“O amor de Deus é raiz de todas as virtudes; o amor-próprio é a raiz de todos os vícios.”
Padre Manuel Bernardes (1644 – 1710)
Quando uma criatura busca sua própria glória, demonstra equívoco em como percebe a realidade, pois acredita ou deseja que ser o centro das atenções é um bom propósito, quando na verdade é uma distorção de sua natureza.
Mas quando o Criador faz tudo para sua própria glória, demonstra sua conformidade ao fato de que Ele é o bem supremo no qual tudo o que existe veio à existência e se mantém.
Ora, se o Criador se encantasse mais com qualquer criatura do que consigo mesmo, demonstraria nessa conduta uma distorção na qual Aquele que é superior vê maior superioridade naquilo que é inferior. Ou seja, nesse caso, o Criador estaria equivocado. Como não há no Universo nada mais glorioso do que o próprio Criador, sendo totalmente verdadeiro e bondoso, Ele não apenas se encanta e se alegra consigo mesmo como convida a sua criação a também desfruta-lo, conhecendo e reconhecendo sua glória e adorando-o (adorar é a resposta natural da criatura diante da glória do Criador).
Quando a criatura deseja ser adorada, demonstra sua imperfeição, sua inclinação a querer ser o que não é, usurpar um lugar que não lhe pertence.
Mas quando o Criador convoca suas criaturas a adorá-lo, demonstra, além de sua correta percepção da realidade, seu amor pelas criaturas, desejando que elas vivam em conformidade com a realidade e possam desfrutar da única fonte de toda beleza e todo bem, ou seja , do próprio Criador.
Além do mais, visto que a criatura tem sua origem no Criador e nEle se mantém, toda exaltação do Criador acaba por se estender à criação, visto que nEle tudo subsiste. Assim, as criaturas participam da honra do Criador. Mas quando uma criatura busca sua própria honra, expressa nisso seu desejo distorcido e egoísta de ser honrada em detrimento das demais criaturas e do próprio Criador.
Assim, ao promover sua própria glória, Deus evidencia virtude. Mas quando a criatura busca sua própria glória, demonstra vício (o oposto de virtude).
Então, se Deus promove sua própria glória, por que eu não deveria promover a minha? Porque Ele é Deus e eu não.
Por Noeme Rodrigues de Souza Campos.
Publicado originalmente no website da Editora Ultimato, em 29 de setembro de 2022.
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Vaidade” (1889), por Auguste Toulmouche (1829 – 1890).