O maravilhoso plano de construção do Universo

Quanto mais eu estudo a natureza, mais eu fico maravilhado com as obras do Criador. A ciência me aproxima de Deus.”,
Louis Pasteur (1822 – 1895): cientista francês.



O Prof. Walter Thirring nasceu em Viena em 1927, filho de Hans Thirring, físico de renome internacional. Depois de ter cursado Física na Universidade de sua cidade natal (1949 – 1958), prosseguiu suas atividades em diversas instituições da Europa e dos EUA, como o Instituto Max-Planck de Göttingen, Universidade Técnica de Zurique, Universidade de Berna, Instituto de Estudos Avançados de Princeton, MIT, Cambridge. Foi professor de Física teórica na Universidade de Viena e diretor do departamento de mesmo nome na Organização Européia para Pesquisa Nuclear, em Genebra. Publicou em 2004 o livro Kosmische Impressionen – Gottes Spuren in den Naturgesetzen (Impressões Cósmicas – Vestígios de Deus nas Leis da Natureza), Editora Molden, ISBN 3-85485-110-3, prefaciado pelo então arcebispo de Viena, Cardeal Franz König, já falecido.

Thirring recebeu nosso correspondente em Viena, Carlos Eduardo Schaffer, para uma entrevista exclusiva para Catolicismo.



O que o levou a escrever o livro Kosmische Impressionen, que no próprio título já contém uma afirmação da existência de Deus criador, fato tão incomum entre cientistas?

O maravilhoso plano de construção do Universo sempre me causou grande veneração e respeito. Entretanto, nem todos compreendem inteiramente a linguagem da ciência, e eu pretendi apresentar nesse livro, de maneira acessível ao leitor, a maravilha de tal panorama. Em última análise, entretanto, reflexões sobre a criação conduzem ao Criador. Ouvir isto pode surpreender a muitos, pois freqüentemente nos deparamos com a afirmação de que a ciência conduz ao ateísmo. Esta opinião, eu não a posso compartilhar, julgando-a até absurda. Quando somos dominados pela admiração por um maravilhoso edifício — uma catedral, por exemplo — e compreendemos suas majestosas proporções, quem poderia então dizer: “Agora não precisamos mais do arquiteto, pois talvez ele nem tenha existido, isto pode ter sido apenas um produto do acaso!”? Tive a felicidade de conhecer não somente em encontros, mas também mediante discussões, o pensamento dos grandes construtores da ciência do Universo de nosso tempo, como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger, Wolfgang Pauli e muitos outros. Quero transmitir esse conhecimento ao grande público, não para aumentar a glória desses pensadores, mas para apresentá-los como eles ainda vivem em minha memória, com toda a sua força de fascinação, com todas as suas particularidades.

Como o Sr. conheceu Einstein, e que impressão ele lhe causou?

Capa da obra: “Kosmische Impressionen”, escrita pelo professor Walter Thirring (1927 – 2014). Publicado pela Editora Molden, sob ISBN: 3-85485-110-3.A propósito de um trabalho que fiz, e que exponho um tanto no capítulo II de meu livro, recebi convite para trabalhar por um ano no Instituto de Estudos Avançados de Princeton (EUA), onde trabalhava Einstein. Tive o privilégio de conhecê-lo e discutir com ele algumas questões de Física. Certa vez ele contou-me que, quando morava na Suíça, gostava de passear na parte velha da cidade de Berna, e ia até uma cova de ursos para ver o guarda alimentá-los. Observou então que os animais andavam com o focinho colado ao solo e só encontravam o alimento que lhes caía diante do nariz. Às vezes, entretanto, um deles se levantava sobre as patas traseiras para, do alto, procurar os pedaços mais apetitosos. A observação desse fato levava Einstein a pensar nos físicos que, geralmente debruçados sobre seus blocos de cálculos, só vêem aquilo que lhes está diretamente diante do nariz. As grandes descobertas só se dão quando se olha para os grandes panoramas, dizia ele. Einstein foi, sem dúvida, o maior físico do século XX. Em toda a história da humanidade, somente Isaac Newton talvez lhe possa disputar o lugar.

Em que se baseia a teoria do Big Bang, a grande explosão que teria ocorrido no início do Universo?

A teoria do Big Bang (Urknall, em alemão) é sustentada por três colunas:

A primeira delas é a variação dos raios luminosos emitidos pelos astros. Isto foi descoberto através de um fenômeno observado por um físico de Salzburg, Christian Doppler, há mais de 150 anos. Se ouvimos o apito de uma locomotiva que se aproxima de nós, o som nos parece mais agudo do que quando ela se afasta. Com a luz acontece algo semelhante. Se um objeto que emite luz se aproxima de nós, sua luz é mais azulada. Se ele se afasta de nós, a luz torna-se avermelhada. Através da intensidade desta variação, pode-se determinar a velocidade do objeto em relação a quem o observa. O aperfeiçoamento dos aparelhos de medição da luz permite-nos hoje determinar essas velocidades com muita precisão. Com isto constatou-se que os corpos celestes movimentam-se como os fragmentos de uma explosão, que se afastam uns dos outros em direções determinadas pela explosão.

A segunda é que o fulgor dessa explosão inicial vai gradualmente se enfraquecendo, com a expansão do Universo, mas ainda hoje pode ser medido por aparelhos muito sensíveis, apenas no campo das micro-ondas.

A terceira é o comportamento de certas partículas atômicas e de certos átomos, cuja estrutura se degenera ou se transforma. São fenômenos que, podendo ser medidos, permitem-nos calcular quando começou essa transformação.

Como as três colunas da teoria do Urknall são totalmente independentes entre si, elas formam um fundamento que gera grande confiabilidade.

O Sr. considera que o Universo é finito?

Do ponto de vista do tempo, ele é finito. O início foi essa grande explosão. Existem vários indícios de que o Universo existe há 10, 12 ou talvez 15 bilhões de anos, segundo cálculos mais recentes. Se conhecemos aproximadamente a idade do Universo, podemos calcular também aproximadamente suas dimensões. Ele começou como uma bola de fogo, que explodiu e se expande a uma velocidade próxima da velocidade da luz. Seu raio é, portanto, cerca de 10, 12 ou 15 bilhões de anos luz.

O que aconteceria a uma pessoa que pudesse viajar a uma velocidade altíssima? Encontraria ela o fim do Universo?

Não. Ela voltaria ao ponto de partida.

Além da edição em alemão de seu livro, está prevista alguma edição em outra língua?

Sim, já foram feitas tratativas para uma edição em inglês, e julgo que seria interessante uma edição em espanhol, o que tornaria a obra acessível também às pessoas de língua portuguesa. Depende do interesse que ela despertar no público.

Agradeço, em nome da revista Catolicismo, a entrevista que nos concedeu, e tenho certeza de que sua publicação causará interesse em relação à sua obra. O Sr. conhece o Brasil, país onde esta entrevista será publicada?

Estive duas vezes no Brasil a convite do Prof. Guido Beck, um dos mais conhecidos especialistas em Física teórica na América do Sul. A primeira foi em 1965, e a segunda nos anos 70. O Brasil tem em São Paulo um bom desenvolvimento no campo da Física teórica; e de Matemática, no Rio de Janeiro. Mantemos constante contato com cientistas brasileiros.


Entrevista concedida por Walter Thirring (1927 – 2014) para a Revista Catolicismo.
Entrevista realizada por Carlos Eduardo Schaffer.
Publicado originalmente em julho de 2005.




Em 4 de abril de 2009 a Universidade Biola promoveu o debate intitulado: Deus existe?, Nele o teísta Dr. Willian Lane Craig teve como opositor o crítico literário e religioso Christopher Hitchens (1949 – 2011). Assista ao trecho em que o Dr. Craig explana sumariamente o Argumento Teleológico, – a essência do livro descrito neste artigo.


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