A verdade existe?

Recorte da obra: "Nascer do sol" de autoria do pintor russo Vladimir Kush.

Uma pessoa que diz que a verdade é relativa, está pedindo para você não acreditar nela.”,
Roger Scruton (1944 – 2020): filósofo e escritor inglês.



Quando se pergunta: “a verdade existe?”, quem faz a pergunta admite, à partida, a possibilidade de uma resposta ― porque caso contrário a pergunta seria absurda ― e portanto já pressente, ou sabe intuitivamente, que a verdade existe. O que a pessoa que pergunta não sabe, é quais são as respostas corretas e erradas à pergunta, o que significa que o fato de a verdade existir é independente do critério racional seguro que a distinga. Quem pergunta, sabe que a verdade existe; o que não tem a certeza é se aquilo que diz ― ou o que pensa ― ser a verdade, é a verdade.

Por outro lado, se alguém afirma categoricamente que “não existe qualquer verdade”, pretende afirmar uma verdade, acabando, por isso, por se contradizer ― porque se alguém afirma algo, está convencido que a sua afirmação está correta e que todos devem corroborar essa sua opinião. Por conseguinte, essa pessoa pressupõe que existem afirmações que possuem uma validade incondicional, portanto, verdades incondicionais. Isto significa que quem afirma que “não existe qualquer verdade” pressupõe ― mesmo que essa afirmação possa estar errada ― que a verdade e o erro se excluem mutuamente, e em consequência, existe entre a verdade e o erro uma diferença que não pode ser relativizada. Por outras palavras: quando alguém diz que “tudo é relativo porque não existe qualquer verdade”, cai em autocontradição e no absurdo.

Lâmpada onde o filamento é o sol.A verdade está condenada à existência.

Resulta do conflito entre “a verdade que sabemos que existe” (e por isso perguntamos) e o critério de apuramento da verdade, a contradição entre duas proposições: “nós sabemos que a verdade existe” e “nós não sabemos como (e se) a verdade existe”, sendo que estas proposições antagónicas são assumidas simultaneamente. Como as duas afirmações não podem ser válidas ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, começa aqui o problema. E razão primeira deste problema é que a razão humana é contraditória em si mesma.

O que se pode dizer sobre a verdade formal (a forma da verdade), é que “a verdade absoluta só pode ser pessoal” (Nicolau Hartmann), mas ao mesmo tempo, para que essa “verdade absoluta pessoal” seja verdadeira, tem que ser universal ― quando ela não tem validade só para mim; a minha verdade absoluta tem que ter algo em comum com todos os seres humanos porque possui a qualidade da verdade, independente de mim.


Escrito por Orlando Braga.
Publicado originalmente no blog do autor, denominado Perspectivas.


Nota do editor:

A imagem associada a esta postagem ilustra recorte da obra: “Nascer do sol”, criada pelo pintor russo Vladimir Kush.


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