Para que a beleza vença a feiura

Obra: "O Casamento" (1885), por Giulio Rosati (1858 - 1917).

O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe.
Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia.
Honoré de Balzac (1799 – 1850)



Já reparou na beleza que envolve as cerimônias de casamento? Todo um cenário é cuidadosamente planejado e montado. Convidados são escolhidos, padrinhos selecionados. Flores e cores… cada detalhe meticulosamente planejado para que seja belo. E o ápice da cerimônia são os votos dos noivos. Eles prometem um ao outro, diante de todas aquelas testemunhas, a fidelidade por toda a vida – um amor que pretende ser “pra sempre”, quer tocar a eternidade… é ambicioso, radical, sacrificial e, justamente por isso, belo.

Eles fazem um pacto, uma aliança pública, de que estão abrindo mão de todas as demais possibilidades para dedicarem suas vidas um ao outro, independente das dificuldades que o futuro reservar, serão fiéis e permanecerão juntos até que a morte rompa o laço. Não é lindo?

E a beleza não pára por aí. Debaixo da força e segurança desse pacto é que virão os filhos. Se a aliança for mantida, as crianças terão a segurança de um lar para se desenvolverem física e emocionalmente mais saudáveis. Se a aliança for mantida…

Mas o coração humano é feio. Aqueles que são capazes de selar um pacto público de fidelidade, também são capazes de quebrá-lo às escondidas. Como é feio! Tão feio que a pessoa que prometeu fidelidade em público não tem coragem de convocar as mesmas testemunhas para desfazer a promessa, mas o faz clandestinamente, às escondidas e, sente-se envergonhada quando a situação vem a público.

Todo mundo sabe que quebrar promessas é feio. É a demonstração de que as palavras da pessoa não têm valor. Por que deveríamos levar a sério o que diz alguém que quebra sua promessa? A pessoa perde a credibilidade, demonstra que suas palavras não têm qualquer conexão com a verdade, tanto faz dizer isto ou aquilo, não é sério, não tem valor, não vai honrar.

Obra: “One of the Family”, por F. G. Cotman (1850 - 1920).Quando assisto cerimônias de casamento e fico encantada com a beleza de cada detalhe, lembro que toda essa beleza poderá um dia ser anulada se um dos cônjuges romper o pacto, quebrar a promessa. Se o fizer, estará anulando tudo aquilo, destruindo toda a beleza daquele dia, revogando as palavras pronunciadas diante das testemunhas, diante de Deus. Ao quebrar a promessa ele/ela desonra seu cônjuge, as testemunhas (inclusive, e principalmente, Deus) e a si mesmo.

E se houvessem cerimônias de descasamento? Se a promessa foi feita diante dos familiares e amigos, com registro de fotos, vídeos, documentos, por que não convocar todos novamente para uma cerimônia de descasamento? Sim, para que fique claro que o casamento não valeu, que desistiram de cumprir o que prometeram, pra desdizer as palavras, pra desfazer a beleza, o encanto, pra deixar claro que a feiura venceu a beleza… a feiura de corações que são demasiadamente centrados em si mesmos para desgastar-se pelo outro e cumprir a promessa na vida real.

E vale lembrar que há muitos que quebram as promessas sem desfazer oficialmente o casamento. Talvez esses sejam ainda mais covardes – mantendo a aparência de uma aliança quebrada no coração, sem buscar arrependimento, sem confessar publicamente, sem buscar restauração. Tentam enganar a todos, cônjuge, familiares, amigos… tentam até arrumar justificativa para a própria consciência, culpando o cônjuge ou, pelo menos, tentando dividir a culpa. Mas diante de Deus nada é oculto. Ele é a testemunha por toda a vida, tanto de nossas palavras quanto de nossas ações e corações…

E, não importa o quanto nos encharquemos em nossa busca egoísta de autosatisfação, jamais encontraremos alegria verdadeira enquanto nosso pecado está exposto diante de Deus, sem arrependimento, sem confissão, sem perdão, sem mudança de coração…

A boa notícia é que há esperança para tratar essa feiura que tanto nos deforma e afeta nossos relacionamentos. Foi para isso que Cristo morreu numa cruz: cobrir com sua justiça a nossa transgressão, transformar nosso coração de pedra num coração de carne, nos resgatar da escravidão de nosso egoísmo para a liberdade do amor a Deus e ao próximo. Ele pode nos capacitar a honrar a aliança feita, pode restaurar alianças quebradas, para que a beleza vença a feiura.


Por Noeme Rodrigues de Souza Campos.
Publicado originalmente no website da Editora Ultimato, em 22 de novembro de 2022.


Notas da editoria:

Imagem da capa: “O Casamento” (1885), por Giulio Rosati (1858 – 1917).


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Shirley

Que lindo texto, Noeme…. parabéns!

widislany

Perfeito!

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