“Uma verdade que é dita com má intenção derrota todas as mentiras que possamos inventar.”
William Blake (1757 – 1827)
Há um tipo de manipulação mais perversa que a manipulação diabólica: a manipulação virtuosa. Enquanto o diabo seduz para levar a pessoa a satisfazer-se em seu próprio desejo, a manipulação virtuosa é mais cruel, pois tira vantagens de sua boa vontade, de seu objetivo de ser alguém melhor — espiritualmente, profissionalmente, pessoalmente, socialmente — e, em vez de seduzi-la, sujeita-a.
Diferente da manipulação sedutora, que rompe, por meio da racionalização ou da justificativa, a barreira da consciência pessoal, que, usando da moralidade ou conveniência, inibe a satisfação do desejo, a manipulação virtuosa não se depara com barreira alguma, porque o querido está previamente autorizado.
O problema é que, por querer a virtude, o manipulado mantém uma atitude acrítica em relação às sugestões do manipulador. Este, então, ciente do efeito da virtude sobre o manipulado, trata de personificá-la em si, mostrando-se como o exemplo perfeito daquele que a alcançou plenamente.
A partir desse momento, o manipulador já não é mais alguém que ensina o que fazer para alcançar tais virtudes, mas passa a encarná-las e a agir como a própria manifestação delas. Suas palavras, então, passam a ser inerrantes para o manipulado; suas dicas se transformam em dogmas e suas atitudes, em referência.
Porém, o manipulador não quer conduzir o manipulado às virtudes, mas arrancar dele benefícios para si. Então, passa a sugerir tarefas difíceis de serem realizadas, só para que o manipulado se perceba distante do objetivo virtuoso e, assim, se sinta fragilizado, impotente. Nesse ponto, o manipulado restará totalmente à sua mercê.
A partir daí, tudo o que o manipulador lhe sugerir — comprar, vender, fazer, pensar — ainda que não diretamente ligado à virtude procurada, será aceito sem restrições. Afinal, pela sua perspectiva, o manipulador sabe o que está fazendo e isso é para o bem.
Assim nascem os manipuladores religiosos, motivacionais, políticos e de desempenho.
Conhecer, portanto, a gênese o processo que envolve esse tipo de manipulação serve de alerta para aqueles que desejam o bem, mas se sujeitam a depender dos outros para alcançá-lo.
Por Fabio Blanco.
Publicado no canal do Telegram do autor, em 10 de Março de 2024.
Fabio Blanco também é o responsável pelo portal filosofiaintegral.com.br, e seu wesite fabioblanco.com.br.
Nota da editoria:
Imagem da capa: “O hipnotizador” (1887), de Richard Bergh (1858 – 1919).