“Só conheço uma liberdade, e essa é a liberdade do pensamento.”
Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944)
A maior parte das pessoas na esquerda não se opõe à liberdade. Elas apenas são favoráveis a todo tipo de coisas que são incompatíveis com a liberdade.
Liberdade significa, no fim das contas, o direito de as pessoas fazerem coisas que nós não aprovamos. Os nazistas tinham o direito de ser nazistas sob Hitler. Somos livres apenas quando somos capazes de fazer coisas que outros não aprovam.
Um dos mais aparentemente inocentes exemplos das muitas imposições da visão da esquerda sobre os outros é a difundida exigência das escolas e universidades do “serviço comunitário”, para admissão de estudantes.
Há escolas de ensino médio em todo o país em que você não se forma, e faculdades em que você não entra, a menos que tenha se engajado em atividades arbitrariamente definidas como “serviço comunitário”.
A arrogância de se confiscar o tempo dos jovens — em vez de deixá-los (e a seus pais) livres para decidir como usar seu tempo — só não é maior que a arrogância de se impor o que é ou não é um serviço à comunidade.
Trabalhar num abrigo de sem-teto é amplamente considerado um “serviço comunitário” — como se ajudar e se acumpliciar com a vagabundagem fosse necessariamente um serviço, em vez de um desserviço, à comunidade.
Estará a comunidade mais bem servida com mais desempregados vagando pelas ruas, agressivamente mendigando pelas calçadas, urinando nos muros, deixando agulhas e seringas nos parques onde as crianças brincam?
Este é apenas um dos muitos modos em que a distribuição dos vários tipos de benefícios a pessoas que não trabalham rompe a conexão entre produtividade e recompensa.
Mas essa conexão permanece tão inquebrável como sempre esteve para a sociedade como um todo. Você pode fazer de qualquer coisa um “direito” para indivíduos ou grupos, mas nada é um direito para a sociedade como um todo, nem mesmo comida ou abrigo, que têm de ser produzidos pelo trabalho de alguém ou eles não existirão.
Para alguns, o que “direitos” significam é forçar outras pessoas a trabalharem para o benefício deles. Como uma frase de para-choque de caminhão diz: “Trabalhe duro. Milhões de pessoas on welfare [vivendo dos programas sociais do governo] estão dependendo de você.”
O mais fundamental dos problemas, contudo, não é que atividades particulares são exigidas dos estudantes sob o título “serviços comunitários”.
A pergunta fundamental é: O que, afinal, qualifica professores e membros das comissões de admissão das faculdades a definir o que é bom para a sociedade como um todo, ou mesmo para os estudantes sobre os quais são impostas suas noções arbitrárias?
Qual especialidade eles têm que justifica sobrepor-se à liberdade dos outros? O que suas imposições mostram, exceto que “os idiotas abundam onde os anjos temem pisar” 1?
Que lições os estudantes aprendem disso, exceto a de submissão a um poder arbitrário?
A finalidade é, supostamente, a de que os estudantes adquiram um sentido de compaixão ou nobreza por meio do serviço aos outros. Mas isso depende de quem define compaixão. Na prática, isso significa forçar os estudantes a se submeterem à propaganda para fazê-los receptivos à visão de mundo da esquerda.
Estou certo de que aqueles favoráveis às exigências de “serviços comunitários” entenderiam o princípio por trás das objeções a esses serviços se exercícios militares fossem exigidos nas escolas de ensino médio.
De fato, muitos que promovem o “serviço comunitário” obrigatório são fortemente contrários ao treinamento militar mesmo voluntário nas escolas de ensino médio e faculdades, embora muitos outros considerem esse treinamento como uma contribuição à sociedade muito maior que alimentar pessoas que se recusam a trabalhar.
Em outras palavras, esquerdistas querem o direito de impor suas ideias do que é bom para toda a sociedade — um direito que eles veementemente negam àqueles cujas ideias do que é bom para a sociedade diferem das deles.
A essência da intolerância é recusar aos outros os direitos que você exige para si próprio. Tal intolerância é inerentemente incompatível com a liberdade, embora muitos esquerdistas fiquem chocados de serem considerados oponentes da liberdade.
Por Thomas Sowell.
Tradução de Antônio Emílio Angheth de Araújo.
Publicado originalmente no website Mídia Sem Máscara,
em 14 de janeiro de 2009.
Notas:
- No original “fools rush in where angels fear to tread”. Verso de um poema de Alexander Pope, “An essay on Criticism”, de 1709.
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Statue of Liberty in New York City”, por Leon Devenice. Para mais detalhes, clique aqui.