Alguns dos pensamentos da obra “Manual de Epicteto”, organizada por Arriano

Epicteto

Excertos da obra “Manual de Epicteto

O livro é frequentemente referenciado pelo termo grego para “adaga, punhal, arma portátil, livro

portátil ou manual”, no entanto, “Encheiridion de Epicteto” não foi escrito pelo próprio Epicteto.
Trata-se de um compêndio produzido a partir das palestras do filósofo que foram organizadas
em forma de manual por seu aluno, Arriano.



Se te disserem que alguém, maldosamente, falou coisas terríveis de ti, não te defendas das coisas ditas, mas responde que “Ele desconhece meus outros defeitos, ou não mencionaria somente esses”. Não é necessário ir frequentemente aos espetáculos, mas se surgir uma ocasião propícia, não mostres preocupação com ninguém senão contigo mesmo — isto é: quere que aconteçam somente as coisas que acontecerem e que vença somente o vencedor, pois assim tu não te farás entraves. E abstém-te por completo de gritar, rir de alguém ou comover-te. Uma vez tendo saído do espetáculo, não fales muito sobre o que lá se passou, na medida em que <isso> não leva à tua correção, pois, a partir de tal <ação>, será evidente que admiraste o espetáculo. Nem ao acaso, nem prontamente vás às palestras dos outros, mas se fores, guarda <um caráter> ao mesmo tempo reverente, equilibrado e cordial. Quando fores te encontrar com alguém — sobretudo algum entre os que parecem proeminentes — indaga a ti mesmo o que Sócrates ou Zenão fariam em tais circunstâncias, e não te faltarão meios para agir convenientemente.


Pensamentos documentados entre os aforismos de 33.9 e 33. 12.




É sinal de incapacidade ocupar-se com as coisas do corpo, tal como exercitar-se muito, comer muito, beber muito, evacuar muito, copular muito. É preciso fazer essas coisas como algo secundário: que a atenção seja toda para o pensamento.

Quando alguém te tratar mal ou falar mal desígnio de ti, lembra que ele o faz ou fala pensando que isso lhe é conveniente. Não lhe é possível, então, seguir o que se te afigura, mas o que se lhe afigura, de modo que, se equivocadamente se lhe afigura, aquele que sofre o dano é quem está enganado. Com efeito, se alguém supuser falsa uma proposição conjuntiva verdadeira, não é a proposição conjuntiva que sofre o dano, mas quem se engana. Agindo de acordo com isso, serás gentil com quem te insulta. Diz, pois, em cada uma dessas ocasiões: “Assim lhe parece”.


Pensamentos documentados entre os aforismos de 41 e 42.




Postura e caráter do homem comum: jamais espera benefício ou dano de si mesmo, mas das coisas exteriores. Postura e caráter do filósofo: espera todo benefício e todo dano de si mesmo.

Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo — como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere. Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado . Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como [se fosse] um inimigo traiçoeiro.


Pensamentos documentados entre os aforismos de 48a e 48b2.




Das Capa do Manual de Epicteto: Edição Bilíngue.coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa — em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos — em suma: tudo quanto não seja ação nossa. Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves . As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem. Lembra então que, se pensares livres as coisas escravas por natureza e tuas as de outrem, tu te farás entraves, tu te afligirás, tu te inquietarás, censurarás tanto os deuses como os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é teu, e o que é de outrem, como o é, de outrem, ninguém jamais te constrangerá, ninguém te fará obstáculos, não censurarás ninguém, nem acusarás quem quer que seja, de modo algum agirás constrangido, ninguém te causará dano, não terás inimigos, pois não serás persuadido em relação a nada nocivo. Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade. Então pratica dizer prontamente a toda representação bruta: “És uma representação e de modo algum a coisa que se apresenta”. Em seguida, examina-a e testa-a com essas mesmas regras que possuis, em primeiro lugar e principalmente se é sobre coisas que são encargos nossos ou não. E caso esteja entre as coisas que não sejam encargos nossos, tem à mão que: “Nada é para mim”.


Pensamentos documentados entre os aforismos de 1.1 a 1.5.




As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da desígnio morte — de que ela é terrível — que é terrível! Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa, senão nós mesmos — isto é: as nossas próprias opiniões.

É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.


Pensamentos documentados entre os aforismos de 5a a 5b.




Pequena síntese (e não excerto) criada pela Editoria da Cultura de Fato:


Sobre o Corpo:
Epicteto expõe que devemos evitar cuidados e apegos excessivos, pois ao contrário da mente e da alma ele é passageiro.

Sobre emoções:
É documentado que devemos controlar nossas reações emocionais. O estoico diz que a raiva é uma escolha e pode ser evitada, aliás sobre tal sentimento ele sugere examinar pensamentos e julgamentos para compreender por que sentimos raiva e, então, questionar se essa reação é realmente justificável ou útil.

Sobre adversidades:
O estoico induz a aceitação das adversidades, pois é algo inevitável em nossas vidas. Além do mais diz que devemos utilizá-las como oportunidades para crescimento pessoal.

Sobre autocontrole:
Epicteto diz que devemos nos concentrar apenas no que está dentro de nosso controle direto: opiniões, desejos, aversões e escolhas. O controle de nosso próprio corpo ou tópicos que conduzem a sociedade como um todo não auxiliam no autocontrole.

Sobre a morte:
É descrito que devemos aceitar a morte como algo natural e viver com a consciência deste fim.

Sobre a virtude:
O estoico sugere praticar a virtude (coragem, sabedoria, justiça, temperança e benevolência) em todas as áreas de nossas vidas, pois afirma que é a verdadeira felicidade capaz de oferecer sentido real de realização.


Atente que, nesta pequena síntese, substituímos alguns termos por palavras em voga,
assim, ao pesquisar na obra original, sugerimos substituir palavra como
“diversidade” por “infortúnios” ou “virtude” por “temperança”;


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Epicteto”. Para mais informações, clique aqui.


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