“Quando eu me despojo do que sou, eu me torno o que eu poderia ser.”
Lao-Tsé (604 a. C. – 517 a. C.)
Dizem que se eu acreditar em mim, posso fazer qualquer coisa. Todo mundo sabe que isso não funciona. Mesmo assim, crer em si mesmo é uma ideia repetida de muitas maneiras, como se não houvesse necessidade alguma de conexão entre discurso e realidade.
Acho que nem as crianças aguentam mais o “acredite em você” ou “você pode ser o que quiser” que insiste em transformar os filmes infantis em sessão coaching. Será que não dá pra estimular criatividade, coragem e perseverança sem fechar os olhos para a realidade?
Onde estão as pessoas sensatas o suficiente para duvidar de si mesmas, e reconhecer que não têm superpoderes nem a menor condição de dar sentido à própria vida? Onde estão aqueles dispostos a tirar dos ombros o fardo da necessidade de sucesso e de controle sobre as circunstâncias? Onde estão os que podem se curvar para pedir socorro e adorar o Único Todo-Poderoso? Para esses, há esperança!
Os demais estão perdidos em seus espelhos, lamentando fracassos ou comemorando vitórias — em ambos os casos, hipnotizados por suas próprias imagens refletidas nas ilusões de seus sonhos auto centrados.
Para quebrar o encanto narcisista e soltar-se das correntes da necessidade de autoafirmação, há que se encantar pelo Autor da vida! Quem é que continuaria encantado com espelhos depois de ter os olhos atraídos para Ele, a fonte de toda beleza e sentido? Ele nos liberta, tanto da autocomiseração quanto da autoexaltação — que são lados opostos do mesmíssimo orgulho.
É com o Autor da vida que quero me encantar, todos os dias. Que Ele desperte meus sentidos para sua beleza! Que eu experimente o auto esquecimento, para contemplá-lo em sua glória!
Por Noeme Rodrigues de Souza Campos.
Publicado originalmente no website da Editora Ultimato, em 20 de Junho de 2024.
Nota da editoria:
Imagem da capa: “Eco e Narciso” (1903), por John William Waterhouse (1849 – 1917).