“No ensino básico, me ensinaram que um sapo transformando-se num príncipe era um conto de fadas.
Na universidade, me ensinaram que um sapo transformando-se num príncipe era um fato!”
Ron Carlson, romancista norte-americano.
Uma recente postagem1 na rede social X mencionou uma história que muitos de nós não conhecíamos. Trata-se de um casal que tentou criar seu bebê com um filhote de chimpanzé. Antes que você interrompa a leitura para condenar o ato, deixe-me começar dizendo que a história (verídica) aconteceu no início dos anos 1930, quando o materialismo parecia algo novo e empolgante para muitos. Se alguém tentasse fazer isso em 2023, os Serviços de Proteção à Criança e a SPCA seriam imediatamente chamados.
Adentrando a cápsula do tempo
Vamos entrar na cápsula do tempo (em nossa imaginação) e voltar para 1931, quando esse tipo de coisa ainda era algo novo e legal.
Quando o filho do casal, Donald Kellogg, tinha apenas dez meses, os pais e psicólogos Winthrop e Luella Kellogg decidiram criá-lo junto com um filhote de chimpanzé de sete meses, uma fêmea chamada Gua, em uma casa temporária na Flórida, próxima a um centro de pesquisas de primatas. Winthrop Kellogg já havia escrito sobre as possibilidades de humanizar o macaco2, e o nascimento de um filho ofereceu-lhe essa oportunidade. Ele decidiu tratar os dois bebês da mesma maneira, proporcionando-lhes o mesmo cuidado e atenção.
Foi uma época confiante para projetos como o de humanizar um filhote de chimpanzé. Contudo, depois de nove meses, os Kelloggs precisaram cancelar o experimento3. O que aconteceu? Diferentes histórias são contadas. Aqui está uma da Reuters, datada de 1951:
“O experimento foi descrito pelo Sr. Cyril Burt, um ex-professor de psicologia da Universidade de Londres, em um artigo para a The Family Doctor, revista da Associação Médica Britânica. Criada pelo professor e sua esposa, ‘Gua foi tratada não como um animal de estimação, mas como um membro da família, vestida exatamente como a criança, amamentada e treinada da mesma maneira, recompensada, repreendida ou punida da mesma forma’, dizia o artigo. Mas no início do segundo ano, a criança começou a usar palavras e frases de forma completamente espontânea, e a imitar as ações dos mais velhos, de uma forma que o animal nunca poderia conseguir.” 4
Uma história mais complexa
Havia uma divergência natural de habilidades. Mas uma história mais complexa surgiu, mais tarde. Rachel Nuwer escreveu na Revista Smithsonian:
“Pode ser que os Kelloggs estivessem simplesmente exaustos após nove meses de paternidade e trabalho científico incessante. Ou talvez tenha sido o fato de que Gua estava ficando mais forte e menos controlável, e os Kelloggs temiam que ela pudesse prejudicar seu irmão humano. Finalmente, uma outra possibilidade vem à mente, apontam os autores: enquanto Gua não mostrava sinais de aprender linguagens humanas, seu irmão Donald começou a imitar os ruídos de chimpanzé de Gua. ‘Em resumo, o atraso na linguagem de Donald pode ter encerrado o estudo’, escrevem os autores.”5
Bem, já que os autores do artigo mencionaram isto, uma criança de fato teria seu desenvolvimento interrompido se fosse criada junto de um chimpanzé que, por sua vez, é tratado como se fosse outra criança. Donald deveria estar aprendendo a falar com os pais, irmãos e colegas durante os anos críticos de formação, e não com um macaco. No final das contas, o chimpanzé nunca aprenderia a falar, mas o menino poderia acabar sofrendo atrasos na fala.
Os pais produziram um estudo e um livro a partir do experimento, publicados em 1933:
“O estudo geral, chamado O macaco e a criança, possui mais interesse histórico do que científico. Gua desenvolveu-se fisicamente muito mais rápido que Donald. Gua imitava comportamentos adultos, usando sapatos, abrindo portas através da maçaneta e se alimentando com um copo e uma colher. O chimpanzé também superava o humano quando se tratava de testes físicos.”6
No fim, os Kelloggs voltaram para Indiana. Gua foi devolvida ao centro de primatas, onde morreu um ano depois devido a uma pneumonia, e vários autores julgaram importante mencionar que Donald Kellogg cometeu suicídio em 1973, contando apenas 43 anos de idade7.
Não é algo material
Olhando para essa história de quase um século de distância, é difícil entender o que o experimento demonstrou que não poderia ter sido observado estudando-se bebês humanos e filhotes de chimpanzés isoladamente: os chimpanzés apresentam um desenvolvimento físico mais rápido, mas, em termos intelectuais, atingem um patamar após o qual nunca avançam, em comparação com as crianças. Apesar de várias tentativas, ninguém jamais conseguiu dar mentes humanas a chimpanzés — certamente o objetivo real desde o início — porque a mente humana não é algo material. Não podemos sair por aí distribuindo o que simplesmente não controlamos.
E podemos ser todos gratos pelos atuais comitês de ética em experimentação. Pelo menos já é um esforço.
Por Denyse O’Leary
Traduzido pelos editores da Cultura de Fato.
Artigo original disponível em
https://evolutionnews.org/2023/10/when-a-child-and-a-chimp-were-raised-together/.
Notas:
- https://x.com/historyinmemes/status/1712693568458883369?s=20
- https://gwern.net/doc/psychology/animal/1931-kellogg.pdf
- https://twitter.com/timecaptales/status/1712694039567303148?s=20
- “Little ‘chimp’ proves smarter than human baby after one year”. The Montreal Gazette. Reuters. 27 de julho de 1954.
- Rachel Nuwer, “This guy simultaneously raised a chimp and a baby in exactly the same way to see what would happen”, Smithsosian Magazine, 28 de julho de 2014.
- Esther Inglis-Arkell, “The 1931 experiment that paired a newborn chimp with a newborn baby”, Gizmodo, 5 de dezembro de 2013.
- https://www.the-sun.com/news/3802699/experiment-baby-donald-ape-human-killing-himself/
Notas da editoria:
A imagem de capa contém um recorte de uma pintura a óleo, clique aqui para acessá-la integralmente.
Em complemento, assista recortes do “estudo” gravados em 1932: