“De tais coisas [o que é belo, sábio, bom e tudo o que é desse tipo], mais do que tudo, as asas da alma são nutridas e crescem, enquanto pela feiura e pela maldade e por todos os contrários negativos são arruinadas e perecem.”
Platão (Fedro, 246 D 6 – E 4)
A grande lástima da pedagogia moderna não reside tanto na vertiginosa queda qualitativa dos conteúdos ensinados — o que já é suficientemente trágico —, mas no priorizá-los em si mesmos, fossem bons ou maus, sobre o fazer germinar, no aluno, o deleite com o próprio ato de conhecer.
Alguém que aprenda desde cedo as maiores porcarias, mas que conserve uma réstia de inclinação ao conhecimento verdadeiro e ao estudo sincero, poderá, e talvez provavelmente será alvo das mais belas conversões intelectuais e espirituais; alguém criado em meio aos mais luminosos conteúdos artísticos, filosóficos e religiosos, mas em quem não tenha sido incutido nenhum amor real e nenhum fervor de busca pelas verdades subjacentes a esses conteúdos, provavelmente passará a vida emulando um personagem tosco, vazio e caricato a representar apenas externamente, e ainda muito mal, um ou outro grupo do qual julgue ser a expressão, mas ao qual se encontra relacionado, na verdade, apenas por uma questão de hábito.
Ou a educação tem por fim último o cultivo dessa harmonia, na alma do aluno, entre o ser e o parecer, ou não é educação nenhuma.
Por Daniel Marcondes.
O autor também está no YouTube e no Telegram.
Notas da editoria:
Imagem de capa: “The severe teacher” (1668), por Jan Steen (1626 – 1679).