Eu acredito, eu posso: Narciso no espelho

Obra: "Eco e Narciso" (1903), de John William Waterhouse (1849 - 1917).

Quando eu me despojo do que sou, eu me torno o que eu poderia ser.
Lao-Tsé (604 a. C. – 517 a. C.)



Dizem que se eu acreditar em mim, posso fazer qualquer coisa. Todo mundo sabe que isso não funciona. Mesmo assim, crer em si mesmo é uma ideia repetida de muitas maneiras, como se não houvesse necessidade alguma de conexão entre discurso e realidade.

Acho que nem as crianças aguentam mais o “acredite em você” ou “você pode ser o que quiser” que insiste em transformar os filmes infantis em sessão coaching. Será que não dá pra estimular criatividade, coragem e perseverança sem fechar os olhos para a realidade?

Aquele poeta bêbado de quem você não quis aceitar uma lamentável tragédia, ele acreditava em si mesmo. Aquele velho ministro com um poema épico de quem você se escondia num quarto dos fundos, ele acreditava em si mesmo. Se você consultasse sua experiência profissional em vez de sua horrível filosofia individualista, saberia que acreditar em si mesmo é uma das marcas mais comuns de um patife. 

G. K. Chesterton
(Ortodoxia)

Onde estão as pessoas sensatas o suficiente para duvidar de si mesmas, e reconhecer que não têm superpoderes nem a menor condição de dar sentido à própria vida? Onde estão aqueles dispostos a tirar dos ombros o fardo da necessidade de sucesso e de controle sobre as circunstâncias? Onde estão os que podem se curvar para pedir socorro e adorar o Único Todo-Poderoso? Para esses, há esperança!

Os demais estão perdidos em seus espelhos, lamentando fracassos ou comemorando vitórias — em ambos os casos, hipnotizados por suas próprias imagens refletidas nas ilusões de seus sonhos auto centrados.

Para quebrar o encanto narcisista e soltar-se das correntes da necessidade de autoafirmação, há que se encantar pelo Autor da vida! Quem é que continuaria encantado com espelhos depois de ter os olhos atraídos para Ele, a fonte de toda beleza e sentido? Ele nos liberta, tanto da autocomiseração quanto da autoexaltação — que são lados opostos do mesmíssimo orgulho.

É com o Autor da vida que quero me encantar, todos os dias. Que Ele desperte meus sentidos para sua beleza! Que eu experimente o auto esquecimento, para contemplá-lo em sua glória!


Por Noeme Rodrigues de Souza Campos.
Publicado originalmente no website da Editora Ultimato, em 20 de Junho de 2024.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Eco e Narciso” (1903), por John William Waterhouse (1849 – 1917).


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