A aproximação tipo “Pedro, o Grande”

Obra: "Pedro, O Grande" (1717), do pintor francês Jean-Marc Nattier (1685 - 1766).

Esta postagem refere-se a um excerto da obra
A produção de informações estratégicas”, escrita por Washington Platt.



Todas as atividades humanas têm raízes no passado. O passado, na verdade, é parte do presente. Os estudiosos dos assuntos correntes, que tenham um sentido vívido dos antecedentes históricos das situações atuais, contam com grande vantagem para a compreensão correta.

A consideração do passado pode ser levada a extremos. Exemplo disso oferece o Almirante King, da Marinha dos EUA, que tão importante papel teve nas operações navais da Segunda Guerra Mundial. Convidaram-no a escrever um livro sobre aquelas batalhas navais de que participou, mostrando a base das decisões que tomou com tanto sucesso, em combate. O livro, entretanto, constituiu, na realidade, uma biografia completa do Almirante King, com uma longa descrição de sua instrução na Academia Naval e suas várias comissões ao longo de uma carreira completa. Operações de combate naval ocupam apenas pequena parte do livro e não apresentam a dominância prevista originalmente.1

Perguntado porque destinara tanto espaço aos primeiros anos, ao invés de pôr em destaque os fatores que influenciaram suas decisões em combate, o Almirante, segundo alguém que fez uma apreciação de seu livro, respondeu que tudo em sua vida – toda sua instrução da Academia e sua experiência naval anterior – teve influência em suas decisões finais em combate.

Teoricamente, o Almirante estava certo. Sua declaração, realmente, levanta interessantes questões de psicologia. Na prática, porém, estava errado. Incluiu tantos antecedentes que enfraqueceu o interesse de seu livro.

Gráfico de barras e de linha (apenas ilustração)Quando o tempo do redator é curto, raramente convém destinar muito espaço, num documento de informações, a detalhes de desenvolvimento histórico. Quando o tempo do leitor é limitado, e quase sempre o é, não convém exigir-lhe muita leitura histórica, interessante quanto possa ser. Uma sentença ou duas, para sumariar o antecedente histórico geral, uma declaração de que as tradições sobre que se fundam as presentes atividades chegam a tais pessoas e datas, e uma referência a boas fontes para maiores informações históricas, normalmente, é o que se justifica.

No entanto, há muitos autores para quem é quase impossível iniciar qualquer referência à ciência russa, por exemplo, sem partir de Pedro, o Grande, e percorrer as atividades científicas russas integralmente, do Tzar Pedro até o presente2. Para grande parte da situação atual da ciência russa, um dos fatores, sem dúvida, é a influência de Pedro, o Grande, mas Pedro e todos os seus sucessores não precisam aparecer pessoalmente no texto. Não existe o ponto lógico onde parar, quando se percorre o caminho dos antecedentes históricos, ou dos fundamentos teóricos para um documento. Nenhuma informação jamais pode ser completa a esse respeito. Quem redige uma informação não deve nem tentá-lo. O ponto final para antecedentes e fundamentos é determinado pelo senso comum e não pela lógica.

Devido à falta de tempo, o objetivo do redator deve ser, normalmente, a determinação do mínimo de palavras a usar na apresentação dos pontos mais importantes· dos antecedentes históricos. Alguns analistas ficam tão impressionados com o espírito de Pedro, e de outros interessantes personagens históricos, que terminam economizando a atualidade.


Extraído da obra “A produção de informações estratégicas”,
escrita por Washington Platt.


Notas:

  1. King, Almirante de Esquadra E. J., e Whitehill, W. M., Fleet Admirai King. A Naval Record, New York, Norton, 1952. Subir
  2. Acho que Carl Vecker vai além, dando a Guilhenne, o Conquistador, a posição de ponto de partida em que aqui coloco Pedro, o Grande. Chega a mencionar estudantes que, na descrição da queda de uma administração francesa atual, iniciam o documento pela queda do Império Romano. Subir

Nota da editoria:

Imagem de capa: “Pedro, O Grande” (1717), criada pelo pintor francês Jean-Marc Nattier (1685 – 1766).


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