Milei e a conversão ao capitalismo

Obra: "Casa Rosada", por Laura Climent.

No livre mercado, todos ganham de acordo com seu valor produtivo ao satisfazer os desejos dos consumidores. Sob a distribuição estatista, todos ganham na proporção da quantia que podem roubar dos produtores.
Murray Rothbard (1926 – 1995)



Participei de programa de rádio em que uma das temáticas abordadas foi referente aos reflexos da vitória de Milei na Argentina.

Confesso que sou mais pessimista do que a grande parte dos liberais. Espero que Milei, com a efetiva implementação de reformas estruturantes, consiga fazer com que a mentalidade peronista — uma mistura de nacional-socialismo com fascismo — tenha, pelo menos, o início de seu fim.

No sonho peronista, o Estado é a fonte provedora pela qual todos tentam viver às custas de todos os outros.

Os inimigos de Milei, são poderosos; todos aqueles que ululam contra o “famigerado” sistema capitalista.

Primeiro devo esclarecer que o “capitalismo” que vemos, por exemplo, na Argentina e no Brasil, está longe de ser, genuinamente, capitalismo, sistema econômico que visa ao lucro, e que se suporta na propriedade privada e nos mercados livres. É o sistema econômico onde ocorre a transformação econômica por meio do processo de destruição criativa, em que empreendedores criam novos produtos ou novas formas de produzir que florescem e suplantam o “antigo”, menos produtivo.

Para que haja incentivos para a geração de inovações, é condição sine qua non que os mercados sejam livres, a fim de prosperar a concorrência.

Qualquer sujeito com quantidade razoável de estudo e discernimento sabe que não há capitalismo sem mercados livres e sem a proteção e o estímulo à propriedade privada.

O que se vê na atualidade — e o que não se vê — é a existência de “empresas capitalistas”, porém, é o Estado grande que dita aos proprietários dos meios de produção, como esses devem utilizá-los.

Como se pode aludir ao capitalismo, quando o que mais se tem, pragmaticamente, são políticas econômicas intervencionistas, que regulam absurdamente, por exemplo, o que se pode comprar e/ou vender, a definição de políticas de preços, o estabelecimento de contratos entre empregadores e empregados? No Brasil, a segurança jurídica não só é lamentável, é vergonhosa.

O intervencionismo estatal é um dos maiores cânceres de países latino-americanos!

Por aí passam a “eleição” de empresas campeãs nacionais, subsídios sem fim, protecionismo comercial, incentivos a um sindicalismo retrógrado, e uma miríade de programas e regulamentos governamentais.

Inexiste liberdade econômica, tanto no Brasil quanto na Argentina, há ainda factualmente monopólios estatais — glorificados pelos mamadores da grande mãe Estado — e, sobretudo, a inexistência da virtude capitalista maior: a concorrência no mercado. Logicamente, é essa que força a adaptação e a melhoria empresarial.

É impressionante — e escandalosa — a retórica e a presença de planos e de estratégias governamentais grandiosas, que entregam mais legislação, e que vão de encontro ao empreendedorismo e a inovação.

Em mercados livres, a soberania do consumidor é quem julga quem deve ter sucesso ou quem deve fracassar nos mercados.

Milei terá um desafio hercúleo pela frente. Terá que baixar dos céus a taxa de inflação e privatizar estatais ineficientes. Mas terá que realizar muito mais do que isso. Precisará desregulamentar os mercados, reduzir impostos, e cortar e reduzir os gastos abissais do governo argentino.

Ele, objetivamente, necessitará dessocializar o país, e romper com o correspondente Estado regulatório, que impede que produtos e serviços sejam comercializados, e que impossibilita as inovações.

Milei demonstra clara ojeriza pelo Estado, prometendo tornar protagonistas os indivíduos e as empresas.

Tanto no país hermano, como aqui, os empreendedores são taxados tais quais sujeitos espertos e exploradores, a la Hobbes.

Milei terá pela frente a missão de inverter tal conotação, limitando o Estado argentino e, precisamente, transformando o empreendedor em um ser visionário, legítimo criador de riqueza.


Escrito por Alex Pipkin, PhD.
Publicado originalmente no website de Percival Puggina, em 11 de dezembro de 2023.


Notas da editoria:

Imagem da capa: “Morning glory”, por Laura Climent.

A Casa Rosada, localizada em Buenos Aires, serve como sede da presidência da República Argentina e está mais associada às atividades oficiais do governo. Por outro lado, a Quinta de Olivos (situada em Olivos, subúrbio de Buenos Aires), é a residência oficial destinada ao presidente argentino.


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