“O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever.”,
Thomas Mann (1875 – 1955).
“Você precisa florear o seu texto. Um texto precisa ter palavras bonitas.” Era o que eu ouvia na escola quando comecei a escrever o que antigamente chamávamos de “composições” — o que hoje todos conhecem como “redação”.
Quantos professores não continuam repetindo a mesmíssima coisa para seus alunos e perpetuando a ideia falsa de que todo texto precisa ser, principalmente, enfeitado? Eles, contudo, não o fazem por mal. Repetem esses lugares-comuns porque desconhecem o que é literatura e porque aprenderam que escrever é um exercício de adiposidade verbal: usar palavras gordas para ideias magras, como dizia Álvaro Lins. E é mais fácil repetir o que se aprendeu.
Sejam quais forem as razões que os levam a fazê-lo, o fato é que, ao repetir o aprendido, propagam uma retórica que poderíamos sem exagero chamar de venenosa. Essa retórica, difunde-a o escritor grandiloquente e os críticos que o incensam. Difunde-a a professora que escolhe textos palavrosos e cheios de uma adjetivação vazia, mostrando-os aos alunos como exemplos de boa literatura. Difunde-a o jornalista com seus chavões e frases de efeito em textos ocos e mal escritos. Difundem-na as escolas, os jornais, os portais de notícias da web, de modo que, em toda a parte, o que se encontra é só repetição.
Literários ou não, tais textos não refletem aquilo que o escritor ou autor realmente pensa: não passam de macaqueação. Revelam ainda o equívoco de conceber a escrita como o ato de reunir conceitos prontos e expressões lidas e/ou ouvidas em algum lugar — e enfiá-los todos num papel (ou numa tela).
Mas não há escrita sem reflexão. As palavras precisam expressar o que o escritor realmente deseja expressar. Por isso, para se desenredar da retórica perniciosa, quem escreve tem de pensar de forma clara e adequar o seu pensamento às palavras.
Essa questão não nos apresenta somente um problema linguístico ou estético, senão também um problema ético. Pois no substrato da imprecisão no uso das palavras ou do excesso de palavras vazias, há duas coisas: incompetência e insinceridade.
Males felizmente remediáveis.
A incompetência se revolve com o estudo, a leitura de bons autores e a produção consciente de textos. A insinceridade, por sua vez, resolve-se com uma mudança de comportamento. É preciso ser sincero consigo mesmo e fazer com que suas palavras digam aquilo que de fato você quer dizer. É preciso, enfim, deixar de ser um mero repetidor.
Escrito por Rodrigo Gurgel.
Publicado originalmente em 24 de fevereiro de 2020 no website do autor.
Nota do editor:
A imagem associada a esta postagem ilustra recorte da obra: “A leitura”, criada em 1890 pelo pintor belga Emile Claus (1849 – 1924).