Este artigo foi originalmente publicado pelo website Mídia Sem Máscara, em 27 de fevereiro de 2011. Consideramos de extrema utilidade republicá-lo, pois contém informações das quais permanecem válidas. Além do mais, é nosso desejo: (1) registrar que durante décadas Olavo de Carvalho estudou, compreendeu e alertou sobre os movimentos revolucionários, seus acertos fizeram com que suas análises atingissem primeiramente intelectuais e depois tornou-se conhecido pelas massas; (2) O Mídia Sem Máscara, Media Watch fundado por Olavo de Carvalho, recentemente retornou ao ar e, nós da Cultura de Fato o recomendamos fortemente.
Nesta semana tive o prazer de entrevistar o filósofo brasileiro e presidente do Inter-American Institute, Olavo de Carvalho. Durante a conversa, sugeri que há algo de errado com nosso pensamento hoje; que não adoramos a Deus do mesmo modo, nem obedecemos às regras do mesmo modo, nem observamos as boas maneiras como no passado. “Para alguém como eu”, começou ele, “que visitou este país nos anos 80 e voltou para viver aqui em 2005, as mudanças que a mentalidade americana sofreu em décadas recentes são realmente chocantes.”
Carvalho me recomendou a leitura do livro de Tamar Frankel Trust and Honesty: America’s Business Culture at the Crossroad [Confiança e Honestidade: A Cultura Americana dos Negócios em uma Encruzilhada], o qual, ele explicou, “descreve o declínio alarmante dos padrões morais no mundo americano dos negócios…” De acordo com o livro de Frankel, a erosão da confiança e da honestidade tem a ver com a aceitação e a justificação crescente de práticas fraudulentas. “O que mudou”, escreve ela, “é a atitude em relação à desonestidade e a quebra da confiança. Hoje, há uma maior aceitação e mais justificação da desonestidade.” Como isso aconteceu? Com a remoção de certas barreiras à fraude, a tentação aumentou.
Carvalho tem sua própria maneira de discernir as causas da deterioração moral e intelectual dos Estados Unidos. “Um dos fatores que causou esta mudança, com suas consequências altamente corrosivas para a vida diária dos americanos, foi o “neoliberalismo” em voga, que via o mundo dos negócios como um poder auto regulatório, capaz de se sobrepor à moralidade, à religião e à cultura e de ditar padrões de conduta com base no poder supostamente milagroso das leis do mercado. O que tornou os EUA grandes não foi só a economia de livre mercado, mas uma síntese disso com a moralidade cristã e com uma cultura que incluía o amor ao país e à família. Separada dessas forças regulatórias, a economia capitalista se torna um motor de autodestruição, que é exatamente o que está acontecendo hoje.”
Sem dúvida, há muita verdade na afirmação de que a sociedade americana tradicional sofreu colapso, sendo substituída pela “sociedade aberta”, assim batizada por George Soros e Karl Popper. De acordo com Carvalho, a sociedade aberta se define como “não reconhecendo nenhum valor transcendente e deixando tudo à mercê de conveniências econômicas – conveniências que se alegam até para se justificar a própria demolição do mercado livre e sua substituição pelo estado de bem-estar social, baseado em taxação e dívida.” Em outras palavras, Carvalho está dizendo que o livre mercado não torna os homens bons. Ele não os treina para serem morais. Ele não se dá ao trabalho de se defender do socialismo. Esses elementos na sociedade que no passado instilavam valores morais não são mais tão eficazes, se é que têm alguma eficácia.
Carvalho é de opinião que o conceito de “sociedade aberta” está sendo usado pelos inimigos dos EUA para destruírem “tudo o que é bom e grande neste país.” Ele então menciona o pensador geopolítico russo Alexander Dugin, e “o emergente projeto russo-chinês…”. Usando uma propaganda sutil, observa Carvalho, a “sociedade aberta” se torna um pretexto para difundir ódio global generalizado contra os Estados Unidos, pois a “sociedade aberta” produz uma degeneração moral que é, em seguida, atribuída ao modo americano de vida, o que supostamente demonstra a perversidade e decadência particulares do povo americano. Isso leva diretamente a uma discussão sobre os males do imperialismo cultural americano – o grito de guerra dos estrategistas russos e chineses, cujo objetivo é a eliminação dos Estados Unidos como potência mundial. A eficácia desta estratégia não deve ser subestimada. Como explica Carvalho, “A influência russo-chinesa tem crescido cada vez mais na América Latina. O governo dos Estados Unidos não percebeu isso porque ainda vê a Rússia e a China como aliados, apesar do fato de que eles são os dois maiores fornecedores de armas para o terrorismo ao redor do mundo. É preciso lembrar que a política externa de Putin é hoje guiada pela tão chamada estratégia “eurasiana”, inventada pelo filósofo russo Alexander Dugin, que propõe que a Rússia, a China e o islamismo se aliem com todas as forças antiamericanas na Europa Ocidental, na África e na América Latina, com o propósito de fazerem um cerco final aos Estados Unidos. Essa estratégia já tem forte apoio militar na Organização de Cooperação de Xangai, um tipo de versão oriental da OTAN que reúne a Rússia, a China, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão.”
Perguntei a Carvalho sobre reportagens recentes de um acordo entre o Irã islâmico e a Venezuela comunista para construírem uma base estratégica de mísseis apontados para os Estados Unidos. Perguntei se os marxistas da América do Sul estavam aliados à Al Qaeda e Teerã. “Sim, estão,” respondeu ele. “Eles também estão aliados ao ETA, que é uma organização terrorista basca. Há muitos agentes dessas organizações no séquito de Hugo Chávez. Esse fato não é desconhecido de muitos governos latino-americanos, mas a maioria deles tem o compromisso de ficar de boca fechada sobre isso por causa dos acordos que assinaram como membros do Foro de São Paulo, a organização que lidera o movimento comunista na América Latina.”
Eu então pedi a Carvalho para dar os nomes dos países trabalhando com os terroristas em todo o mundo para destruir os Estados Unidos. Ele respondeu assim: “Irã, Síria, Coreia do Norte, Cuba, Rússia e especialmente a China são os principais. Na América Latina, a Venezuela é o exemplo mais óbvio, mas a Venezuela não seria nada sem o apoio que recebe de todos os governos do Foro de São Paulo, cujo líder é o Brasil.”
De acordo com Carvalho, a esquerda continua a consolidar sua posição na América Latina. “Ela tem seguido uma estratégia que foi explicitamente apresentada em um congresso comunista chinês há poucos anos: tomar o poder por meio de eleições legais e então erodir o sistema democrático a partir de dentro, para impedir a oposição de voltar ao poder em eleições futuras,” explica ele. “Ou seja: eles vencem uma primeira disputa e em seguida passam a mudar as regras do jogo. No Brasil, esta estratégia tem levado a resultados espetaculares. Primeiro, a ideia era limitar o campo político a apenas dois disputantes: a esquerda radical e a esquerda moderada. Todas as outras forças políticas foram desmanteladas por meio de auditorias fiscais seletivas e acusações de corrupção que sequer precisavam ser provadas, já que elas destruíam reputações para sempre, assim que eram proclamadas em voz alta pela mídia.”
Poderia o aliado tradicional dos Estados Unidos na América do Sul estar sob o controle de um movimento totalitário? Como poderíamos não ter percebido um acontecimento tão espantoso? “Os formadores de opinião dos Estados Unidos têm uma visão errada do Brasil”, diz Carvalho, “porque o governo brasileiro sempre agiu com duas caras e de modo camuflado. Por um lado eles cortejam os investidores americanos para fortalecerem a economia brasileira, mas por outro eles tiram proveito do sucesso econômico a fim de consolidarem o poder esquerdista em casa, tornarem impossível qualquer oposição política que não seja da esquerda moderada, e darem apoio efetivo à ascensão da esquerda nos países vizinhos, enquanto protegem organizações abertamente terroristas como as FARC e o MIR chileno, que assim acabou controlando o crime organizado local e ganhando o monopólio do mercado das drogas no Brasil. Na Venezuela, Hugo Chávez também desmantelou a oposição, mas usando métodos mais crassos.”
Já que o Brasil abriga a parte mais importante do movimento comunista na América Latina, como tem progredido a campanha antiamericana? De acordo com Carvalho, a esquerda nem sempre consegue avançar. “Ela segue um ritmo alternante”, explica ele, “dependendo de se o importante no momento é adular os investidores estrangeiros ou unificar e fortalecer a Esquerda latino-americana.”
“Há mais de dez anos”, observa Carvalho, “eu tenho alertado que o Partido dos Trabalhadores (no Brasil) não é uma organização como as outras; ou seja, disposta a se alternar no poder com a oposição. O Partido dos Trabalhadores é uma organização revolucionária que tem o compromisso de remodelar o Estado e da sociedade inteira à sua imagem e semelhança, usando, para esse fim, os meios mais vis e corruptos. Como ninguém nunca acreditou em nada disso, todos se desarmaram gentilmente em face desse partido em ascensão e agora que ele controla tudo, ninguém pode fazer nada contra ele. O Brasil está sendo governado por um só partido com muitos nomes. Não vejo perspectiva mudança dessa situação no curto ou médio prazo.”
Perguntei a Carvalho sobre o Chile, que se desviou da esquerda nas últimas eleições. De todos os países na América do Sul, qual é o segredo do aparente conservadorismo do Chile? “A elite chilena é infinitamente mais educada e moralmente mais bem preparada do que a elite brasileira,” responde ele. “Quando as coisas começam a caminhar para o abismo, os chilenos conseguem entender o que está acontecendo e mudar de curso antes que o desastre ocorra. Você não consegue imaginar a preguiça intelectual dos empresários, políticos e militares brasileiros. Mesmo quando a situação se torna alarmante, eles se aferram a suas crenças confortáveis e costumeiras e se recusam a se informarem sobre o que está de fato acontecendo. As classes ricas no Brasil são presunçosas e indefesas. Elas não sabem como resistir ao jogo sutil das lisonjas e ameaças jogado pelo governo esquerdista que as controla. Não só no Chile, mas também na Argentina, as elites estão muito mais bem preparadas para enfrentar tal situação.”
E qual é a coisa mais importante que os americanos precisam saber sobre a presente situação política na América do Sul? “A coisa mais importante”, diz Olavo, “é a profunda e sólida unidade dos movimentos esquerdistas locais, que ultrapassa das fronteiras das nações; a unidade da estratégia revolucionária subjacente às diferenças aparentes e enganadoras de caráter nacional. Não há isso de ‘duas esquerdas’ na América Latina. Há apenas uma esquerda, que tem tanta solidariedade consigo mesma que nunca perde controle das duas caras que emprega para tapear os observadores americanos.”
Ouvindo Carvalho caracterizar a elite empresarial e política brasileira como intelectualmente preguiçosa, eu não pude deixar de pensar na elite americana. Eles também se recusam a mudar de curso em face do desastre que se aproxima. Mesmo quando a situação se torna alarmante, eles gastam mais e mais dinheiro. Eles cortejam os inimigos e traem os aliados. É verdade, também, que eles “não sabem resistir ao jogo sutil das lisonjas e ameaças” jogado pelo poder esquerdista.
Escrito por Jeffrey R. Nyquist.
Tradução de Dextra, revisão de Júlio Severo.
Publicado originalmente pelo website Mídia Sem Máscara, em 27 de fevereiro de 2011.
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