As boas notícias

Obra: "Bad News in Troubled Times", por Margaret Allen (1830 - 1914).

O mal que os homens praticam sobrevive a eles; o bem quase sempre é sepultado com eles.
William Shakespeare (1564 – 1616), poeta, dramaturgo e ator inglês



É lugar comum, nos dias de hoje, comentarmos o quão insuportável tornaram-se os noticiários, não é mesmo? Independentemente do meio de comunicação pelo qual sejam veiculados, o viés daqueles que os controlam é escancarado, sem qualquer preocupação com a realidade e a veracidade dos fatos. Não há compromisso com nenhuma ética profissional, ou com qualquer espécie de norma moral que possa ter existido na atividade escrita. Vivemos em uma guerra, e a imprensa é uma arma em poder de um único lado, usada violenta e incessantemente como uma metralhadora que, se não atinge diretamente os que dela se protegem por meio de uma trincheira constituída pelo conhecimento, pelo estudo sério, pela religião, pela literatura e também pela boa e cada vez mais rara fonte de informação primária, atinge-nos indireta e infalivelmente através dos “desprotegidos” que nos cercam, cheios de comentários e análises sobre os fatos manipulados, apresentando-nos a eles sem ao menos pedir permissão. Os estilhaços estão por aí e nos irão ferir cedo ou tarde; num dia de baixa guarda, basta uma única desatenção e você é envolvido no jogo de mentiras e manipulações, ferido ainda que talvez não o perceba imediatamente.

Óbvio ululante exposto, fica a pergunta: e o que esperávamos?

Partindo de um olhar cristão — o único que este cronista pode oferecer —, imagino que você, católico ou protestante, esteja indignado, como todos aqueles com o mínimo de consciência, diante dos acontecimentos recentes no país, os quais não é preciso detalhar. Dito isto, sugiro um simples exercício: tente trazer à memória, utilizando sua possível bagagem histórica, seja ela grande ou pequena, quando foi que o povo de Israel, a Israel profética, recebeu boas notícias. Desde o sacrifício da cruz, da imolação do Cordeiro por nossos pecados, milhares de anos antes do nascimento de Gutemberg, quando foi que os rumores, os boatos, os registros escritos ou não, foram favoráveis aos cristãos? E que fique claro: dizendo isso, não estou absolutamente referindo-me apenas à esfera política, à tomada de poder.

Capa da obra: "Crônicas do Invisível", escrita por Douglas Alfini Jr.Pois bem, meus amigos, aí vai uma notícia que não vem do jornal famoso da televisão, nem dos portais de internet, sejam eles da mídia convencional ou não. A verdade que escondemos de nós mesmos, por sermos fracos demais para encará-la diariamente, é a de que não há boas notícias ao povo cristão nesta terra. Não há e nunca houve. Isso nunca nos foi prometido por Ele, mas muito ao contrário (veja-se a vida posterior dos apóstolos). Por que, então, continuamos esperando pelo progresso positivo de tudo que nos cerca, quando é na verdade uma regressão constante dos padrões tradicionais que nos aguarda? Seguimos dando maior espaço às notícias propositalmente plantadas pelo mundo em nossas mentes e corações, e não mais permitindo que as palavras deixadas pelo próprio Deus nos acalmem e, principalmente, nos deem o conforto e a sabedoria necessárias para enfrentar os temores, estes sim, que Ele de fato nos prometeu.

Não, eu não espero que você se sente tranquilamente no sofá de casa enquanto sua liberdade lhe é tirada e seus valores são escarnecidos como se fossem apenas uma série de costumes infantis. Isso seria um completo desrespeito aos que se indignam e lutam por um mundo mais justo e digno em que seus filhos possam ser criados, e uma desonra de tamanho igual ou maior aos preceitos deixados pelo próprio Cristo. O que quero dizer é que não podemos mais ser pegos de surpresa ou nos desesperar como se não soubéssemos qual é o futuro que nos aguarda. As armas que podem ser usadas para vencer esta luta não são as mesmas com as quais eles nos agridem todos os dias. A mentira, a manipulação, o roubo e outras mil artimanhas do tipo foram criadas e aprimoradas pelo primeiro revolucionário de quem a história nos conta: aquele que se rebelou contra o Pai em nome de uma justiça que só ele via, e após o qual muitos seguiram e seguem principalmente ainda hoje, dando ouvidos às suas boas notícias de um vindouro mundo melhor.

Estejamos, sim, com um olho aberto a tudo que nos cerca, mas com o outro ainda mais aberto sobre a Bíblia e o que ela nos ensina, pois, no fim das contas, o governo que aí está não é realmente o que nos governa. “O mundo jaz no maligno” (1 Jo 5,19) e o príncipe desta terra nós sabemos quem é; seria a mais pura perda de tempo esperar, nestes tempos, por um governante cristão, cheio do Espírito Santo de Deus, a contagiar todo o Congresso com seu senso de justiça e moral cristãs, aprovando leis antidrogas e antiaborto a torto e a direito, freando a ideologia de gênero etc. — sem qualquer represália… isso não vai acontecer.

Indignemo-nos, sim, mas sem nos esquecer da verdadeira boa notícia que de fato estamos esperando, a boa nova que jornalista nenhum poderá dar em primeira mão, mas que trará o anúncio do alívio definitivo em meio ao caos incontrolável, ao menos àqueles que se mantiverem firmes, como nos diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios:

“Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficai firmes. Estais pois firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça.” (Ef 6,13-14)

Se somos de fato soldados, como a metáfora bíblica nos dá a entender, somos então guardiões, sentinelas, e não artilheiros de um front caótico. Nossa vitória foi conquistada na Cruz do calvário através do sacrifício final, e cabe a nós resistir às tristezas e decepções para confirmá-la quando for a hora.

Que Deus nos abençoe.


Por Douglas Alfini Jr.

Douglas é escritor, tendo como principais influências os clássicos do
romance e da literatura fantástica, bem como o cinema western.
A obra Crônicas do Invisível (2021) é seu livro de estreia.


Notas da editoria:

Imagem da capa: “Bad News in Troubled Times” (1886), por Margaret Allen (1830 – 1914).


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