Como não ser surpreendidos por aquilo que estávamos esperando?

Obra: "Cinco delas eram prudentes", por Walter Rane.

Para uma melhor compreensão do artigo, ouça na voz de Décio Neves,
o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus (capítulo 25, versículos entre 1 e 13):



A demora dos acontecimentos nos induz a pensar que eles não terão um desfecho, que a porta não vai se fechar. O estender-se do tempo nos faz pensar que ele é eternidade. Mas, nesse mundo, isso nunca será verdade. O tempo está constantemente passando. Nós envelhecemos sem perceber. Quando nos damos conta, a idade nos surpreende. Um filho cresce e a gente nem nota. Estranhamos que esteja pela nossa cintura e depois perdemos a marcação, até que ele se casa e vai embora. E nos surpreendemos porque achávamos que ele era apenas um bebê.

Tudo isso acontece, aparentemente à nossa revelia, exatamente porque acontece aos poucos, de forma gradual. Isto é, porque não envelhecemos de uma hora para outra, mas estamos envelhecendo o tempo todo. Como isso acontece devagar, a gente não percebe. Porque não vamos ficar prestando a atenção numa coisa que demora tanto, e que devagar, não percebemos. A demora passada pode fazer parecer que haverá demora futura também, que sempre faltará muito tempo para o desfecho. Mas o tempo futuro pode ser muito mais reduzido que o tempo do passado. O ritmo das coisas não segue o nosso ritmo nem expectativa. Assim, não podemos querer apoderar-nos do tempo. Então, o segredo é vivermos o presente, mas sem esquecer do que vai chegar.

Para os momentos definitivos, que não sabemos quando chegam, devemos estar preparados. Não podemos viver de forma neurótica, pensando apenas no fim; mas, de maneira realista, devemos viver o momento e aproveitar as possibilidades sem, contudo, esquecer que existe um fim. Dormir não significa distração! Desde que estejamos preparados para a hora de acordar.

Previdência e imprevidência são as qualidades descritas na parábola que Jesus contou sobre dez jovens que deveriam esperar o noivo chegar. Curiosamente, tanto as previdentes quanto as imprevidentes sentiram que o Senhor estava demorando e todas adormeceram. Mas, na hora de acordar, as previdentes puderam retomar o seu encontro imediatamente. As imprevidentes, precisaram deixar o encontro de lado, para preparar aquilo que não tinham preparado ainda. E, como a própria palavra diz, preparar-se significa agir previamente e não posteriormente. Todos poderiam dormir tranquilas se estivessem todas preparadas. Como algumas não tinham óleo suficiente, essas não deveriam ter dormido. Quem está preparado pode se dar ao luxo de dormir tranquilo. Quem não está não deveria dormir. Pelo menos, não sem garantir que tenha providenciado o óleo necessário para a espera e para a demora.

Conta-se que São João Bosco perguntou certa vez a três meninos que estavam brincando, no pátio do colégio, sobre o que fariam se descobrissem que iriam morrer dali a meia hora. Um disse que pararia imediatamente com a brincadeira e correria para a capela, para rezar. Outro disse que deixaria de brincar para procurar um padre e se confessar. O terceiro, por sua vez, disse que continuaria brincando normalmente… Seria uma boa pergunta a fazer-nos a nós mesmos: O que faríamos se soubéssemos que a nossa hora chegou? Além disso, é bom lembrar das palavras das jovens prudentes às jovens imprudentes que pediam para que dividissem o óleo. Existem coisas na vida que uma pessoa não pode fazer no lugar da outra. Há momentos em que cada um deve estar preparado por si mesmo. Também vale lembrar o que diz o Papa Francisco: “O tempo pertence a Deus, mas o momento pertence a nós”.


Escrito por Dom Rogério Augusto das Neves (Bispo Auxiliar de São Paulo).
Excerto do suplemento do folheto litúrgico: “Povo de Deus, de 12 de novembro de 2023.
Para acessar folhetos litúrgicos de outras datas, acesse o website da Arquidiocese de São Paulo, clicando aqui.


Notas da editoria:

Imagem de capa “Cinco eram prudentes”, por Walter Rane.


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