Legalização do infanticídio na Califórnia

Obra "Criança Morta" (1944), por Candido Portinari (1903 - 1962).

Lei permitirá matar bebês até 28 dias depois de nascidos.
Artigo original disponível no El Diestro, para acessá-lo clique aqui.



“Quando o cristianismo decai, a barbárie se faz presente.” Não poderíamos estar mais de acordo com as palavras do filósofo e político do século XIX, François-René de Chateaubriand, dirigidas aos iluminados: “Ao renunciar ao cristianismo, não pensem que conservarão as noções superiores de justiça, as ideias verdadeiras sobre a natureza humana e os progressos de todos os tipos que o cristianismo trouxe à sociedade: seu dogma é a garantia de sua moral; esta moral não tardaria em ver-se asfixiada pelas paixões não governadas pelo freio da fé. Contudo, as elevadas virtudes cristãs já não mais se encontram onde quer que este tenha reinado e sido extinto”. Seu pensamento ganha força em nossos dias e, ao nosso ver, o consagra como um profeta. É preciso reconhecer que esta reflexão causa pena, porque como que nos deixa sem esperanças de recuperar a empatia, a decência e a moral, isto é, o discernimento entre o bem e o mal.

A sociedade se deixa levar. Não sabe, não se inteira, dorme enquanto espera. Outros pensam por ela e programam seu suicídio coletivo. Quando não fazemos mais do que olhar o próprio umbigo e nem para dormir tiramos os tampões de ouvido e os antolhos, e, ademais, nos convencemos de que a espiritualidade é algo obsoleto e a tendência natural ao sagrado é apenas uma vã reminiscência, é natural que percamos nossa sensibilidade para o essencial e que nada nos importe, salvo nosso próprio bem estar, nossos desejos e caprichos, sobretudo se temos comida e bebida à vontade, ócio e diversão em abundância e mundanidades variadas para escolher. Essas são as aspirações da sociedade frívola do século XXI. Nada de pensar no transcendente, para não correr o risco de que a consciência se retorça e desperte, nos fazendo perguntar “quem somos, de onde viemos e para onde vamos”.

A consequência direta da descristianização é a barbárie institucionalizada, não há muito mais que explicar. Fora as leis de descriminalização e legalização da eutanásia — ativa, passiva, voluntária e involuntária —, eugenia e aborto, a depravação segue aumentando, ainda que vendida sob a forma de um direito.

O declínio médico e científico em geral não é segredo. Cientistas renomados expõem suas ideias aberrantes, como as dos doutores James Watson e Francis Crick, infanticidas declarados, que compartilharam o Prêmio Nobel pela descoberta do DNA. Que opine o leitor. Watson assinala que

“Dever-se-ia levar em consideração a ideia de privar o recém-nascido de sua personalidade jurídica até três dias depois do nascimento. Os pais que suspeitam de anormalidades fetais podem abortar legalmente, mas a maior parte dos defeitos de nascimento não são descobertos até o momento mesmo do nascimento.”

Se isto já nos pareceria absurdo, seu companheiro de Nobel, Dr. Crick, nos brinda com estas palavras:

“As crianças não devem ser consideradas na categoria de pessoas completas até os três anos. Então, um tribunal competente, composto por três médicos, determinará se está apto para seguir vivendo.”

O australiano Peter Singer, fundador do movimento a favor dos direitos dos animais, afirma em seu livro Animal liberation que alguns animais são mais sensíveis que os fetos, e que há de se lhes dar este reconhecimento. Segundo Singer, não existe diferença entre matar uma criança no útero materno e fora dele. Mas isso não porque seja contra o aborto, mas porque, para ele, algumas vidas humanas não têm valor nem antes, nem depois do nascimento.

Com semelhantes ideias de cientistas renomados, não é de se estranhar que as pessoas sem sólidos princípios humanistas, religiosos ou morais optem pela Cultura da Morte.

Monumento das Crianças Não NascidasNesta dinâmica, faz tempo que alguns cientistas, seguindo as pautas que acabamos de citar, propõem o infanticídio como uma maneira de eliminar as crianças nascidas com alguma deficiência que não tenha sido detectada através dos exames pré-natais. Este mero pensamento nos deveria gelar o coração. E expô-lo também, porque o risco de dar voz a um mau pensamento é que sempre pode surgir um realizador disposto a concretizá-lo no plano físico. Assim foi com certas ideias antinaturais delirantes e está ocorrendo com a legalização do infanticídio. Isso tudo, é claro, sempre coberto por uma enorme capa de eufemismos.

A triste notícia que motiva este artigo vem da Califórnia, um dos estados mais interessantes dos Estados Unidos, cujo nome e religião — antes de cair no laicismo radical — se devem à Coroa espanhola, da mão do franciscano Frei Junípero Serra, hoje santo. Os vestígios espanhóis estão sendo eliminados, seguindo-se a estratégia globalista de alterar, tergiversar e inclusive inventar a história, para despojar a humanidade de seu passado real, em uma espécie de lavagem cerebral. É certo que a grande maioria dos americanos não sabe que o símbolo do dólar é tomado do Real de a 8 espanhol — a primeira moeda mundial —, e representa as duas colunas de Hércules, junto com a inscrição Plus Ultra. Mas este é outro assunto.

Nos Estados Unidos, assim como no resto do mundo “civilizado”, faz décadas que a Cultura de Morte foi instaurada, e a ditadura do politicamente correto rege, transmite e impõe as novas normas baseadas nos antivalores do novo pensamento, surgido da nova esquerda do niilismo e da ressurreição do paganismo.

Cada estado, não obstante, tem suas próprias leis. As de Oregon, por exemplo, são as mais permissivas em matéria de eutanásia e suicídio assistido, instituindo uma espécie de área livre onde nada é ilegal.

É bem conhecida a lei de Maryland que descriminaliza as mortes por negligência de bebês em período neonatal, ou seja, até 28 dias após o nascimento. Esta lei impede a investigação e acusação dessas mortes causadas por omissão. Isto quer dizer que a lei ampara que se deixe uma criança com menos de 28 dias de vida morrer de frio, fome ou sede, tal como o protocolo seguido no Reino Unido com os que nascem acometidos da síndrome de Down e outras deficiências. Essas crianças são colocadas em berços com o seguinte letreiro: “Nothing for mouth”, cuja tradução é “não alimentar”. Terrível! A lei de Maryland, sob o manto da “justiça reprodutiva”, defende o direito das mulheres não serem mães inclusive depois de terem dado à luz.

A Califórnia acaba de dar um passo muito mais perigoso. Estão debatendo um projeto de lei que permite eliminar o bebê já nascido não apenas por “omissão”, mas também por “ação”, sem que ninguém possa denunciá-lo nem pedir explicações, como diz o seguinte parágrafo da lei:

“Apesar de qualquer outra lei, uma pessoa não ficará sujeita a responsabilidade ou sanção civil ou penal, ou privada de seus direitos, com base em suas ações ou omissões com respeito à sua gravidez ou ao resultado real, potencial ou presumido da gravidez, incluindo o aborto espontâneo, o natimorto ou o aborto, ou a morte perinatal.”

Falar de ação é falar de assassinato.

Se as informações já acumuladas a respeito não fossem suficientes, o que foi exposto vem reafirmar o diagnóstico do câncer terminal de que padece a humanidade, com metástase estendida não apenas aos diferentes órgãos importantes, mas também aos diferentes tecidos secundários. Essas leis homicidas não tardarão a chegar em nosso país. As mulheres já têm licença para matar seus bebês durante a gestação, até o último minuto antes do nascimento. Falta o passo que as permita matá-los depois de nascidos. E seremos obrigados a nos calar. Quando falamos de leis satânicas, alguns pensam ser exagero nosso. Como devemos chamá-las? Como devemos chamar aos seus inspiradores e realizadores?

Não me cansarei de dizer que o poder está em nós. Que tal se deixarmos de votar em partidos que apoiam a Cultura da Morte? “Não à eutanásia, não à eugenia, não ao aborto”, deveria ser o nosso lema. Sem exceções. Salvaguardar o direito à vida vem primeiro. Haverá o tempo de reivindicar o restante dos direitos garantidos pela Constituição. É certo que conseguindo este, o resto virá de maneira natural, em virtude da lei de causa e efeito. Que tal se advogarmos pela informação e conscientização a respeito deste extremo tão transcendente? É uma maneira de lutar contra os ideólogos do laicismo agressivo, que tantas batalhas vêm ganhando nos últimos tempos.


Por Magdalena del Amo.
Traduzido por Daniel Marcondes.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Criança morta” (1944), por Candido Portinari (1903 – 1962).




Confira, neste áudio, alguns comentários do filósofo Olavo de Carvalho (1947 – 2022) sobre aborto pós-nascimento:


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Lindalva Teixeira da Silva

Que texto! Lindo, porém, triste e preocupante, dada a denúncia aqui feita.
Parabéns a autora. Que tenhamos mais artigos como este!

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