“Burrice e maldade jamais foram termos antagônicos.”
Olavo de Carvalho (1947 – 2022)
O mal que domina o coração humano – que não pode ser corrigido com livros e nem com a melhor educação – pode ser observado na ambição por mais, mais e mais. Sempre um pouco mais do que se tem. Mais dinheiro, mais recursos, mais reconhecimento, mais poder…
É a velha proposta feita no Éden, “você pode ser como Deus”, ganhando ecos até nossos dias. Seja na aparentemente inofensiva afirmação “você é especial e pode ser o que quiser” ou na reconhecidamente danosa afirmação de um nacionalista extremo que diz “nós somos mais especiais que os outros e podemos o que quisermos, inclusive dominar sobre eles”.
Cobiçar ter o que não temos ou ser o que não somos não é inofensivo. É extremamente perigoso, pois expressa o descontentamento de um coração rebelde que pretende ocupar o lugar do Criador, desejando criar um mundo para satisfazer seu ego. O descontentamento pode resultar no profundo sofrimento emocional de quem se recusa a aceitar que a realidade seja o que é, ou pode até mesmo ser externalizado em projeto de hostilidade, dominação e extermínio do outro.
De onde vêm as guerras e os conflitos? Do descontentamento de um coração cobiçoso!1 A proporção que isso ganha na história humana vai depender da posição ocupada por quem está descontente – quem está cobiçando. Podem ser conflitos na família, no ambiente de trabalho ou mesmo entre grandes potências mundiais.
O descontentamento é solo fértil para nos fazer cair na tentadora proposta “você pode ser o que quiser, você pode ser como Deus!”. E o resultado? Uma existência precária, distante do propósito para o qual fomos criados, com mais e mais sofrimento para todos ao redor – e bem longe do paraíso, é claro.
Escrito por Noeme Rodrigues de Souza Campos.
Publicado originalmente no website da Editora Ultimato, em 2 de março de 2022.
Notas:
- Referência a Tiago 4.1
Nota da editoria:
Imagem da capa: “Os Jogadores de Cartas” (entre 1890 e 1895), por Paul Cézanne (1839 – 1906).
Confira, neste áudio, alguns comentários do filósofo Olavo de Carvalho (1947 – 2022) sobre política e poder: