“O comunismo é uma religião inspirada, dirigida e motivada pelo próprio diabo
quem apoia declara guerra ao Deus o todo poderoso.”
Billy Graham (1918 – 2018)
Há quase dois milênios, alguns dos primeiros seguidores de Cristo em Jerusalém se organizaram de um jeito que ainda suscita a alegação de que as raízes do Cristianismo são socialistas, comunitárias ou até mesmo “comunistas”. Quando celebramos o nascimento de Jesus, devemos compreender que essa afirmação é espúria, se não blasfema.
Suas fontes são duas passagens do livro de Atos, do Novo Testamento, capítulo 2, versículos 44-45, que afirmam: “Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um.” Atos 4:32 declara: “Todos os que creram pensavam e sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham.”
Muitos na esquerda argumentam que o ensino cristão deveria rejeitar a propriedade privada e endossar um sistema socialista de redistribuição de riqueza. Afinal, não foi isso o que os primeiros cristãos fizeram?
Examine mais atentamente essas passagens em Atos. O arranjo “comunitário” era voluntário. Não há compulsão nem menção à única instituição na sociedade que pode empregar a compulsão de forma legal, nomeadamente, o Estado.
Atos 2:46 observa que esse grupo de cristãos primitivos “nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade” (ênfase adicionada). Se ainda possuíam casas, alguns, pelo menos, claramente não venderam tudo. Aqueles que o fizeram trouxeram o dinheiro das suas vendas aos apóstolos, não a qualquer governo – romano ou judeu, secular ou religioso.
Cristãos vêem Deus como o criador de todas as coisas e, portanto, como o dono de todas as coisas. Os seres humanos são administradores da Criação, e somos chamados pelas Escrituras a fazer bom uso dela. É provável, neste sentido transcendente, que alguns dos primeiros cristãos pensassem que sua riqueza material não era, em última análise, deles.
De qualquer forma, o socialismo não é a partilha voluntária dos bens de alguém. Qualquer um pode optar por fazer isso sob a antítese do socialismo, o capitalismo. Na verdade, ocorre mais filantropia nas sociedades capitalistas do que nas socialistas, e os governos dos países capitalistas estão constantemente enviando “ajuda externa” aos regimes mais socialistas, e não o contrário.
O socialismo é mais propriamente entendido como a concentração do poder político com o propósito — por meio do uso da força — de redistribuir riqueza ou planejar uma economia. Além disso, seu histórico lamentável começa com os primeiros cristãos que escolheram praticá-lo.
O apóstolo Paulo alude pela primeira vez aos problemas financeiros entre o grupo de Jerusalém quando descreve uma conversa que teve com seus líderes – Tiago, Pedro e João. Paulo diz: “Eles nos pediram só uma coisa: que lembrássemos dos pobres das igrejas deles, e isso eu sempre tenho procurado fazer.” (Gálatas 2:9-10)
Aparentemente, a igreja de Jerusalém estava no topo da lista dos “pobres” porque Paulo atendeu ao pedido de Tiago, Pedro e João, coletando dinheiro das novas igrejas cristãs em Antioquia, Macedônia e Corinto para enviá-lo às “pessoas do povo de Deus em Jerusalém que estão necessitadas”. (Romanos 15:26)
Em outras palavras, os subsídios dos cristãos de Antioquia, Macedônia e Corinto estavam ajudando a sustentar a empobrecida igreja de Jerusalém. E alguns destes doadores cristãos não tinham quase nada com que viver, muito menos dar. Por exemplo, Paulo descreve como os cristãos macedônios eram “muito pobres” e ainda assim “fizeram tudo o que podiam e mais ainda”. (2 Coríntios 8:2-3). Quão desesperados deviam estar os cristãos em Jerusalém para confiar em irmãos e irmãs cristãos que viviam em tal “pobreza extrema”? Não se pode duvidar da sinceridade dos comunalistas, mas pode-se certamente questionar até que ponto eles compreenderam alguns dos ensinamentos de Cristo.
Apenas uma vez Jesus ordenou que alguém vendesse tudo, e foi quando um homem rico perguntou como poderia garantir a vida eterna. Para demonstrar onde o coração do homem realmente estava (o que Jesus certamente sabia), Jesus disse-lhe para vender tudo. O homem se recusou e foi embora (Mateus 19:16-22). Jesus nunca sugeriu que todos deveriam vender tudo, e certamente nunca apoiou a coerção socialista, dirigida pelo Estado, para conseguir isso.
Na verdade, na sua parábola dos talentos (Mateus 25:14-30), Jesus reserva o maior elogio para o homem cuja iniciativa ampliou a riqueza material, e nenhum elogio ao homem que nada fez para criar valor. A sua parábola dos trabalhadores da plantação de uvas (Mateus 20:1-16) proporciona uma defesa poderosa do contrato voluntário e da propriedade privada, e a sua parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37) enobrece o homem que ajuda o outro com os seus próprios recursos e a sua livre vontade. Se aquele samaritano tivesse dito à vítima desesperada na beira da estrada “espere que o governo apareça e te ajude”, provavelmente o conheceríamos hoje como “o samaritano inútil”.
O fato é que, embora alguns dos primeiros cristãos se organizassem de uma forma “comunitária”, a maioria não o fez. Nos 20 séculos seguintes, poucos cristãos escolheram o caminho comunitário, e a maioria dos que o fizeram rejeitaram-no quando ele inevitavelmente falhou. Os peregrinos de Plymouth, por exemplo, passaram fome até que o governador William Bradford abraçou a propriedade privada. As experiências socialistas utópicas na América do século XIX, num total de mais de 100 e muitas vezes inspiradas por visões errôneas da ética cristã, expiraram todas em poucos anos.
Imagine se Jesus voltasse hoje e, falando para uma plateia lotada em um grande teatro, perguntasse: “o que vocês fizeram para ajudar os pobres?” Somente os superficiais ou iludidos ficariam impressionados se alguém levantasse a mão e dissesse: “votei nos políticos que disseram que cuidariam disso”.
Em vez de seguir o exemplo de Bernie Sanders, Karl Marx, ou mesmo daqueles primeiros comunalistas de Jerusalém, quem é cristão – e até quem não é, também – deveria lembrar do que o apóstolo Paulo disse em 2 Coríntios 9:7: ”Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.”
Por Lawrence W. Reed.
Publicado em 15 de Janeiro de 2024 no website do Instituto Rothbard Brasil.
Para acessar o artigo original, em espanhol, clique aqui.
Nota da editoria:
Imagem da capa: afresco “A última ceia” (1495 – 1498), obrado por Leonardo da Vinci (1452 – 1519) em uma das paredes do antigo refeitório dos monges no Convento Santa Maria Delle Grazie, em Milão (Itália).