“Se você acredita em direitos iguais, então o que significam ‘direitos das mulheres’,
‘direitos dos homossexuais’? Ou são redundantes ou são violações do
princípio da igualdade de direitos para todos.”
Thomas Sowell
o Princípio de Pareto, baseado na observação empírica da realidade, constata que (mutatis mutandis) 80% dos efeitos derivam de 20% de causas. Wilfredo Pareto constatou, por exemplo, que 80% das terras na Itália pertenciam a 20% da população; ou que apenas 20% das ervilheiras do seu jardim continham 80% das ervilhas.
Hoje sabemos empiricamente, por exemplo, que 80% das vendas de uma empresa são realizadas em cerca de 20% dos clientes. Ou que 80% das reclamações recebidas em um empresa vêm de 20% dos clientes; ou que 80% dos lucros de uma empresa têm origem em 20% dos empregados; ou que 80% das vendas de uma empresa são realizadas por apenas 20% dos vendedores.
Portanto, a diferenciação produtiva é inerente à própria realidade empiricamente verificável.
A elite progressista e igualitarista de Esquerda (passo a redundância), não nega explicitamente a realidade constatada empiricamente pelo Princípio de Pareto: estes aspirantes à elite apenas pretendem ocupar o lugar social dos privilegiados (pretendem ser eles os privilegiados, e não os que são garantidos pela Lei Natural e pelo Princípio de Pareto) — não por mérito próprio, mas por usurpação de direitos alheios; pretendem criar uma elite alternativa à existente, que se baseie, não nos méritos próprios, mas na legitimidade do uso da força bruta do Estado para o exercício de uma tirania anti-natural e puritana.
“Um direito digno desse nome não pode ser um direito que caduca quando a força bruta do Estado acaba.”
Rousseau
O que a Esquerda progressista e igualitarista pretende é a instituição e legitimação de uma força bruta do Estado que lhes garanta um estatuto de privilégio que escape à lei natural e, neste caso, ao Princípio de Pareto. São os herdeiros do narcisismo exacerbado dos puritanos do século XVII e dos gnósticos da Antiguidade Tardia: assumem, para si próprios, um estatuto divino, consideram-se (a si mesmos) uma espécie de semi-deuses.
“O gnosticismo é um sistema de crenças que nega e rejeita a estrutura da realidade, particularmente a realidade da natureza humana, e substitui-as por um mundo imaginário construído por intelectuais gnósticos e controlado por activistas gnósticos.”
Eric Voegelin, “A Nova Ciência da Política”, 1952
Tal como aconteceu com os puritanos [principalmente os calvinistas e derivados] do século XVII, os puritanos atuais (a Esquerda progressista e igualitarista) assumem que:
- a imperfeição da Natureza Humana (e de todas as criações humanas) resultam de uma sociedade injusta e imperfeita [“a culpa é da sociedade”];
- o mundo é defeituoso e falho, mas o Homem pode torná-lo perfeito ou, pelo menos, impor um “mundo melhor” contra, ou apesar da Natureza Humana;
- o puritano exige, de si mesmo, um autojulgamento elitista e uma abnegação própria de uma religião política (ideologia);
- o puritano é um individualista que despreza a individualidade — na medida em que a soteriologia puritana depende ou da sua relação direta com Deus (no caso dos puritanos do século XVII), ou do seu estatuto auto-assumido de privilegiado ontológico (a auto-assumida “elite da sociedade”, cuja salvação hic et nunc, imanente e histórica, está ontologicamente garantida). O novo puritano não padece de sentimento de culpa, porque “está salvo” (soteriologia) em função da auto-assunção do seu próprio estatuto salvífico.
- a experiência da conversão à doutrina (à ideologia) e consequente salvação imanente (soteriologia histórica) deu — ao puritano progressista e esquerdista militante — privilégios especiais, mas exige obrigações especiais.
- As obrigações especiais incluem a imposição (à sociedade inteira), por parte dos puritanos, de uma nova moral que exige uma obediência política rígida, mesmo tirânica.
As leis proibicionistas, próprias dos puritanos e dos progressistas atuais, resultam da auto-presunção de superioridade moral dos puritanos (os do século XVII e os do século XXI).
No século XVII, os puritanos invocavam o Livro do Apocalipse para anunciar o fim do mundo. Os puritanos atuais, por exemplo com a profetisa Greta Thunberg e os seus milhões de acólitos, invocam a “ciência das certezas absolutas” (cientismo) para anunciar o fim dos nossos dias devido às “filhas e filhos da perdição” (a Direita).
Os puritanos [os da Antiguidade Tardia, do século XVII e do século XXI (estes últimos, os puritanos secularistas)] são predestinados, receberam os “frutos do espírito”.
O puritanismo, no seu sentido negativo, é, hoje, menos comum entre os calvinistas do que entre os progressistas esquerdistas (passo a redundância) que transportam a tradição puritana de forma inconsciente: os puritanos contemporâneos (o esquerdopatas) emulam as características emocionais e emotivas dos seus precursores do século XVII: um moralismo novo e considerado “superior” (o Wokismo que, por exemplo. legaliza o aborto generalizado de seres humanos mas proíbe as touradas), e o prazer imenso em apontar os pecados aos outros (os de quem discordam), e o amor dedicado à “caça às bruxas” (Cancel Culture).
Os puritanos progressistas e secularistas atuais têm os defeitos dos puritanos do século XVII, mas não têm as suas virtudes.
Por Orlando Braga.
Originalmente publicado em 11 de maio de 2024, no website do autor.
Notas da editoria:
1. O artigo foi minimamente modificado. A versão original foi escrita em português de Portugal. Para acessá-la, clique aqui.
2. Imagem de capa: “The Sower” (2013), de Liz Lemon Swindle. Representa Mateus 13 1-9 (parábola do semeador).