E subirei ao altar de Deus

Obra: "Saturno devorando seu filho" (1636), de Peter Paul Rubens (1577 - 1640)

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois
do mundo, antes eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos odeia.” (Jo 15,18)



I. Paraíso perdido


É possível perceber, no fundo de praticamente toda ação satânica, um componente fundamental – espécie de raiz comum a todas elas –, que é o elemento da inversão (ou subversão).

Esta raiz não poderia mesmo ser outra. Não havendo como separar-se do que é onipresente para combatê-lo desde fora, a mera ideia de “confrontar a Deus” sequer se aplica; àqueles que desejariam poder fazê-lo resta apenas o esforço de perverter, de alguma maneira, a ordem e a estrutura das coisas tal como determinadas por Ele. É claro que também isso não pode jamais ser efetivamente realizado; na verdade, o máximo que se pode obter é um deslocamento do agente em relação a esta ordem, um movimento deliberado do indivíduo na direção contrária à de sua harmonização ou adequação a ela. Mas essa dissonância entre o eu e sua situação se dá apenas no plano lógico, jamais na realidade – no plano digamos ontológico, todo e qualquer acontecimento é a simples realização de uma entre diversas possibilidades, todas elas já garantidas de antemão pelo próprio modo de existência dos entes envolvidos e, portanto, pela própria estrutura geral do ser. Essa ruptura é apenas aparente, e não efetiva. Isso não impede, porém, que legiões de homens devotem suas vidas a ela, nem que destruam, no decurso de seu empenho, gerações inteiras e um sem número de almas.

Se considerarmos o exemplo por excelência desse esforço, veremos que a grande insurreição de Lúcifer não é propriamente contra Deus “per se” – ele sabe que isto não é exatamente possível –, mas contra a ordem e a hierarquia determinadas por Ele. O que Lúcifer não pode aceitar é o fato de não ser ele próprio o topo dessa hierarquia. Não podendo alterá-la no menor detalhe sequer, decide não por conformar-se a ela, não por adequar-se à realidade, mas por comprometer-se definitivamente com sua frustração raivosa: “Better to reign in Hell than serve in Heaven”. Ele sabe que essa hierarquia não pode ser de fato abalada, mas que é possível fazer parecer que o foi. Não por acaso, sua tentação primordial envolve justamente a falsa promessa de concretização do mesmo desejo irrealizável que tanto lhe perturba: “E sereis como deuses”, diz a Eva. O pecado original é, em última análise, o pecado do desejo de subversão da ordem do real.

Como era de se esperar, essa característica serve também de fundamento para a ritualística satanista em geral. Uma interessante ilustração disso nos é dada pelo padre Malachi Martin em seu livro Windswept House, ao descrever um ritual satânico que teria ocorrido no coração do Vaticano em meados da década de 60:

“(…) cada elemento da Celebração do Sacrifício do Calvário precisa ser virado de cabeça para baixo pela outra – e oposta – Celebração. O sagrado deve ser profanado. O profano deve ser adorado. A representação incruenta do Sacrifício do Fraco Inominado [referência blasfema a Nosso Senhor Jesus Cristo] na Cruz deve ser substituída pela suprema e cruenta violação da dignidade do Inominado. A culpa deve ser aceita como inocência. A dor deve causar alegria. Graça, arrependimento e perdão devem ser todos afogados em uma orgia de opostos.”1

“Orgia de opostos” – não há definição mais precisa. Vejam que não se trata ali da mera destruição dos símbolos e ritos da Santa Missa, mas de sua banalização e perversão, de sua substituição por paródias e simulacros cuidadosamente selecionados. Ora, o mesmíssimo expediente pode ser verificado nas estratégias comunistas e globalistas em geral, hoje muito bem representadas nos planos da chamada Nova Ordem Mundial. Aliás, o nome não poderia ser mais apropriado: não se trata exatamente de demolir os pilares da civilização, mas de sequestrá-los e montar, como que por sobre eles, um novo cenário, uma nova imagem do mundo na qual estes não apareçam senão como meras sombras primitivas e ultrapassadas de suas versões subvertidas atualizadas.

Obra: “One of the Family”, por F. G. Cotman (1850 - 1920).Com frequência dizemos que os adeptos desse lamentável mundo novo anseiam avidamente pela destruição da família, do matrimônio, da religião e assim por diante, mas esta é mais uma força de expressão do que uma descrição objetiva da situação. Com efeito, o que vimos nas últimas décadas não foi a proibição do casamento ou algo como sua extinção legal, mas uma pressão ideológica que culminou nas invenções jurídicas do “casamento gay”, casamento a três, casamento com animais e o que mais for possível imaginar; não é tanto a noção da instituição familiar em si o alvo dos maiores ataques, mas apenas a família em sua forma tradicional e, mesmo assim, apenas no caso de algumas famílias, entre as quais a sua e a minha (no caso dos megabilionários e altos oficiais do globalismo, as famílias seguem pautadas pelas mais rígidas hierarquias dinásticas, subsistindo inclusive através de casamentos arranjados); jamais buscaram o fim absoluto da Igreja, mas trataram de criar, a partir de um falso concílio, uma nova doutrina, uma “nova missa” – que atende ironicamente por novus ordo missae – e, consequentemente, uma nova fé. Enfim, o verdadeiro matrimônio, a verdadeira estrutura familiar, a verdadeira Igreja e tudo o mais não foram e nem podem ser efetivamente aniquilados – não por faltar vontade aos seus inimigos, mas porque refletem aspectos da estrutura da realidade tal como ela é. Resta apenas apossar-se de suas aparências, colori-las das mais criativas discrepâncias lógicas em relação a essa estrutura que antes expressavam tão afinadamente e devolvê-las ao público como se ainda se tratasse das mesmas coisas. Nada é verdadeiramente descartado, mas apenas torcido, retorcido, invertido e reapresentado sob as vestes litúrgicas dos novos tempos.

E por falar em liturgia, parece que é justamente sob esta forma que se nos aproxima o Leviatã do controle social total em sua forma mais recente: não tanto exatamente pela opressão de um Estado materialista e cético, como geralmente nos vem à mente, mas por uma espécie de religião civil universal, quase invisível e tanto melhor quanto mais inconsciente, com seus traços principais devidamente usurpados da religião verdadeira. Não teríamos chegado ao presente estado de coisas, porém, sem o nascimento da ciência e filosofia modernas, em cujo seio convivem o mais agudo subjetivismo – inversão por excelência da ordem da realidade – e os mais desvairados pseudomisticismos, todos cinicamente travestidos do mais puritano rigor racionalista.

II. Mythos e logos


O fato de que a época louvada como a mais fértil de conhecimento científico e ápice da “vitória do logos sobre o mythos” seja justamente a mais recheada de superstições e crendices em toda a história humana apenas nos parecerá contraditório ou estranho se observarmos a história dos últimos quatro séculos através das lentes da versão oficial, que, já tão profundamente gravada no imaginário popular, apresenta o advento da chamada ciência moderna como a virada de um mundo de moralismos e fanatismos religiosos, liderado pelos “preconceitos anticientíficos” da Igreja, para um tempo de supremacia da racionalidade e liberdade de pensamento, no qual o homem tem autonomia para investigar o universo e exercer plenamente sua capacidade crítica. Não é a ocasião de demonstrar em detalhes o quão falsa é esta narrativa; basta, por ora, recordar que jamais houve maior explosão de interesse na alquimia, astrologia, todo tipo de magia e misticismos mil como a partir do século XVI, e que os principais cientistas da era moderna, hoje cultuados como heróis da racionalidade pura, foram os maiores bruxos da paróquia. Seja como for, o fato é que, passado algum tempo, os nossos excelsos cientistas, guiados exclusivamente pela luz da razão e baseados estritamente na observação direta e na experimentação, guardiões que são da objetividade contra as ingenuidades supersticiosas, nos brindam com verdadeiros suprassumos de racionalidade, tais como suas discussões sobre vida alienígena, multiversos, viagens no tempo, colonizações galácticas, transferência de consciências, inteligências artificiais, máquinas autoconscientes e assim por diante. Por consequência, como não poderia deixar de ser, o fruto dessa elite pseudocientífica e seu análogo na esfera comum da sociedade é o sujeito que acredita na força do sal grosso, nos banhos de alfazema, na limpeza das “energias”, faz simpatias contra mau olhado, se protege com o Olho Grego, com o Olho de Hórus, faz terapias Reiki, consulta o tarô, o horóscopo, mães de santo, videntes e até o Drauzio Varella, mas estufa o peito e grita, em meio a um choro histérico, em defesa da ciência contra o “negacionismo” alheio, sempre pronto também a desacreditar com ferocidade qualquer centelha de coerência religiosa ou espiritual em geral – tomadas imediatamente como um inaceitável fanatismo – que venha a surgir no discurso de quaisquer de seus penitentes interlocutores.

Anunciando ao público leigo de fiéis servidores um mundo essencialmente material e fechado em si mesmo, ao mesmo tempo em que se deleitam com todo tipo de ocultismos e mandingas, o que a ciência e a filosofia modernas conseguiram, com esse discurso duplo ao melhor estilo das sociedades secretas – e isso não por acaso –, foi deteriorar de tal modo a relação e percepção das pessoas quanto à dimensão espiritual da realidade que estas costumam ou descartá-la in limine, sem o menor exame (e geralmente apavoradas diante da possibilidade de precisar fazê-lo um dia), ou aceitar igualmente sem exame os mais variados pseudomisticismos e superstições, principalmente quando fantasiados, de modo mais ou menos óbvio, de “consensos científicos”. Se algum dia imaginamos que o domínio comunoglobalista viria no aspecto de um ateísmo formal propriamente dito, com o tempo vai parecendo mais claro que a parada final do caminho para a apostasia será menos o não crer em nada do que o crer em tudo.2

Mas esse “crer em tudo” encontra-se naturalmente disperso em uma miríade de símbolos, convicções e organizações diferentes, muitas vezes com pouca ou nenhuma relação entre si. É necessário submeter esse estado de coisas à próxima etapa do processo: depois de esfacelar o senso espiritual e religioso das pessoas, é-lhes oferecida uma reunificação dos fragmentos em um novo edifício, como quem cola novamente os estilhaços de um espelho quebrado. Essa unificação é feita de forma lenta e velada; afinal, o sujeito precisa continuar sentindo que tudo o que faz e pensa é independente, e que segue nadando contra a corrente dos rígidos e opressores sistemas filosóficos e religiosos tradicionais. O princípio do solve et coagula nunca funcionou tão bem.

E assim chegamos ao momento presente, em que essa fase de reunificação parece estar tomando uma forma mais definida debaixo da farsa da pandemia e do esquema de vacinação em massa obrigatória. Se esta forma é definitiva, ou por quanto tempo perdurará até que se mude em uma nova situação global, não sou capaz de dizê-lo e não tenho mesmo tal pretensão – o fundamental traço camaleônico desses movimentos, aliado à facilidade com que hoje dispõem dos corações e comportamentos das pessoas, me impede de alimentá-la. O fato é que os apóstolos atuais da “nova ordem” parecem estar finalmente levando a cabo de modo mais concreto o que seus predecessores, ainda que tendo lançado as fundações necessárias, só puderam vislumbrar: o mergulhar da humanidade em uma espécie de anti-Igreja, igualmente dotada de uma ritualística, iniciação e simbólica próprias (todos estes, é claro, feitos a partir da perversão dos originais). E nada disso teria sido possível sem os “tempos difíceis que estamos vivendo”, para utilizar a jaculatória mais fervorosamente recitada pelos novos fiéis.

Cena do filme "O grande ditador". de Charles Chaplin.Consideremos que um ser humano dotado de funções cognitivas minimamente preservadas venha a crer na existência de uma pandemia cuja causa oficial seja atribuída a um vírus admitidamente jamais isolado e sequenciado, e cuja taxa de mortalidade nas estatísticas oficiais gira em torno de menos de 1%, ainda que criminosamente infladas e permeadas de assassinatos perpetrados pela aplicação de “protocolos de saúde” clamorosamente prejudiciais a pacientes com dificuldades respiratórias, o que deveria ser aberrante para qualquer aluno de primeiro semestre de enfermagem, isso para não mencionar o esforço de se proibir a utilização de medicamentos comprovadamente eficazes, mas que já não podem representar lucros – financeiros ou políticos – para as big pharma e seus coligados; consideremos que, justificada por tão apocalíptico morticínio, seja imposta sobre toda a população mundial uma vacinação obrigatória (não me perguntem como é possível desenvolver testes e uma vacina para um vírus jamais isolado e sequenciado) que não imuniza, não impede a transmissão do suposto vírus e mata ridiculamente mais do que a própria doença contra a qual deveria atuar, sendo responsável por uma nova pandemia: a de “mal súbito”, diagnóstico médico expedido pela grande mídia em casos de morte decorrente da vacinação, esta que não passa de uma terapia gênica experimental (fato primeiramente rechaçado como teoria da conspiração pela mesma classe científica que, dias depois, não podendo mais escondê-lo, tratou de assumi-lo como um maravilhoso avanço tecnológico a serviço da saúde humana), que admitidamente contém células de fetos abortados em seu conteúdo (conteúdo que é segredo de Estado e não pode ser questionado), e que será agora estendida também para as crianças – entre as quais a taxa de mortalidade pelo suposto vírus é virtualmente zero; consideremos ainda os curiosos caprichos do tal vírus, que mais parece dotado de vontade própria: ameaça manifestar-se nas aglomerações das igrejas, exigindo seu fechamento – jamais nas aglomerações dos desfiles de carnaval e casas de reality shows; ataca os que esperam de pé nos restaurantes, mas respeita solenemente os que conseguem sentar-se às mesas; ronda as filas dos aeroportos, exigindo o “distanciamento social”, mas é suficientemente compreensivo para poupar os passageiros quando estes, minutos depois, se espremem dentro do avião como sardinhas enlatadas; por fim, recordemos agora as pessoas que, por medo da “contaminação”, ficaram meses trancadas em casa, recusando o contato com parentes e amigos; as que venderam suas casas na cidade e se mudaram para sítios e chácaras, fugindo daqueles menos de 1% como quem fugisse de Pripyat logo após o acidente em Chernobyl; as que denunciaram reuniões familiares dos vizinhos à polícia, como quem denunciasse grupos de judeus escondidos a oficiais da Schutzstaffel; os casais que dormiram em quartos separados para evitar o “contágio”; as pessoas que utilizaram e ainda utilizam máscaras dentro do carro, sozinhas, com os vidros fechados (máscaras estas absolutamente inúteis no quadro de uma pandemia viral, tal como admitido pela própria OMS no início de toda a farsa, e que jamais foram empregadas com este fim nem mesmo no contexto médico).

Ora, a orgulhosa e comovida submissão pela qual as pessoas se dão voluntariamente a escravizar em um estado de coisas tão flagrantemente violento contra elas próprias não pode ser explicada apenas por sua extrema ignorância, por sua suprema covardia e pela maciça manipulação que sofrem, talvez nem mesmo pela invencível avidez com que buscam a segurança psicológica a qualquer custo. Todos esses elementos estão, sim, presentes, mas há algo mais. Há, no âmago dessa psicose autoinfligida, o desejo de pertencer a essa nova religião universal, cujo deus e princípio se apresenta sob a aparência da “ciência” – não a verdadeira, mas sua forma extorquida e subvertida pelo método já mencionado, convertida em um fetiche, na mera imagem de um desejo, e que apenas graças ao domínio exercido por seus apóstolos sobre a linguagem e o imaginário popular é que pode atender pelo mesmo nome e querer significar a mesma coisa.

III. Introibo ad altare Dei


Você pode admirar o quanto quiser e até mesmo viver sob o guiamento irrestrito dos princípios e mandamentos da nova igreja, mas seu real ingresso apenas se dará através da participação em seus ritos iniciáticos. Não basta defendê-la e engrossar apenas externamente o coro dos adeptos; para ser um membro autêntico deste falso corpo místico é necessário passar pelo batismo da vacinação. A água dá lugar à injeção, e o sacerdote responsável não mais veste a batina preta do luto de quem morreu para o mundo, mas o jaleco branco de iluminação científica. Feito isto, haverá também ocasião, posteriormente, para o rito da confirmação, isto é, o novo crisma administrado através das “doses de reforço”.

Os fiéis leigos têm na máscara ao rosto – e não poderia haver sinal mais apropriado, indicando de um só golpe sua servil uniformidade grupal e a boca tapada – um eficaz artigo de identificação mútua, assim como os cristãos de outrora podiam se reconhecer por um escapulário ou crucifixo à mostra, ou mesmo pela pobreza (e, mais tarde, pela modéstia) dos trajes. E se estes podiam identificar-se por uma saudação própria, como “Salve, Maria!”, basta àqueles o fatídico “soquinho” para asseverar sua filiação.

O diaconato da classe política, ainda que mantendo uma relação intrincada e complexa com os presbíteros da classe médica e científico-acadêmica em geral, no fundo apenas age em função desta última e é determinado por ela. O episcopado divide-se entre aqueles que se reservam às sombras das lúgubres catedrais que são seus escritórios de engenharia social e os que dão as caras publicamente, emprestando seus sorrisos amarelados e cínicos como rosto do movimento e conferindo-lhe seu próprio prestígio social (sempre havendo também os que dominam a arte de transitar por entre esses dois mundos cuja fronteira é cada vez menos visível).

Mas de tudo o que se poderia citar, nada se compara ao cimo do edifício religioso, ato máximo do qual decorre todo o corpo de fé subsequente e que o justifica: o sacrifício. Se os elementos que foram subvertidos estão ancorados em uma fé e um rito cuja razão de ser é o sacrifício por excelência – o de Nosso Senhor no calvário –, de nada valeria apropriar-se deles sem fazê-lo também em relação ao que lhes fundamenta, e é assim que os novos fiéis são convocados a participar da oferta suprema: não recebendo o Corpo e o Sangue do próprio Deus que se sacrifica para salvar os seus filhos, mas, ao contrário, entregando a própria vida para salvar a narrativa digna de sua adoração. Não sendo este cenário trágico o bastante, os novos sacerdotes passam agora para aquelas que, por seu elemento de pureza e inocência, sempre configuraram a vítima perfeita aos olhos dos satanistas. Não foi suficiente que 42% do total de mortes em 2021, ou seja, quase metade das mortes no planeta em um ano, tenha se dado devido ao aborto. Não foi suficiente que singelos quarenta e dois milhões e seiscentos mil bebês tenham sido esquartejados no ventre de suas mães em um único ano. Não – é preciso imolar mais e mais vítimas no altar do deus-sol do século XXI, e isso já começou a ser feito através da vacinação infantil obrigatória.

Enquanto no início de toda Santa Missa, antes de aproximar-se do altar em que mais tarde se repetirá o sacrifício do calvário, o padre recita, alternadamente com os fiéis, o belíssimo salmo 42, anunciando: “Introibo ad altare Dei” – “Subirei ao altar de Deus”, os novos fiéis hoje levantam seus olhos marejados de comoção ao tabernáculo profano de seus senhores e proclamam: “Subiremos ao altar dos homens”. Já não o fazem solitários – levam agora também a seus filhos pela mão, como um Abraão às avessas movido inteiramente pela própria vontade e por motivações absolutamente humanas, e que está longe de vir a ser impedido por seu falso deus no momento derradeiro, mas muito ao contrário.

Mais do que nunca estende-se em nossa frente a necessidade de escolher diante de qual desses dois altares iremos nos prostrar. É impossível fazê-lo a ambos e um terceiro não há. Uma vez tomada a única decisão inteligente, será preciso recordar que “o servo não é maior do que seu senhor” (Jo 13,16): o nosso sacrificado é o próprio Deus, e o nosso Rei veste uma coroa de espinhos; ou aceitamos de uma vez por todas e sem choramingas nossa parcela de autossacrifício nessa história e nos resolvemos a perseverar até o fim (Mt 24,13), independentemente dos resultados mais imediatos e dos caminhos aos quais essa escolha possa nos levar, ou já teremos perdido a batalha de antemão, posto que já teremos perdido a fé, caso em que será mais digno sequer tomar parte nela em primeiro lugar.

Aquele que disse: “Se eles me perseguiram, também vos perseguirão” (Jo 15,20) foi o mesmo que disse: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
Quo vadis?


Escrito por Daniel Marcondes.


Notas:

  1. Martin, Malachi. Windswept House: A Vatican Novel, p. 7. Nova York: Doubleday, 1996. Subir
  2. Refiro-me aqui apenas ao plano digamos externo e “estético” da questão, ou seja, às imagens, símbolos e discursos sob os quais esse domínio comunoglobalista escolhe se apresentar, o qual, a meu ver, segue e continuará seguindo o modelo de um sincretismo ecumenista, e não o do ateísmo clássico. Do ponto de vista da experiência real, porém, ambos são apenas dois modos diferentes de descrever uma mesma situação: todo ateísmo, que só faz rodar em círculos trocando um princípio criador por outro sem jamais resolver o problema, deságua em um “crer em tudo”, e todo sincretismo ou ecumenismo, pela anulação mútua a que submete os princípios envolvidos, é um “não crer em nada”. Subir

Nota da editoria:

Imagem de capa: “Saturno devorando seu filho” (1636), do pintor brabantino Peter Paul Rubens (1577 – 1640).


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