Lula promete muito e não cumpre nada

Obra: "Os retirantes" (1944), por Candido Portinarii (1903 - 1962).

Ao iniciar a redação deste artigo, havia colocado outro título:
“Lula mente sem ficar vermelho”. Como dá no mesmo, e ele já é ‘vermelho’, deixei o título em epígrafe.



Assim como todo socialista, o PT é um partido de promessas não realizadas.

No último dia 31 de agosto, em Teresina, no lançamento do programa “Brasil sem fome”, Lula da Silva soltou mais uma “pérola” ao dizer: “Alguns podem comer dez vezes por dia, e outros ficam dez dias sem comer”. Tanto a primeira quanto a segunda afirmação são falsas, ninguém come dez vezes por dia, nem fica dez dias sem comer.

Desde 21 de janeiro de 2003, primeiro dia de seu governo, Lula fala a mesmíssima coisa — em tirar o Brasil do “mapa da fome” através de uma “distribuição justa de renda” —, de onde a necessidade de retirar do rico para distribuir ao pobre.

Por que então o Brasil, segundo a demagogia, está no “mapa da fome”? Simplesmente porque Lula não cumpriu o que prometeu, pois 20 anos se passaram desde que ele se tornou presidente. Se tivesse cumprido, até os extremamente pobres estariam comendo cinco vezes por dia — ou, pelo menos, tomando o café da manhã, almoçando e jantando. Logicamente, se não estão, a culpa só pode ser de um partido socialista que se diz “dos trabalhadores”, que governou o Brasil por 20 anos e não tirou o País do alegado “mapa da fome”. Quem acreditará, neste novo mandato, nas novas (as mesmas) promessas do governo lulopetista?

“Os pobres são as maiores vítimas dos embusteiros”


É impossível o pobre ficar rico com qualquer programa governamental para retirar o dinheiro dos ricos. O sistema socialista — disse-me ironicamente um colega jornalista — é ótimo para transformar os ricos em pobres, os pobres em miseráveis e os governantes em milionários…

Melhor ainda disse o Papa Pio XIOs pobres são as maiores vítimas dos embusteiros, que exploram sua miserável condição, para lhes despertar inveja contra os ricos e excitá-los a tomar para si, pela força, aquilo que lhes parece injustamente recusado pela fortuna.1

Límpida declaração que pobres e ricos devem reter, os primeiros para não serem mais iludidos e os segundos para não ficarem pobres.

Não a igualdade utópica, mas a igualdade na miséria


Em seu recente discurso na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, no dia 19 de setembro, Lula da Silva vociferou com características bem apropriadas à extrema-esquerda: “A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade.”2

Com uma concepção muito ultrapassada, o presidente petista parece acreditar que a igualdade é um bem absoluto e ignorar que a desigualdade não é um mal em si. Seria injusto tratar o pobre sem caridade, mas também é injusto tratar diferentes igualmente.

Numa empresa, por exemplo, os funcionários mais dedicados ao trabalho merecem promoções e salários melhores. Se o patrão pagasse a todos igualmente, estaria incentivando a vagabundagem. Esforçar-se e dedicar-se mais para quê, se no final do mês quem trabalhou muito e quem não trabalhou ganhasse o mesmo, os funcionários “encostariam o corpo” e a empresa quebraria.

Isso se poderia dizer também quanto aos alunos de um colégio. Quem estuda mais, merece nota mais alta, evidentemente. É uma desigualdade que incentiva o aprimoramento dos talentos de cada um e torna o mundo mais belo. Imaginemos um mundo onde todas as flores, ou todos os pássaros, fossem iguais… Mil exemplos poderiam ser elencados. Todos ilustrariam que certa pregação da igualdade total, uma utopia marxista, no fundo revela indignação às desigualdades criadas por Deus.

Com a palavra o Papa Leão XIIISubstituindo a providência paterna pela providência do Estado, os socialistas vão contra a justiça natural e quebram os laços da família. Mas, além da injustiça do seu sistema, veem-se bem todas as suas funestas consequências: a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade da nudez, na indigência e na miséria.3

Uma regra que só tem exceções…


Em todos os países de regime comunista ou socialista, os governos se impuseram por meio dos mesmos embustes — promessas demagogas de acabar com as “desigualdades sociais”. E o que sucedeu? A escalada horripilante da miséria, “a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano”…

As nações que foram subjugadas pelo comunismo alcançam, sim, a igualdade, mas à custa de reduzir à pobreza todos os seus habitantes. É a vil igualdade na miséria. Disso é Cuba um exemplo. Apenas neste ano, quase 80 cubanos da ilha-presídio morreram afogados no mar, ao tentarem fugir para os Estados Unidos em balsas improvisadas.

A Venezuela, que virou uma fábrica de pobreza, é outro exemplo patente. Uma quarta parte de sua população não tem sequer alimentação básica. Chávez e Maduro conseguiram um feito inaudito: transformar o país mais próspero da América Latina no mais pobre.

A população da Nicarágua também vai afundando na mesma indigência. E Lula se mostra “muy amigo” dos ditadores desses e de outros países.

Não há desigualdade nos países onde todos são pobres? Sim, há: os mandatários e a Nomenklatura são riquíssimos, gozam de todos os privilégios. Parafraseando o poeta francês Ernest Jaubert, poderíamos dizer: “A igualdade entre os mandatários comunistas é uma regra que só tem exceções”…

No topo do ranking de custos bancados pelo cartão presidencial


Na referida Assembleia, um dos principais órgãos da ONU, o líder petista repetiu indignado que “a desigualdade precisa inspirar indignação”. Então ele se indignaria, por exemplo, com os riquíssimos ditadores cubanos, venezuelanos e nicaraguenses?

Será que Lula está indignado consigo mesmo, uma vez que fica gastando milhões — pagos pelo contribuinte brasileiro — com viagens inúteis, que não acarretam bens ao País, mas que são realizadas para o presidente aparecer na mídia nacional e internacional. Só com cartões corporativos, apenas até agosto último, ele gastou R$ 7,87 milhões — 50% a mais do que Jair Bolsonaro no mesmo período em 2019 (R$ 5,2 milhões, com valores já atualizados pela inflação).

Causa perplexidade ver alguém — que tanto fala em tirar o Brasil do “mapa da fome” — fazer gastos faraônicos usando o cartão presidencial. É inacreditável, mas não é fake. Leiam o artigo de Thiago Resende, publicado pela insuspeita “Folha de S. Paulo” (19-09-23) com o título “Lula gasta mais com cartão corporativo do que Bolsonaro, Temer e Dilma”. Eis algumas linhas do repórter desse jornal em Brasília:

“O presidente Lula (PT) tem gastado mais com cartão corporativo neste terceiro mandato do que Jair Bolsonaro (PL), Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT). O patamar elevado de compras e pagamentos coloca o petista com uma média de gastos recorde. Até agora, foram fechados os extratos de sete meses do cartão corporativo. As despesas, quando somadas, chegaram a um valor próximo de R$ 8 milhões. Esse ritmo leva Lula ao topo do ranking de custos bancados pelo cartão presidencial, acima de Bolsonaro, que já apresentava contas mais altas que os antecessores”.4

Democracia e liberdade de expressão ‘da boca pra fora’


Outro embuste dos governantes comunistas: falam ad nauseam em nome de democracia e da liberdade de expressão. Falação tão desprovida de verdade quanto a de um governo que se vangloriava ser de “paz e amor”. Entretanto, vemo-lo fazer discursos próprios a despertar ressentimentos e indignações, agindo a fim de se desforrar das humilhações sofridas devido aos próprios fracassos.

Fala em “liberdade de expressão”, mas a máquina de seu governo procura amordaçar, ou mesmo encarcerar, pessoas que se manifestam fazendo uso da “liberdade de expressão”.

Obra: "Hypocrite" (2020), por Pavel Filin. Tamanho pequeno com cantos esfumaçados.Fala em democracia, mas apoia ditadores. Recente exemplo disso foi o “salvo-conduto” que Lula da Silva prometeu ao ditador Vladimir Putin, caso venha ao Brasil para participar da reunião do G20 no próximo ano. O petista disse que Putin pode vir tranquilamente, garantindo-lhe que aqui não será preso.

Mesmo sabendo da ordem do Tribunal Penal Internacional de captura do tirano russo devido a crimes de guerra contra a Ucrânia, e que o Brasil é signatário do Estatuto de Roma — tratado internacional que criou o TPI —, Lula infringiria, além desse tratado, a nossa própria Constituição, cujo parágrafo 4º do artigo 5º prescreve: “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional”.

Como o “salvo-conduto” despertou muita repercussão negativa, pois nenhum presidente brasileiro pode passar por cima do direito internacional e da Constituição nacional, Lula tentou retificar o que havia declarado dizendo que a decisão é da Justiça brasileira e que não tinha conhecimento do TPI…

Muito difícil acreditar, pois ele próprio recorreu ao TPI para anular sua prisão em Curitiba e há poucos meses disse que o ex-presidente Bolsonaro “um dia será julgado no tribunal internacional”…

Nem defendeu a Ucrânia, nem condenou a Rússia


No mesmo discurso do dia 19 último na Assembleia da ONU, Lula da Silva, muito de passagem, falou da guerra da Ucrânia, mas sem mostrar, de um lado, que ela foi provocada com a covarde e brutal invasão perpetrada pela Rússia de Putin, e sem defender, de outro lado, os direitos territoriais da Ucrânia.

As palavras do presidente petista, insistindo no pseudo diálogo, foram: “A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo.” O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, evidentemente, não aplaudiu tal discurso.

Eloquente silêncio do povo brasileiro


Graças a Deus, parece que a maioria do povo está percebendo os embustes das falsas promessas petistas. Até recente pesquisa do DataFolha reconhece o descrédito da opinião púbica em relação a Lula da Silva:

“A nova pesquisa do Datafolha mostra que 42% dos eleitores não confiam no que diz o presidente Lula (PT), enquanto 23% sempre o fazem. Já 34% acreditam nele às vezes. Lula tem se destacado, neste terceiro mandato, pela grande verborragia que já marcava suas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto, de 2003 a 2010”.5

Logotipo da Revista CatolicismoSintoma de que o povo não está acreditando nos embustes petistas foi a comemoração — despovoada, sem aplausos e silenciosa — do recente desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Havia muitas autoridades civis e militares e funcionários públicos (convocados pelo governo para preencher as arquibancadas), mas do povão mesmo, quase ninguém. O que havia eram espaços vazios. Mas um vazio que foi percebido de Norte a Sul do Brasil, desfiles sem público, mais semelhantes a cortejos fúnebres.

Basta comparar as fotos para vermos quão diferentes elas foram daquelas tomadas nos multitudinários desfiles do ano passado, com manifestações espontâneas em verde e amarelo por todo o País. Neste ano, além do minguado público, percebiam-se apoiadores do PT não usando as cores pátrias, mas as do partido, inclusive a primeira-dama, trajada de vermelho. Nas arquibancadas, para não ficarem todas avermelhadas, os organizadores distribuíram bandeiras e bonés com as cores da nossa bandeira.

Como o povo está proibido de vaiar, protestar e se manifestar, ele ficou em casa, guardando eloquente silêncio. Donde o adágio francês, “le silence des peuples est la leçon des rois” (o silêncio dos povos é a lição dos reis). É o instrumento de que o povo — a “maioria silenciosa” — dispõe para demonstrar a impopularidade de seu governante e o descontentamento com ele, seja rei ou presidente.


Por Paulo Roberto Campos.
Publicado pela Revista Catolicismo, número 874 de outubro de 2023.


Notas:

  1. Pio XI, Encíclica Divini Redemptoris (1937), Vozes, Petrópolis, p. 31. Subir
  2. “O Globo”, 19 de setembro de 2023. Subir
  3. Encíclica Rerum Novarum (1891), “Documentos Pontifícios”, Vozes, Petrópolis, fascículo 2, 6ª edição (1961), pp. 10-11. Subir
  4.  “Folha de S. Paulo”, 19 de setembro de 2023. Subir
  5. “Folha de S. Paulo”, 15 de setembro de 2023. Subir

Nota da editoria:

Imagem da capa: “Os retirantes” (1944), por Candido Portinarii (1903 – 1962).


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