Que saudade dos bicicleteiros

Cicloativistas (desenho de bicicleta feito em parede e formado por uma mão empunhando símbolo comunista)

Burrice e maldade jamais foram termos antagônicos.”,
Olavo de Carvalho.



Confesso que sinto saudade de quando uma bicicleta era apenas uma bicicleta. Isso antes dos “cicloativistas”.

Já notou como certas pessoas têm a tendência de elevar suas escolhas pessoais a qualidades morais e, a partir daí, julgar o resto do mundo que resolve escolher diferente?

Isso se dá com várias “tribos”, que depois que passaram a ser “urbanas” são sinônimo de cretinice. O sujeito não fuma maconha simplesmente, mas acha que seu jererê automaticamente o transforma em sacerdote de “jah”, sociólogo, criminalista, historiador e especialista em segurança pública.

E assim se dá com os atuais ciclistas. Antes a imagem de uma bicicleta trazia lembranças da infância, de dias ensolarados brincando na praça, de gente bonita e saudável. Hoje até continua igual, mas invariavelmente também surge a imagem do chato, também conhecido como o “ativista da bicicleta”.

Para ele não se trata de um hobby, de uma forma de lazer, da prática de exercícios ou de um meio de transporte, mas de uma bandeira. A bicicleta o transforma num ser superior, alguém engajado, consciente, coletivo, sustentável, urbano, ou seja, chato.

O cara não se contenta em andar de bicicleta, ele quer OBRIGAR todo mundo a andar também. Caso não consiga isso, então passa a desejar que os outros sejam ATRAPALHADOS para que assim SOFRAM por cometer crimes terríveis como andar de carro com ar-condicionado num calor de 40 graus. Como? Ora, exigindo a colocação de ciclofaixas até em ruas residenciais, dentro de condomínios, na careca do avô. Fechando ruas e ainda ficando putos quando alguém reclama do engarrafamento.

– Egoístas! Burgueses! Quem esses coxinhas anti-ciclistas pensam que são para achar que podem circular pelas ruas?

O cretino não se contenta apenas em ter uma bicicleta, precisa também ser “cicloativista”. Anda na contramão, atropela os outros em cima da calçada, não para no sinal vermelho, pensa que ciclovia é velódromo, mas pede “respeito”. Dá até saudade dos bicicleteiros, aqueles que simplesmente andavam de bicicleta e pronto.

Claro que um sistema integrado de ciclovias é totalmente bem vindo e necessário, ainda mais num trânsito boçal como é o brasileiro, mas o que o Maníaco da Ciclofaixa, Fernando Haddad, está fazendo em São Paulo vai além disso. Vias urbanas saturadas, engarrafadas o dia inteiro, perdem meia pista de rolamento para que uma faixa pintada separe aquele espaço para um ciclista que eventualmente vá passar ali em alguma hora do dia, já que muitas dessas faixas ficam desertas o dia inteiro.

O Haddad, aliás, é um sujeito proativo. Se tudo der certo no final do seu mandato todo paulistano terá uma ciclovia no corredor entre a sala e o quarto e um haitiano escondido no banheiro.

Mas voltando.

Cria-se então a curiosa situação onde um assalariado que ganha o mínimo fica preso no engarrafamento na volta para sua casa na periferia, enquanto um pedaço da rua é reservado para o hipster dos Jardins – estudante da USP que usa creme rinse na barba e lancha em food truck gourmet – passar com uma bicicleta desmontável de 3 mil reais usando seu capacete retrô rumo a um sarau de poesia e performance “moderna”. Mas tudo em nome da “justiça social”, claro.

Pobre anda de bicicleta, é lógico, mas o entregador da loja de colchão que leva uma cama king size numa Monark Barra Circular, tomando fechada de ônibus, enquanto carrega o filho na cabeça é bem diferente do sujeito de bermuda colada, cinto de hidratação, banco de gel, luva para não causar calo e uma plaquinha “respeite: um carro a menos”, que geralmente é o mais histérico quando alguém resolve criticar, por exemplo, essa ciclofaixarama – a orgia da ciclofaixa – que acontece em São Paulo.

Porque não se trata de preocupação com mobilidade urbana ou sustentabilidade, mas levantar uma bandeira e, de novo, dividir as pessoas entre os “bonzinhos da bicicleta” e os “malvadões queimadores de gasolina”.

É pegar algo tão simpático quanto uma bicicleta e transformar numa espécie de Luciana Genro com duas rodas. Pentelhos que além de pedir o óbvio, como segurança, espaço, respeito, daqui a pouco vão querer abraços, máquinas da Nespresso a cada 500 metros, o escambau.

Usem essas joças dessas bicicletas, mas esqueçam a “luta de classes” por um segundo e, principalmente, não encham o saco dos outros.




Marcus Vinicius MottaEscrito por Marcus Vinicius Motta.
Publicado originalmente no website: marcusviniciusmotta.com, em 08 de dezembro de 2014.
O domínio associado ao autor (www.marcusviniciusmotta.com) atualmente encontra-se inativo,
no entanto o Instituto Millenium conta com diversos artigos deste autor, para acessá-los clique aqui.


Em adendo, assista vídeo do qual demonstra claramente o conceito exposto pelo autor:


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