a acreditar, imediata e servilmente, em qualquer, absolutamente qualquer história divulgada como “oficial”. O teste final e última etapa da esquizofrenização coletiva foi essa falsa crise sanitária, e todos viram o que aconteceu. Sendo assim, não descarto a possibilidade (apenas) de que a nossa geração ou a próxima testemunhe um anúncio oficial acerca da descoberta de “vida alienígena”, acompanhado de certos sinais nos céus, artificiais ou não, e exaltado como triunfo científico final sobre o criacionismo e a Igreja.
Confiemos em Nosso Senhor e façamos também a nossa parte, pois, neste aspecto, a vida espiritual funciona tal como a inteligência: quanto menos dela nos alimentamos e a buscamos, menos sentimos sua falta.
Por Daniel Marcondes
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Nota:
Nota da editoria:
Imagem de capa: O diabo mostrando o livro dos vícios a Santo Agostinho (c. 1471 – 1475), de Michael Pacher (1435 – 1498).