Os candidatíssimos e os pré-candidatos

Obra: "O combate de Davi e Golias" (1550 e 1555), por Daniele da Volterra (1509 - 1566).

A ciência política começa no instante que Platão e Aristóteles estabelecem a diferença
entre o discurso do agente político e do observador científico. Querm quer que discurse em
nome de um partido, de um grupo ou de uma instituição é, por definição, um agente político.
Olavo de Carvalho (1947 -2022)



Você já ouviu Bolsonaro ou Lula sendo tratados, na mídia ou seja por quem for, como “pré-candidatos” à presidência da República? Nessas reuniões e jantares a R$ 20 mil por pacote de cadeira, garfo, faca e vinho da casa, os convidados só põem a mão no bolso porque sabem que Lula é candidato. Ou alguém acredita que os abnegados e altruístas banqueiros da Av. Faria Lima iriam almoçar com uma pessoa como Lula se ele não fosse candidato sem pré nem pós?

Ora bolas! No entanto, pela lei, pela regra do jogo, todos são igualmente pré, só que uns — no velho padrão nacional — são mais do que outros. A cada pleito, uma multidão de Davis enfrentam os Golias com mandato. Nenhum destes últimos, governador, senador, deputado federal ou estadual é “pré-candidato”. Todos são, naturalmente, candidatíssimos à reeleição em outubro vindouro desde que foram vitoriosos em 2018. Terminou uma campanha, começaram a outra.

Há quase quatro anos trabalham com esse objetivo. Há quase quatro anos, como as noivas prudentes do Evangelho, mantêm acesas suas lamparinas, abastecem-nas com o óleo das emendas parlamentares e com o cotidiano trabalho dos assessores que pastoreiam suas bases eleitorais. Bota campanha aí!

Neste pleito, são a privilegiada minoria. Não lhes recuso o direito à reeleição, nem coloco todos no mesmo saco. Há gente muito boa (e pouca) nos parlamentos e há neles gente nada boa (e muita). Trato, apenas, do desequilíbrio de forças, da assimetria inibidora da renovação que muito apreciaria e que percebo ser expectativa nacional.

Em tese, claro, ninguém é candidato antes do ato da corte eleitoral que o registre nessa condição. Vem daí o “pré”, que vale para uns e não vale para outros, como se sabe, exceto em relação a certos atos típicos de campanha. Contudo, enquanto a dos titulares dura quase quatro anos, a dos aspirantes só começa, mesmo, no dia 16 de agosto. Convenhamos!

Os mateus legisladores cuidam primeiro dos seus.


Por Percival Puggina.
Publicado no website do autor em 6 de julho de 2022.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “O combate de Davi e Golias” (1550 e 1555), por Daniele da Volterra (1509 – 1566).




Confira, neste áudio, alguns comentários do filósofo Olavo de Carvalho sobre política e poder:


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