Manipulação sem inocência

Obra: "The manipulation from the anti-consciousness monsters", de Darwin Leon.

Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude,
o cinismo é a afirmação ostensiva do vício como virtude.
Olavo de Carvalho (1947 – 2022)



Vivemos a era da manipulação, mas isso não significa que somos inocentes nessa história.

Temos o costume, sim, de colocarmo-nos como vítimas dos manipuladores. No entanto, começamos a deixar de sê-las ao normalizarmos suas atitudes. E fazemos isso ao aceitar o seu uso, por exemplo, da linguagem subliminar como forma de persuasão ou ao ter como admirável o vendedor que diz “acessar” o sistema límbico de seus ouvintes para fazê-los adquirir os seus serviços.

Consentimos tanto com a manipulação que fizemos do neuromarketing a ciência do momento.

Chegamos a esse ponto pela junção de dois fatores: a expansão das redes sociais, que fez das pessoas produtos, e o esgotamento da confiança no discurso argumentativo como via para o convencimento. Em se tratando de persuasão, fiam-se apenas numa linguagem sub-reptícia e manipulatória, do tipo da PNL e da hipnose.

A sensação que temos é que ninguém mais fala diretamente, nem é sincero, nem expõe o que pensa, mas estão todos se vendendo, se promovendo, persuadindo-nos, ou seja, tentando nos manipular.

No entanto, temos nossa parcela de culpa nesse processo.

Afinal, ninguém faz o que não deseja. Ajo porque quero. Se fui seduzido, é porque a sedução encontrou o meu desejo. A serpente manipulou Eva, mas Eva desejou o fruto; o canalha seduziu a garota, mas a garota desejou o canalha; o golpista enganou a vítima, mas a vítima desejou a oferta do golpista.

Quem manipula apenas sugere, mas quem decide satisfazer o desejo, vencendo a barreira moral ou a conveniência que lhe impedia, é o manipulado.

Por isso, o manipulado é responsável pelos seus atos. Esse é o motivo de Adão ser indesculpável: se ele foi seduzido pela proposta diabólica, é porque desejava o que o diabo lhe propôs.

Portanto, antes de nos vermos como vítimas da manipulação, precisamos ser claros quanto ao que desejamos e confessarmos que são esses desejos que fornecem a matéria-prima para os manipuladores trabalharem.

Não somos inocentes. Afinal, ninguém faz, mesmo quando sugerido, a não ser sob coação, o que não quer.


Por Fabio Blanco.
Publicado no canal do Telegram do autor, em 7 de Março de 2024.
Fabio Blanco também é o responsável pelo portal filosofiaintegral.com.br, e seu wesite fabioblanco.com.br.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “The manipulation from the anti-consciousness monsters”, de Darwin Leon.


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