Nação de adolescentes

Crianças pintando o rosto com as cores da bandeira do brasil

Talvez o Brasil já tenha acabado e a gente não tenha se dado conta disso.”,
Paulo Francis (1930 – 1997).



A aprendizagem deve cessar apenas após o último suspiro, nunca antes.

Tenho uma filha de um ano de idade. Quando observo as mudanças que passam em seu comportamento e tudo que ela descobre a cada dia, vejo que quanto mais ela aprende mais ela necessita de mim e de sua mãe para continuar aprendendo. Meu trabalho como educador está apenas começando e daqui a pouco ela irá para a escola para continuar aprendendo. May God help her! Pais e mães são o primeiro estágio do aprendizado, depois vem a escola com complemento da universidade e, aí sim, vem a vida propriamente dita e nessa fase nossa curiosidade deve ser tão aguçada quanto em nossos primeiros anos, pois vidas dependem de nós. É claro que o papel dos pais não se encerra nunca.

Na infância somos curiosos com tudo o que nos cerca e ficamos felizes com cada descoberta, cada passo; cada sentimento novo nos faz cidadãos melhores e os pais devem incentivar a curiosidade e despertar novos prazeres. A adolescência é um período de turbilhões de sentimentos; é a fase da vida em que muitas besteiras são cometidas, algumas irreversíveis. Já não se dá tanto ouvido aos pais. Para fugir dos problemas, o jovem declara que já sabe tudo sobre qualquer coisa, mas no fundo ele não sabe nem mesmo quem é. Admitir essa ignorância é prova de fraqueza perante o grupo – mesmo que todos estejam no mesmo barco. Sendo assim a juventude nunca busca respostas sérias sobre seus problemas. Já a idade adulta é quando temos responsabilidades com outros e principalmente para conosco. É o tempo de voltar a aprender e começar a ensinar. Portanto, é preciso averiguar tudo que nos chega e concordar ou não, e para isso contamos com uma variedade infinita de fontes. Dá trabalho, mas é muito bom aprender, como na infância.

Dessas três fases da vida a que melhor define o intelecto do brasileiro é a adolescência. O pensamento que rege a inteligência nacional é como o de qualquer jovem; já sabem tudo, não se interessam por mais nada e vão de encontro a tudo que não condiz com “seus” pensamentos, chegando mesmo a discriminar os que pensam por si sós. Andam em bandos e reconfortam-se uns com os outros. Os brasileiros foram sistematicamente levados a perder a curiosidade e isso os fez retroceder muito em termos intelectuais. Quanto mais buscamos aprender, mais rápido entendemos diversos assuntos e mais “espaço” temos em nossos cérebros, pois ao contrário de hardwares, não possuímos limites para o acúmulo de informações. É preciso uma constante utilização ou ele atrofia, certo Lula?

No Brasil, aborta-se o processo de aprendizagem. Professores de todos os níveis não incentivam os alunos a pensarem, ao contrário, dão a eles fórmulas – falsas – prontas sobre tudo. Então, quando saem da faculdade se acham conhecedores do mundo e não buscam nada além do que aprenderam em sala de aula. Mas os professores, em sua maioria, não fazem por mal; eles mesmos só alcançam o que ensinam. Não falo das ciências exatas, pois neste campo não há limite, aprende-se tudo que conseguir, ninguém pode enganar os números e sim, do que há de mais sério em termos de matéria escolar, universitária e de vida: História. Deturpam-se as mentes de jovens que no futuro vão engrossar as fileiras da esquerda mundial, gerando mais pobreza e miséria que serão temas de mais aulas enganosas.

É claro que a estratégia da esquerda mundial, alicerçada nas teorias do comunista italiano Antonio Gramsci, foi espetacular, digna de um gênio; mas daí a eliminar por completo a curiosidade de uma nação inteira? Vivemos o cenário dos sonhos de qualquer comunista, uma nação onde 99% dos jornalistas e educadores são adolescentes.

Aqui, a infância acaba cada vez mais cedo, o sexo é liberado e incentivado, as drogas são menos danosas que o cigarro e respeitar os pais é antiquado. Com isso, crianças crescem antes do tempo e para fazer parte do grupo dos adolescentes o mais cedo possível são levadas a falarem sobre temas que desconhecem completamente, portanto, repetem o que ouvem até que aquilo se torne realidade em suas cabeças. A curiosidade infantil é decepada antes que a criança comece a pensar. Poucos brasileiros chegam a idade adulta, intelectualmente falando. Permanecem extasiados na teenage, onde tudo é possível e sonham viver num mundo melhor. Com isso temos muito poucos adultos no Brasil e, os que alcançam a maioridade não são nem sequer ouvidos, quanto mais respeitados. Outra característica da adolescência. O auge da discussão intelectual no Brasil é um menino de 11 anos debatendo com uma senhora de 70 quem será o próximo eliminado no Big Brother Brasil e porquê. Os dois não pensam da mesma forma.

O curioso de tudo é que esse não é o retrato do Brasil; apenas reflete o que o brasileiro pensa e, infelizmente, apenas ao adolescente é permitido pensar e emitir opiniões. Nossa maioria é composta de crianças que querem aprender, trabalham de sol a sol e não têm condições de aprender sozinhas. Coitadas, como faria bem a elas (povo brasileiro) ouvir os poucos adultos de que dispomos. Mas, entre elas e os adultos há a intransponível barreira dos adolescentes e nada chega às crianças sem antes passar e ser deturpado por esse grupo. Política, economia, ética, moral, PAZ, aquecimento global, tudo depende de os adolescentes darem sua versão para que as crianças possam “aprender”, decorar e repetir, e para os adultos darem suas risadas. O tema é muito sério, mas ante a ignorância e a recusa em aprender, é difícil não achar graça, mesmo que o humor seja negro.

Já que não conseguimos passar da adolescência, voltemos à infância, quando podíamos xingar todo mundo, bater, apanhar e jogávamos bola, todos juntos, uma hora depois e sem o menor constrangimento; tínhamos coisas mais importantes a fazer, viver e aprender. O Brasil esqueceu como se aprende. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que minha filha passe da infância, para a adolescência (fase maravilhosa, deixo claro) e siga o caminho normal dos seres humanos, chegando à idade adulta. Nem que para isso tenha que deixar a nação dos adolescentes.


Escrito por Frederico de Paola.
Publicado originalmente por Mídia Sem Máscara, em 19 de fevereiro de 2017.




Em complemento, compreenda quais são as dozes camadas (“fases”) da personalidade, abaixo está anexa a octogésima terceira aula do Curso OnLine de Filosofia (COF), ministrador por Olavo de Carvalho:


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