“Psicanálise é confissão sem absolvição.”
G. K. Chesterton (1874 – 1936)
É profundamente incômoda e triste a experiência de ver um simples jovem cristão, humildemente fiel à sua fé e aos seus valores, geralmente oriundo de família também cristã, rodando em círculos sem jamais encontrar os instrumentos verbais adequados para dar expressão aos seus sentimentos e percepções, não tendo nada além das armadilhas linguísticas do dito marxismo cultural para se reportar ao mundo que o rodeia. Ele se assume cristão, por um lado, mas, por outro, descreve toda a realidade e justifica suas inclinações mais íntimas nos termos da agenda cultural comunoglobalista e do politicamente correto. Ao cabo de algum tempo, até mesmo aquela fé se deteriora, pois nessa cisão entre ato e discurso, o próprio cristianismo se torna de duas uma: ou um conjunto de intuições opacas jamais elaboradas, ou uma coleção de palavras vazias sem quaisquer referências à realidade concreta.
Um bom antídoto contra isso — atendo-se mesmo a este plano da linguagem e da expressão, com tudo o que implica — é a absorção do que há de melhor em dois polos da produção literária, que não raro se entrecruzam maravilhosamente: os grandes clássicos da literatura em geral e os grandes clássicos espirituais. Os primeiros lhe ampliarão imensamente o acervo de recursos linguísticos com os quais se pode captar e descrever as experiências humanas naquilo que tiverem de mais próprio e singular, enquanto estes últimos lhe abrirão para um mundo de homens e mulheres que, munidos desses recursos, registraram os esforços de vidas inteiras em vista de que se mantivessem fiéis a esta mesma fé e conjunto de valores, justamente em situações nas quais tudo — da perseguição às “noites escuras”, da miséria às mais deliciosas tentações do mundo — lhes convidava a soçobrar.
Uma única página da Divina comédia ou dos Pensamentos consoladores de São Francisco de Sales devasta bibliotecas inteiras de Freuds e Foucaults.
Por Daniel Marcondes
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Praying ” (2017), por Dorina Costras.